O mito do Superman revisitado.

João Pedro Mendes Pereira
9quadros
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5 min readApr 2, 2018
You are who you choose to be.

Em 1938 era publicada a primeira revista contendo o Superman na capa e isso foi uma grande mudança em todas a indústrias de entretenimento. Depois da Action Comics #1 surgia uma demanda de super seres que pudessem emular o sucesso comercial da revista com esse personagem fascinante que era um alienígena que vem para a terra por conta da extinção de seu planeta natal Krypton. Seu pai em uma última manobra desesperada manda seu recém-nascido filho para um planeta chamado terra para ele tentar sobreviver aqui e manter as raízes de Krypton vivas dentro dele.
O mais interessante do mito do Superman é como um alienígena consegue fazer mais coisas para a humanidade do que os próprios humanos. Claro que os poderes ajudam bastante mas o que vem depois dos poderes? O que mais me fascina no personagem é justamente o que vem depois do ‘super’, os poderes qualquer um pode ter, basta o roteirista querer, mas ele tem carisma, tem um amor sem igual pela humanidade e pelos seres vivos, tem uma sabedoria tremenda, ou seja, ele é quase a personificação de uma pessoa perfeita com o adicional dos poderes. Por algum tempo essas características foram se mantendo intactas e com as constantes reformulações e adaptações para outros meios (filmes, séries, animações) algumas delas foram se perdendo e isso é bem natural, afinal, os argumentos que funcionavam lá em 1938 já não funcionam hoje em dia.

Tivemos em 1978 a melhor adaptação do personagem para os cinemas. Dirigido por Richard Donner e estrelado pelo próprio Superman Christopher Reeve, estreava Superman: The Movie. Acredito que nos cinemas foi a única obra que realmente colocou nas telas o que o personagem realmente era, depois dele tiveram tentativas de sequências e nenhuma conseguiu superar o primeiro filme (eu incluo todos os filmes que tiveram depois até o mais recente Liga da Justiça). Não querendo chutar cachorro morto mas já chutando, esses filmes desde o Man of Steel são as piores versões do Superman que eu já vi na vida. Eu nunca vi o personagem tão descaracterizado, talvez tenha visto nos quadrinhos/videogames chamado Injustice mas esses são considerados elseworld (quadrinhos que são em realidades paralelas e que não contam na cronologia regular). Tá, o tempo desses filmes já passaram e eu não quero ficar falando o motivo pelo qual eles são horrorosos, voltando ao texto…

O cinema de heróis modernos estão cada vez menos super-heroicos e me parece que ninguém percebe isso. Desde Spider Man 2 dirigido por Sam Raimi eu não me lembro de ver mais uma figura de herói, aquela cena do Peter parando o trem com sua própria força é o máximo que eu consigo lembrar. Foi ali que o pequeno João Pedro ficou feliz e soube o que é realmente ser um herói, para ser herói você não precisa combater vilões gigantescos com poderes enormes, basta você ter o mínimo de empatia para salvar as pessoas que realmente necessitam dos seus poderes. E eu englobo todos os filmes de heróis tanto do MCU e do DCU, nenhuma atitude teve tanto peso quanto essa cena do trem. Os heróis hoje em dia estão preocupados em tentar arranjar um jeito de se encaixarem em uma mega saga como veremos agora em Avengers: Infinity War. Hoje a indústria não cria heróis e sim peões que muita das vezes em seus filmes solos são medíocres e pouco se importam para o ser humano. Resumindo: o mito do herói clássico é inexistente hoje em dia. Não vou negar que eu gosto de ver esses filmes, afinal, eu cresci lendo eles e seria hipocrisia falar que eu não gosto mas tenho que admitir que a indústria está automatizando os filmes do gênero. Os filmes que mais se destacam são aqueles que não se enquadram nestes parâmetros. Logan, Captain America: Winter Soldier, Batman The Dark Knight são filmes heróis que fogem das fórmulas da indústria e se consolidaram como bons filmes mas nenhum deles mostrou um herói como em Superman: The Movie ou Spider Man 2.

Que cena ❤

Aonde eu quero chegar com isso? Muitos filmes eu só tive a oportunidade de ver depois de velho, muito deles se provaram ruins e superestimados e outros se provaram uma verdadeira obra-prima. Ontem foi o dia de assistir pela primeira vez The Iron Giant e eu pude comprovar o quão bom este filme é.
Ele acerta onde todos os filmes do gênero falham: ele é simples. Ele não precisa ter um motivo gigantesco para salvar o universo, ele só precisa gostar de um menino ao ponto de se sacrificar por ele e por sua cidade.
A sinopse básica é: Na época da guerra fria e da corrida espacial, um robô gigante vem do espaço e acaba caindo na terra. Ninguém sabe o que ele é e inclusive o mesmo não se lembra donde veio ou qual o propósito de sua existência. Um menininho chamado Hogarth acaba achando ele e acaba criando um laço forte com o robô, tentando de qualquer maneira não revelar sua existência para o governo dos EUA, que se soubessem de sua existência iriam achar que ele é um infiltrado ou uma arma do inimigo e consequentemente exterminar o pobre do robô bondoso.

A história é terrivelmente simples, direta e humana. Ela resgata com maestria o mito do Superman e mostra que tem como sim fazer filmes onde os heróis são realmente heróis. Eu fiquei feliz de ver esse filme, por mais atrasado que eu esteja, ele me deu uma esperança para o futuro e me passou uma mensagem boa e palpável, coisa que eu não vejo mais no cinema. Talvez eu tenha visto um pouco disso em Os Incríveis e fiquei muito mais feliz quando soube que o diretor Brad Bird é o mesmo diretor de ambos os filmes e 14 anos depois teremos a tão sonhada sequência de Os Incríveis. Artisticamente falando a animação é impecável e depois de terminar de ver ela eu senti a necessidade de escrever esse texto.

Quem diria que um Robô Gigante de 1999 poderia dar uma aula de como ser herói para uma avalanche de filmes que vieram depois dele, não é mesmo? Os heróis necessitam resgatar o verdadeiro motivo de sua existência: trazer conforto e inspiração ao mundo real por meio de ações e consequentemente criar pessoas melhores por meio da fantasia, só basta aos escritores e artistas uma coisa: querer.

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Um lugar onde a nona e a sétima arte se encontram. Críticas de filmes, resenhas de quadrinhos e de tudo um pouco. O limite é não ter limites.

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Written by João Pedro Mendes Pereira

Leitor compulsivo de quadrinhos, amante de filmes, louco por música e ainda escrevo esses textos aí.