16. Teresinha Soares

(Araxá, Minas Gerais, 1927)

Conversas Projeto
54 Artistas Brasileiras
3 min readMar 9, 2021

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Nascida em Araxá, interior de Minas Gerais, Teresinha Soares foi funcionária pública, professora e chegou a ser a primeira vereadora mulher da sua cidade natal. Tinha uma vida independente e fez até um financiamento comprar a casa própria, algo pouco usual nos anos 1950 para uma mulher. Uma vida que deixou parcialmente para trás ao se casar, com quase trinta anos, com o advogado e jornalista Britaldo Silveira Soares (1920–2015), mudar-se para Belo Horizonte e constituir uma família de cinco filhos.

Teresinha Soares

Assinalar no formulário de matrícula dos filhos, na escola, que o pai tinha ensino superior e a mãe, apenas escola normal, deixava-a insatisfeita. Não queria se sentir menor do que o marido e resolveu, então, estudar letras na Pontifícia Universidade Católica mineira. Mas foi nas viagens de férias com a família para o Rio de Janeiro que encontrou uma nova profissão: as artes visuais.

Em 1967, realizou sua primeira exposição individual na Galeria Guignard, em Belo Horizonte, que, de acordo com o crítico e curador Frederico Morais, exibiu uma série de trabalhos com um estilo ainda não bem definido, mas que demonstrava, com vigor, um dos principais assuntos de sua obra: o erotismo.

“Minha arte é realista precisamente porque condeno os falsos valores de uma sociedade a que pertenço. Realista e erótica, minha arte é como a cruz para o capeta.”

‘Morra Usando as Legítimas Alpargatas’, obra de Teresinha Soares, de 1968

Explorando um figurativo de característica pop, em 1968, Teresinha fez muitas exposições em diversas cidades, como Brasília, São Paulo e Ouro Preto. A artista também se mostrava antenada aos acontecimentos do fatos, trazendo o tema da Guerra do Vietnã (1955–1975) para três pinturas: Marra usando as legítimas sandálias havaianas, Morrem tantos homens e eu aqui sozinha, e Guerra é guerra vamos sambar.

No final da década de 1960, trabalhou a adaptação do seu livro infantil, Luno e Lunika no país do futuro para o teatro. A experiência cênica influenciou diretamente a obra visual da artista. A partir de 1970, Teresinha fez trabalhos que descolavam da parede ocupando também o chão, como é o caso de Ela me deu bola (Camas), de 1970, que incitava a participação do espectador, convidando-o a deitar-se sobre a obra. Na mesma época, começou a realizar perfomances — um exemplo é a encenação Vida, Morte e Ressurreição, que faz sobre a obra Túmulos.

A artista vestida de anjo durante a performances Vida, Morte e Ressurreição

De forma abrupta, Teresinha encerra a carreira em meados da década de 1970 coincidentemente após realizar dois trabalhos de cunho mais político: O circo e a montanha (1973) e O Altar do Sacrifício (1976), em que tocam questões ambientais.

Embora muito questionada sobre sua "aposentadoria" das artes visuais, a artista sempre se esquivou da pergunta. Mas não saiu da vida pública, continuando escrever à algumas crônicas em jornais até os anos 1980.

* Texto baseado no verbete que escrevi para a Enciclopédia do Itaú Cultural

FONTES:

MASP Conversas | Teresinha Soares. São Paulo: Masp, 2017. (1h21min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zTPjYQMG95Y&t. Acesso em: 17 maio 2020.

RIBEIRO, Marília Andrés, ‘Fiz do meu corpo a minha própria arte’. Revista UFMG, Belo Horizonte, v. 19, n. 1–2, p. 130–139, jan./dez. 2012. Disponível em: https://www.ufmg.br/revistaufmg/pdf/REVISTA_19_web_130-139.pdf. Acesso em: 15 maio 2020.

SOARES, Teresinha. Acontecências. 1. ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2017.

SOARES, Teresinha. Quem tem medo de Teresinha Soares? São Paulo: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, 2017. 272 p. Exposição realizada no período de 27 abr. a 06 jul. 2017.

TERESINHA Soares. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa24188/teresinha-soares>. Acesso em: 08 de Mar. 2021. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978–85–7979–060–7

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