7. ANITA MALFATTI
(São Paulo, 2 de dezembro de 1889 — São Paulo, 6 de novembro de 1964)
A menina, que nasceu com uma deformação na mão direita, soube como ninguém superar as dificuldades e ser uma excelente pintora canhota. Embora o destino para as mulheres nascidas no século 18 estivesse traçado: casar e ter filhos, Anita Malfatti, aos 13 anos, queria algo mais quando se enfiou entre os dormentes do trem para tentar descobrir que rumo tomaria na vida.
“Eu vi as cores riscando o espaço. Cores que eu desejaria fixar para sempre na retina assombrada”
Após a experiência, decidiu que seria pintora. Com a ajuda de um tio, foi para a Alemanha estudar artes. Lá, mais uma vez, ficou impressionada com a cor. Mas dessa vez com as do pintor alemão Lovis Corinth, que se tornou seu professor. Cores que Anita iria usar bem no Homem Amarelo, na Mulher de Cabelos Verdes, em paisagens como O Farol. De volta ao Brasil, fez uma primeira exposição em 1914, onde apresentou alguns esboços do que mostraria três anos mais tarde.
“Quando cheguei mamãe me contou da visita de um tal Guido Garotti, que se interessou muito pelos meus desenhos e falou repetidas vezes que parecia mais trabalho de homem do que de uma ‘signorina’.”
Depois de uma temporada nos EUA, Anita expõe novamente seus trabalhos. Agora com as pinturas prontas dos esboços que tinha apresentado anos antes. Foi a festa da cor, que a princípio agradou. Vendeu alguns quadros. Mas bastou uma pessoa não aprovar para que os quadros vendidos fossem devolvidos. Essa pessoa foi o escritor Monteiro Lobato.
Embora Lobato reconhecesse que Anita era uma pintora de qualidades, desaprovou as cores ousadas, a estética moderna e — eu arrisco a dizer — a ausência de temas nacionais. Pois o escritor era acima de tudo um nacionalista e apreciador dos quadros com cenas do interior de Almeida Jr.
A exposição ficou marcada e o nome da Anita na história. Hoje, é difícil encontrar alguém que concorde com as palavras do autor do Sítio do Picapau Amarelo sobre o trabalho da pintora. O tempo fez justiça com a artista que deu o pontapé para o início do modernismo do Brasil.
Uns dizem que após o artigo de Lobato, o trabalho de Anita arrefeceu, outros, que a pintora já caminhava em direção a uma arte mais branda, em busca de uma estética diferente do Expressionismo que a revelou. O fato é: após a exposição, os artistas se despertaram para uma nova estética. A elite paulistana queria se mostrar moderna. E cinco anos depois aconteceria a Semana de Arte Moderna de 22. Obrigada, Anita!
Fonte: Anita Marlfatti, no tempo e no espaço, de Marta Rossetti Batista