2. JULIETA DE FRANÇA

(Belém, 1870 — ?)

Conversas Projeto
54 Artistas Brasileiras
2 min readApr 16, 2019

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Julieta de França foi a primeira mulher que participou das aulas de modelo vivo na Escola Nacional de Belas Artes. Ela entrou para a Instituição em 1897, quando essas aulas eram proibidas para mulheres. Pois imagine que escândalo alguém do sexo feminino ver um homem nu (ou mesmo uma mulher nua). Em 1900, Julieta partiu para França para estudar na Académie Julien e no Instituto Rodin.

Quando voltou ao Brasil, em 1907, Julieta propôs ao Governo o monumento público “Glória da República do Brasil”. O que era de praxe para todos os escultores que voltavam de prêmios viagens. Seu projeto, no entanto, foi negado, com a justificativa de que “não satisfazia”.

Inconformada, Julieta voltou à França para pedir pareceres de seu projeto aos seus mestres franceses, entre eles, Auguste Rodin. Segundo Ana Paula Simioni, “tal contenda deve ter sido interpretada, à época, como uma desconsideração para com o júri local, presidido por Rodolfo Bernardelli, o mais importante escultor patrício e também poderoso diretor da ENBA por 25 anos (1890–1915)”.

Desse modo, além de desafiar toda estrutura da instituição, Julieta chocou a comunidade com suas atitudes pouco esperadas por ser uma mulher. Pois ao sexo feminino os atributos “cabíveis” eram “fragilidade” e “recato”. E a escultora se mostrou uma mulher forte, questionadora e que não se intimidava. Contudo a audácia não serviu para que seu projeto fosse executado ficando para sempre na maquete.

Talvez, imaginando que a história esqueceria de suas obras e feitos, a própria artista colecionou tudo que saiu sobre ela nos jornais, fotos, cartas e seus certificados em um caderno intitulado: Souvenirs de ma carrière artistique. Mesmo assim algumas passagens sobre a artista são inconclusivas. Por exemplo, não se sabe a data de sua morte. Ana Paula Simioni conseguiu levantar, porém, que Julieta teve uma filha em 1904, Pandorita de França. Sem registro do nome do pai, a escultora teria sido no início do século XX, como chamamos hoje, de mãe solo.

Fonte: Profissão Artista: pintoras e esculturas acadêmicas brasileiras, de Ana Simone.

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