12. Maria Lídia Magliani

(Pelotas, 1946 — Rio de Janeiro, 2012)

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54 Artistas Brasileiras
3 min readJul 26, 2019

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O nome de origem italiana pode até enganar. Maria Lídia Magliani, porém, foi a primeira artista negra a se formar na Escola de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1966. Ela, no entanto, não queria ser lembrada assim e muito menos por qualquer discurso feminista. De acordo com a historiadora da arte, Luana Dalmazo, a artista gostaria que crítica ao humano, presente em suas obras, transpasse por todas estas questões. “Imagine, a única aluna negra do Instituto, não queria ganhar destaque por este fato. Queria o respeito e a consideração que as demais alunas tinham e não que sua cor de pele fosse uma diferenciação, para mal ou para bem”, explica a historiadora.

Pensamento, aliás, muito comum entre as artistas que despontaram entre os anos 1960 e 1970. Em vários depoimentos e entrevistas de artistas dessa época, a frase mais repetida é que elas queriam se firmar como artistas independentemente do sexo. Embora o trabalho de muitas explore questões de gênero. Em um depoimento para o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, em 1987, Maria Lídia disse:

“Considero que meu trabalho é bastante aberto à interpretação de cada espectador e que cada um vai encontrar nele ou acrescentar a ele as suas prioridades. Para alguns será mais importante a discussão da linguagem em si. Para outros, a investigação da condição humana.”

Personagem, 1967
Personagem, 1967

Uma visita à 9a Bienal de São Paulo, em 1967, marcou definitivamente o trabalho da artista. Edição ficou marcada como Bienal da Pop Art, pois trouxe obras de Andy Warhol, Edward Rauschenberg, Roy Lichtenstein e outros. Segundo Luana, a partir desse momento, “a paleta de cores e as formas se ampliam, já no final da década de 1960 e se acentuam na década de 1970, ainda que a temática continue a mesma”.

Com o passar dos anos, as figuras humanas dos quadros começam a crescer e ocupar todo espaço das telas, como se o quadrado estivesse pequeno para suportar aqueles corpos. “Minha intenção é fazer a figura sair da tela, se derramar por cima da gente, sufocando”, disse a artista em entrevista ao jornal Correio do Povo.

Mudou-se para São Paulo no anos 1980 — uma época em que a pintura estava em alta no mercado de arte no eixo das capitais paulista e carioca. A mudança marca também o momento em que seu trabalho começa a circular no sistema de arte nacional e também internacional, expondo em cidades como Buenos Aires e Nova York.

Sem título, 1980 e Sem título, 1990

Maria Lídia, além da pintura, explorou outros suportes. Fez ilustrações para jornais, capas de livros e cartazes; criou cenários e figurinos para o teatro. Ao se mudar para Minas Gerais, em 1986, realizou esculturas, usando principalmente papel machê. Nos anos 2000, fixou residência para o Rio de Janeiro, onde morreu, em 2012, após sofrer uma parada cardíaca.

FONTE: Maria Lídia Magliani — uma trajetória possível, de Luana Dalmazo

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