O Azul Indiferente do Céu.

Quadrinho que estava esgotado, recebe reimpressão pela Editora Mino.

Francisco José Souto Leite, ou Shiko, é um quadrinista brasileiro de mão cheia e cada obra dele é, de fato, uma obra de arte em sua totalidade. Tive o prazer conhecê-lo na FiQ de 2018 e consegui garantir o último exemplar de O Azul Indiferente do Céu no estande da Editora Mino. Shiko já desenhou uma história para a Maurício de Sousa Produções, mais especificamente no selo MSP. Piteco – Ingá rendeu o prêmio HQ Mix de melhor desenhista nacional e melhor publicação de aventura/terror/ficção.

Além de Piteco, Shiko lançou pela Mino Lavagem, quadrinho que foi adaptado de um curta de mesmo nome. Esse curta está disponível na íntegra e vou deixar ele aqui, vale muito a pena assistir. As atuações estão ótimas e a direção é muito boa. Atenção, o curta contém cenas fortes, então não recomendo para menores de 18 anos.

O Azul Indiferente do Céu se passa na Colômbia em 1987. O quadrinho é baseado em fatos reais e conta a história Héctor Abad Gómez, presidente da comissão de direitos humanos na Colômbia. Héctor foi assassinado antes que sua matéria fosse publicada nos jornais. A matéria tinha como título A Vida de um Homem Não Vale Mais que Oito Dólares e Shiko resolveu mostrar como tudo isso aconteceu.

A arte desse quadrinho é perfeita, acho difícil que algum trabalho do Shiko seja feia ou desleixada. A história tem uma condução fluida e se assemelha com filmes documentais. Tem alguns recursos narrativos que eu achei brilhante. Um deles foi a forma como ele faz a transição entre uma cena e a revelação manual de uma fotografia e a outra foi a rima visual que ele faz entre uma arma e as engrenagens de uma impressora.

“Em tempos de perseguição e assassinato de jornalistas e ativistas de direitos humanos O AZUL INDIFERENTE DO CÉU volta atual como sempre.” -Shiko.

Mesmo o quadrinho sendo curto e quase sem diálogos, a história consegue se mais atual que nunca, principalmente em solo brasileiro. Tivemos o recentemente assassinato de Marielle Franco, vereadora que defendia os direitos humanos. Vemos até hoje uma comoção, seja para escarnecer ou para lutar em favor da vereadora. Além de Marielle, podemos citar Tim Lopes que morreu fazendo o seu trabalho como jornalista. É curioso, como o autor falou, a perseguição que está recorrente hoje em dia, parece que se você pensar diferente, está automaticamente errado e merece ser rechaçado por isso. Essas e outros fatores fazem esse quadrinho ser assustadoramente atual.

O Azul Indiferente do Céu é um quadrinho indispensável para quem gosta da nona arte e para os amantes de história. Mesmo que o autor coloque algumas liberdade poéticas, o quadrinho continua baseado na realidade e poucas coisas são alteradas. A arte é linda e certamente essa história vai te comover.