14. Maria Martins

(Campanha, MG, 1894 — Rio de Janeiro, 1973)

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54 Artistas Brasileiras
3 min readAug 8, 2019

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Empoderamento é uma palavra que cai bem à artista Maria Martins. Separada ainda nos 1920, muda-se para Paris com o embaixador Carlos Martins, onde se casam em 1926. Devido à carreira do diplomata, a vida profissional de Maria se desenvolveu principalmente fora do país. Estudou escultura com Oscar Jespers (1887–1970) e com Jacques Lipchitz (1891–1973). No final dos anos 1930, mudou-se para Nova York, onde realizou a sua primeira individual. Foi na ilha de Manhattan em que conheceu o poeta André Breton, que a apresentou aos artistas surrealistas, entre eles, o francês Marcel Duchamp. Sobre suas obras Breton escreveu:

“Maria, e atrás dela — quer dizer, nela — o Brasil maravilhoso onde sobre os mais vastos espaços … paira ainda a asa do irrevelado. A porta imensa apenas entreaberta sobre as regiões virgens onde as forças intocadas, completamente novas, do futuro, se escondem. (…) Ela não deve nada à escultura do passado ou do presente.”

É sabida e muito comentada a relação que Maria teve com Duchamp. Segundo pesquisadores, ela seria a musa de Étant donnés e seu corpo teria servido de molde para a escultura do artista francês. Anteriormente Maria também teria tido um caso com Piet Mondrian. O fato é que muito antes de se comentar sobre relacionamento aberto, a artista e o marido já tinham um acordo parecido.

Esq.: Canto da Noite, 1968; dir.: O impossível, 1945

Embora tivesse seu trabalho já reconhecido nos Estados Unidos, a recepção no país não era das melhores. Aqui artistas e críticos viviam o embate entre abstratos e concretos e não olhavam com bons olhos a obra de Maria Martins, que revelava um forte cunho erótico, porém, pelo viés e olhar feminino, abrindo esse caminho nas artes. Para o crítico Paulo Herkenhoff, a artista fez a escultura mais radical do começo do século 20 no Brasil:

“Ela traz a presença da sexualidade de uma forma absolutamente explícita de uma maneira absolutamente cativante e intrigante”

Iemanjá, sem data

Quando voltou ao Brasil, nos anos 1950, Maria se mostrou uma poderosa articuladora do mundo diplomático das artes, colaborou ativamente na organização das primeiras Bienais Internacionais de São Paulo, ajudando a trazer obras importantes para a exposição. Trabalhou ainda na Fundação do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e na curadoria das obras dos espaços administrativos recém-criados de Brasília. Em 1957, foi nomeada representante brasileira no Congresso da UNESCO, que aconteceu em Nova Déli, na Índia e depois parte para a China. O relato dessas viagens constam em seus livros: Ásia maior: o Planeta China e Ásia maior: Brama, Gandhi, Nehru, de 1961. Trocando a escultura pela escrita, escreveu ainda uma biografia sobre o filósofo Nietzsche, chamada Deuses Malditos I: Nietzsche. Esse trabalho seria uma série de três livros, nos outros dois ela escreveria sobre Rimbaud e Van Gogh.

FONTE: Maria Martins, Escultora dos Trópicos, de Graça Ramos

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