9. Tarsila do Amaral

(Capivari, SP, 1886-São Paulo, 1973)

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54 Artistas Brasileiras
3 min readJun 7, 2019

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Entre as artistas modernistas, sem dúvidas, a caipirinha de Capivari é a mais célebre. Nascida em uma família da elite cafeeira, Tarsila do Amaral fez seus estudos na Europa e, ao contrário do que muitos pensam, não participou da Semana de 22. Na data, a pintora estava na Europa, estudando pintura acadêmica e esperando a anulação do seu primeiro casamento. Sim, ainda na década de 20, Tarsila já era uma mulher separada.

Quando voltou para o Brasil, em meados de 1922, conheceu os modernistas. E muito influenciada pela turma e principalmente por Oswald de Andrade, com que se casou poucos anos depois, fez obras com traços mais modernos. Viajou para França, em 1923, onde teve aula com o pintor Fernand Léger e embarcou na estética cubista. De volta ao país, em uma viagem com o poeta Blaise Cendrars para Minas Gerais, contou que:

Encontrei em Minas as cores que adorava em criança. Ensinaram-me depois que eram feias e caipiras. Mas depois vinguei-me da opressão, passando-as para as minhas telas: o azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante

Essas cores estão presentes nas obras da fase Pau Brasil, em que Tarsila pintou os temas nacionais. As célebres telas de Abaporu e Antropofagia marcaram a nova fase em que a pintora deu vazão às imagens de seu inconsciente. O momento marca também o fim de seu casamento com Oswald.

O pescador, Abaporu e Operários

Na década de 1930, Tarsila se dedicou aos temas sociais e pintou telas como Operários e Segunda Classe. Depois, voltou aos temas nacionais, mas sem as mesmas cores extravagantes. Com uma exceção: Batizado de Macunaíma, de 1956. Um enorme painel de 132,5x250 cm, em que o herói sem nenhum caráter brilha vermelho entre os índios numa mata verde cantante.

O Batizado de Macunaíma

Tarsila ainda teve mais dois relacionamentos sérios: com o médico Osório César, com quem viajou para a Rússia; e Luiz Martins, 21 anos mais novo e com quem viveu mais tempo, 18 anos. A pintora não se dobrou às convenções. E teve sorte de ter uma família que não quis esconder a mulher a frente do tempo que foi e ajudou a promover sua obra. Seus sobrinhos — pois sua única filha, Dulce, e a única neta, Beatriz, morreram antes dela — trabalharam para promover o legado da tia. Estampando o trabalho de Tarsila em perfumes, capa de cadernos, chinelo havaiana e assim perpetuando a memória da caipirinha de Capivari no imaginário brasileiro.

Fonte: Tarsila do Amaral — Sua obra e seu tempo, Aracy Amaral

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