15. MÁRCIA X

(Rio de Janeiro, 1959–2005)

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54 Artistas Brasileiras
4 min readFeb 2, 2021

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Ao contrário dos amigos de sua geração, Marcia Pinheiro de Oliveira não se rendeu ao canto da pintura, que encantou vários jovens artistas dos anos 1980. Frequentava as aulas de arte da Escola do Parque Lage quando começou a desenvolver suas pesquisas com performances. Logo no início da carreira, participou do 3º Salão Nacional das Artes Plásticas, levando o Prêmio de Viagem ao País, com a performance “Cozinhar-te”, que desenvolveu com o grupo Cuidado com a Louça. A proposta da ação era a ativação de uma cozinha como espaço de preparar “comidas — idéias — fomes”. De acordo com a própria artista, nesta época, estava interessada em “questionar, através do humor e do estranhamento, o papel do artista e da arte na sociedade’’.

Márcia adotou o pseudônimo “Márcia X” depois de uma desavença com a estilista homônima, Márcia Pinheiro. Durante a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, em 1985, a artista realizou a performance Sex Manisse, em parceria com o poeta Alex Hamburguer, em que vestia o que batizou de “não roupas” — uma capa preta e outra transparente sem nada por baixo — e despia-se até ficar nua. A estilista homônima não gostou da obra, dizendo que trabalhava para vestir e não despir pessoas, então a artista que tratasse de procurar um outro nome. Assim Márcia fez, trocando o sobrenome Pinheiro por X.

No texto “Tornar Visível”, de 1992, a artista escreveu:

“agir com precisão de uma bomba teleguiada para aniquilar esta confusão meleca de sofrimento,

anunciar a opção, o caminho a ser tomado, a direção, o ponto alvo, o X da questão.”

da série Fabrica Fallus

Nos anos 1990, desenvolveu alguns de seus trabalhos mais polêmicos, cuja estratégia, em suas palavras, era “transformar objetos pornográficos em objetos infantis e objetos infantis em objetos pornográficos, fundindo elementos que estão situados por convenções sociais e códigos morais em posições antagônicas”. Fazem parte desta série as instalações “Fábrica Fallus” e “Kaminhas Sutrinhas”.

No início dos anos 2000, Márcia continuou realizando trabalhos com teor erótico, mas dessa vez focando no corpo e papel feminino. Em “Desenhando com terços” (2000–2003), vestida com uma camisola branca comprida, em um processo meditativo como se estivesse rezando um rosário, Márcia desenhava, com terços, pênis no chão, como ato infantil de desenhar pintos em portas e cadeira de escola. Assim que o espaço ficava totalmente ocupado com os terços, o conjunto forma um desejo quase abstrato que lembrava uma renda. Esse é um dos trabalhos mais polêmicos da artista, que sofreu tentativas de censura nas vezes em que foi realizado.

Desenhando com terços

Em “Pancake” (2001), o nome já faz uma relação com a maquiagem e rituais de beleza femininos. A artistava fica em pé dentro de uma bacia e despejava sobre si latas enormes de leite condensado de 2,5 kg. Para furar cada uma das latas, Márcia usava uma marreta e um ponteiro, ferramentas da construção civil, para violar as latas e despejar o conteúdo viçoso. Em vídeos da performance, pode-se ouvir espectadores dizendo: “hummm, que delícia”, “quero um pouco”. O doce despertava nas pessoas o desejo. Mas o excesso do doce parecia sufocar. Assim que terminava de despejar todas as latas sobre si, a artista ficava toda coberta como se fosse uma escultura em cera. Ao final, despeja sobre si 7kg de confeitos coloridos.

Pancake (2001)

Márcia morreu em 2005, aos 45 anos, em decorrência de um câncer de pulmão, deixando uma obra que continua atual até hoje.

FONTE: www.marciax.art.br

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