Complexo de Westbrook

Pedro Henrique Quiste
4theWin
Published in
4 min readNov 27, 2018
Foto: Zach Beeker | OKC Thunder

Entre um jogador que aceita o sistema coletivo da equipe com peças importantes e um jogador que tenta resolver tudo sozinho quando a situação está adversa. Russell Westbrook cabe perfeitamente nessa descrição.

O camisa 0 do Oklahoma City Thunder nunca foi unanimemente admirado na liga, desde a época em que Kevin Durant ainda estava no time. A saída desse, no entanto, deu margem para o surgimento de ainda mais críticas — sendo as principais baseadas na ruim seleção de arremessos, número alto de turnovers e ‘caça às estatísticas’.

A temporada 2016–17 foi a que mais possibilitou essas análises. O elenco era péssimo, com apenas uma ou outra exceção, e os excelentes números e performances de Westbrook conseguiram levar OKC aos playoffs e o suficiente para dá-lo o prêmio de MVP. Não faltaram, porém, partidas com muitas perdas de posse e com baixa eficiência nos chutes. A título de informação, ele teve 35 jogos com 45% ou menos de aproveitamento e 5 ou mais turnovers — mais de um terço das partidas disputadas pelo armador.

A situação começou a mudar no ano passado, com a chegada de Paul George e Carmelo Anthony à equipe. O tempo que a bola ficava na mão de ‘Russ’ diminuiu bastante, o time já tinha bons momentos movimentando a bola e o trabalho coletivo aumentou. Entretanto, à medida que as lesões começaram a acontecer, ficou claro que o camisa 7, vindo do NY Knicks, não agregava ao elenco, e a temporada não rendeu como esperado. O jogo da equipe começou a ficar mais lento, se baseando muito em jogadas ISO, e o ataque se tornou mais ineficiente que na metade inicial.

Foto: Zach Beeker | OKC Thunder photos

Julho de 2018 foi um bom mês para o Oklahoma City Thunder. Graças à permanência de Paul George e a aquisição de Dennis Schröder, se livrando de Carmelo Anthony, a ótima offseason colocou oficialmente o time como um forte candidato na Conferência Oeste.

Ainda havia algumas interrogações pairando sobre a franquia. Billy Donovan conseguiria finalmente ter um bom ano exercendo sua função de técnico? George seria mais decisivo em momentos importantes? Westbrook conseguiria se adaptar a um estilo de jogo cada vez mais coletivo, sem exigir muito do seu hero ball?

Até esse momento, a resposta das duas primeiras perguntas é “sim”. A terceira ainda parece em aberto. O camisa 0 do Thunder passou quase metade dos jogos fora, até aqui, por lesões diferentes — cirurgia no joelho e torção no tornozelo, respectivamente, e por isso ainda há dúvidas de qual a resposta da última.

Foto: Zach Beeker | OKC Thunder

Até agora, a maioria das partidas disputadas por Westbrook tem sido eficientes, sem forçar muito arremessos e criando mais possibilidades para decisão de seus companheiros. As estatísticas provam isso: ele tem tido o melhor aproveitamento de arremessos da carreira (46%) e menos turnovers que nos últimos cinco anos (4.1 por jogo).

A partida contra o Golden State Warriors, que saiu derrotado por 28 pontos, resume bem o que tem sido o comportamento médio do All-Star. Apesar de não ter chutado muito bem, não forçou pra conseguir pontuar — rodou melhor a bola, deu 13 assistências e viu Schröder liderar a equipe em momentos importantes.

Nem tudo são flores, e aí entra o “Complexo de Westbrook”. Apesar de estar jogando bem depois de voltar de sua segunda contusão, ele teve então seu pior jogo na partida contra o Denver Nuggets. Seus arremessos não caíam e, mesmo assim, decidiu tentar o altíssimo número de 12 bolas de três, acertando apenas uma.

Esse é, provavelmente, seu maior problema: a tendência de selecionar arremessos ruins. Apesar de apresentar avanços a cada temporada, acaba tendo “recaídas”, sua vontade de jogar no hero ball supera o sistema montado para a equipe e a chance de isso dar errado não é baixa.

Westbrook parece disposto a tentar mudar essa realidade, no entanto. Como já aconteceu várias vezes após jogos ruins, o camisa 0 ficou até tarde na arena vazia treinando sozinho.

Não há dúvidas da sua importância para OKC, assim como parece óbvio que o melhor para o time é que Westbrook jogue de forma mais coletiva. Caso esse sistema dê certo, o Thunder pode ser um time extremamente perigoso na Conferência Oeste. No entanto, ainda é muito cedo para cravar algo.

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Pedro Henrique Quiste
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Estudante de jornalismo, amante de esporte e política. Twitter: @ph_quiste