13. Conceição dos Bugres
(Povinho de Santiago, Rio Grande do Sul, 1914 — Campo Grande, Mato Grosso do Sul, 1984)
Conceição Freitas da Silva, considerada uma das maiores expoentes da arte mato-grossense, nasceu no Rio Grande do Sul, mas se tornou a artista Conceição dos Bugres em Mato Grosso.
Sua família fugiu do estado gaúcho devido à perseguição aos índios que aconteceu no início do século 20. o a fama de que no Centro-Oeste haveria terras para morar e se estabelecer, os motivou a migrar para lá.
Como a maioria dos migrantes, Conceição trabalhava na roça e se interessava por artesanato, fazia crochê. Um certo dia, em meados dos anos 1960, estava descansando sentada debaixo de uma árvore, quando viu uma raiz de mandioca por perto. Olhou para a raiz e achou que “tinha cara de gente”. Resolveu dar uma melhorada no que estava vendo. Gostou do resultado e passou a praticar o entalhe em madeira.
Em uma entrevista, a crítica e curadora Aline Figueiredo perguntou à Conceição por que fazia o cocuruto cabeça das esculturas reto. Ela respondeu: “Acho que índio tem a cabeça desse jeito. Só tem que sair desse jeito”. O crítico Miguel Chaia analisa que a artista fazia apenas intervenções mínimas nas toras de madeira para criar as esculturas:
“Conceição desconstrói o cilindro com três gestos-padrão do machadinho na madeira: dois sulcos nas laterais constroem os volumes do pescoço/cabeça/tronco; cortes verticais criam os braços/mãos.”
Segundo a artista, em entrevista ao documentário do cineasta Cândido Alberto da Fonseca sobre ela realizado em 1979, as peças surgiam “todos me olhando, alegre e contente”. Eram como se fossem filhos e batizava cada uma — Joaninha, Mariquinha Chiquinho, Manequinho foram alguns dos nomes que ela deu.
Chamar suas esculturas de bugres e adotar o termo como nome foi uma homenagem que a artista fez a suas origens. Pois as tribos indígenas que moravam no Rio Grande do Sul eram chamados assim pelos colonos, que os expulsavam de suas terras.
Conceição participou de várias exposições regionais e nacionais e da Bienal Nacional de São Paulo de 1974.
FONTES:
CHAIA, Miguel. Conceição dos Bugres: o índio na estética mínima de Conceição. São Paulo: Galeria Estação, 2017.
CONCEIÇÃO dos Bugres. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2019.
