17. Judith Lauand

(Pontal, São Paulo, 1922)

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54 Artistas Brasileiras
4 min readApr 5, 2021

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Judith Lauand em seu ateliê, em 2011. Crédito: Folha de S. Paulo

Judith Lauand nasceu em Pontal, interior de São Paulo, em 26 de maio de 1922, mas com apenas um ano, mudou-se para Araraquara. Filha de pai libanês, Jorge Miguel, e mãe síria, Wadia Lauand, o casal teve 12 filhos — nove homens e três mulheres. Em Araraquara, completou os estudos primário e secundário, chegando ao magistério. Já atuava como professora do ensino primário, quando começou a frequentar os cursos livres de arte. Certo dia estava desenhando, quando o mecenas da cidade, o empresário Hélio Morganti, se aproximou e pediu para ver seus desenhos. Detectou o potencial da aluna e pediu para falar com Jorge Miguel para enviá-la para Itália estudar arte. Mas seu pai não autorizou. “Filha dele tinha de estudar em casa”, disse.

Ao levar umas roupas para a costureira, passou em frente à Escola de Belas Artes de Araraquara, sentiu vontade de atravessar a porta. “Entrei e achei uma revolução!” No fim da década de 1940, Judith integrou a primeira turma do curso de artes da Escola de Belas Artes, formando-se em 1950 e participando do Primeiro Salão da instituição, no seguinte, ao lado de Alfredo Volpi (1896–1988), Tarsila do Amaral (1886–1973), Flávio de Carvalho (1899–1973), Aldemir Martins (1922–2006), entre outros. “O ponto mais alto do Salão — excluindo Bonadei e Lazzarini — é Judith Lauand, jovem, culta araraquarense. Apresentou 4 óleos com o título “Composição”. Testemunha o professor Lazzarini: ‘Com talento, já encontrou a própria plástica para expressão de uma personalidade. Sua linguagem revela uma procura de fundo filosófico e social”, noticiou o jornal Correio Paulistano de 4 de novembro de 1951.

C40, Variação em Curvas, 1956

Já trabalhando dentro de uma linha geométrica, é convidada pelo artista Wlademar Cordeiro para participar do grupo Grupo Ruptura. Tratando-se da única mulher a fazer parte de um grupo concretista de São Paulo, é impossível não fazer uma reflexão dentro da perspectiva de gênero. O crítico José Geraldo Vieira em artigo no jornal Folha da Manhã, em 22 de julho de 1954, escreveu:

Geralmente a mulher artista propende para a pintura primitiva, onde episódios da memória infantil e local lhe fornecem temário ingênuo e lírico. A pintora que escolhe o abstracionismo já tem uma consciência despertada por conjecturas cerebrais, pelo conhecimento de uma estética, estando mais às voltas com problemas de forma, criação e invenção do que de analogia e interpretações. É o caso do material apresentado por Judith Lauand em sua exposição.

Nº 237, 1974

A visão do jornalista sobre a inclinação das artistas mulheres para o desenvolvimento de uma arte abstrata ou não demonstra o machismo da crítica de arte da época. Em entrevista ao crítico Hans Ulrich, Lauand diz: “A colocação das linhas era matemática. Era tudo pensado”. Logo, não haveria nada “imprevisível” ou “ingênuo”.

No fim dos anos 1960, Lauand fez uma breve incursão pela arte pop, se apropriando de imagens do cinema e escrevendo sobre elas frases em que trabalhava um jogo de palavras com os termos amor, morte e sofrimento. Nas pinturas, as mulheres aparecem sempre em uma postura desconfortável ou de indiferença em relação à imagem masculina que a cerca. Neste período, também faz uma série de telas em que tece críticas à Guerra do Vietnã e à repressão do Governo Militar brasileiro, que teve início com o golpe de 1964. De acordo com a curadora Aliza Edelman, esses quadros permitem uma leitura feminista. “A inserção de Lauand na dinâmica pop e protofeminista se manifesta em uma série de 1969 que envolve corpos masculinos e femininos em um abraço sufocante, mulheres fumando e títulos evocativos”, escreve Edelman.

À esq., Arte Fria; à dir., Temor à morte, ambas de 1969

Após esse breve retorno à figuração, Lauand volta à abstração geométrica à qual se dedicou na maior parte de sua produção.

FONTES:

JUDITH Lauand. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10308/judith-lauand>. Acesso em: 11 de Set. 2020. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978–85–7979–060–7

EDELMAN, Aliza. DRISCOLL, John. Judith Lauand: Brazilian Modernist, 1950s-2000s. USA: Driscoll Babcock, 2014, p. 14.

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