Shazam! E a Sociedade dos Monstros.

João Pedro Mendes Pereira
9quadros
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5 min readApr 5, 2019

Quadrinho escrito e desenhado por Jeff Smith recebe reimpressão pela Editora Panini.

O filme do personagem estreia hoje no dia 04 de de abril de 2019 e por conta disso resolvi resenhar um dos melhores quadrinhos do personagem. A história de publicação aqui no Brasil não é lá das melhores, saiu poucas coisas do personagem, mas por conta do filme a tendência é que mais publicações cheguem até o Brasil.

Jeff Smith.

Antes de adentrar na resenha propriamente dita, preciso falar de um fator determinante na qualidade deste quadrinho: Jeff Smith. O autor recebe muitas influências de nomes como Charles Schulz (Snoopy), Carl Barks (Tio Patinhas) e Walt Kelly. Ele tinha o sonho de contar as histórias desses escritores de uma forma diferente das tiras que continham pequenas histórias. Ele queria fazer algo no nível de Guerra e Paz ou da Odisseia, pensando nisso ele começou a escrever, desenhar e publicar de maneira independente os seus quadrinhos. Bone é um quadrinho que traz histórias de aventura, humor, drama e é considerada uma das melhores histórias já produzidas. Ela foi publicada originalmente de 1991 à 2004. Esse quadrinho custou a sair no Brasil, ela já foi cancelada uma vez, mas felizmente a Editora Todavia retomou a publicação e na data de publicação deste texto tem dois volumes disponíveis no mercado.
Muito do estilo artístico do autor vem da sua experiência com animação. Ele foi animador e fundador do estúdio Character Builders Inc., estúdio esse fundado na época da sua faculdade com mais dois amigos. Com toda essa bagagem, Jeff começou a escrever essa história do Shazam antes mesmo de terminar Bone. O personagem é um dos preferidos do autor e a obra demorou quatro anos para ser concluída.

Aqui vemos uma história de origem onde o pequeno Billy Batson é um órfão que mora em um local bem ruim e só vive ali para não ter que ir para o orfanato, lugar que ele odeia. Por várias vezes ele é roubado por um cara que leva todo seu dinheiro, dinheiro esse que o personagem junta religiosamente ao ajudar seu amigo morador de rua . Billy avista uma figura que ele acha que é seu pai, ele segue a pessoa pelo metrô e acaba indo parar em um lugar diferente. Lá nós vemos o mago que ensina Billy a proferir a palavra mágica para se transformar no grande Shazam.

Mesmo sendo uma história bem simples de origem, ela consegue ser bem contada e livre de amarras cronológicas. Essa história não tem nenhum vínculo com o universo regular da DC Comics e eu acho isso fantástico, justamente por dar carta branca para o artista fazer o que vier na mente. O quadrinho resgata muito bem o sentimento infantil das primeiras tiras do personagem, lá da época em que o personagem pertencia à finada Fawcett Comics.

“Carisma. Aí está uma qualidade que poucos quadrinhos têm hoje em dia. Embora a raiz das HQS esteja em grande parte no entretenimento para jovens, tal mídia evoluiu a ponto de hoje renegar suas origens. Apesar do teor adulto da maioria dos quadrinhos de super-heróis modernos, eles ainda são, em sua base, histórias sobre seres humanos mágicos vestidos em roupas coloridas, que realizam feitos impossíveis.”

Alex Ross na introdução desse encadernado.

Essa frase do Alex Ross define bem a história. Acho que o mercado de quadrinhos sofre bastante com a necessidade de fazer histórias com conteúdo adulto, mas esquecem dos tempos áureos dos super heróis, onde tudo era para entreter e inspirar. Isso é uma tendência clara pós Cavaleiro das Trevas e Watchmen, me impressiona o quanto essas obras ditam regras até hoje. Elas são excelentes, não me entenda mal, mas a necessidade de replicar o conteúdo adulto delas é meio desnecessário. Isso é repassado também para os filmes de heróis. Alguns deles saem desse escopo, felizmente o filme do Shazam parece ir por esse caminho menos sombrio e mais infantil.

Eu sou fã, quero piadas!

Eu adoro como o Jeff conduz a história de um jeito leve que lembra bastante filmes da sessão da tarde, como por exemplo Os Gonnies (1985) ou Esqueceram de mim (1990). A história flui bastante e os diálogos são ótimos, alguns deles são destinados para crianças, mas alguns possuem uma ambiguidade que só os adultos vão entender, bem no estilo chaves de diálogo. O roteiro é viajado e lembra bastante histórias que as crianças costumam contar, aquelas histórias que começam de um jeito comum e aos poucos vão se tornando extremamente viajadas. O número de quadros por página varia bastante, algumas artes preenchem uma página toda, mas nenhum momento a revista fica cansativa de ler e muito disso é resultado do talento do autor.

A arte do Jeff Smith pode incomodar algumas pessoas, mas particularmente eu adoro. Enquanto as revistas do Batman possuem artes mais sérias e sombrias, Smith vai na contra-mão disso e cria uma arte única para a história. As cores são utilizadas de forma inteligente para remeter ao público alvo do quadrinho: as crianças. Tudo é muito chamativo e espalhafatoso. Alguns personagens possuem sua anatomia não convencional para provocar risada do leitor, inclusive, eu ri bastante ao ler pela segunda vez essa história.

Infelizmente esse quadrinho não foi utilizado como base para o filme. O quadrinho que serviu de inspiração é o Shazam dos novos 52, que é uma das poucas coisas boas dessa reformulação da editora. Aqui no Brasil essa história ficou com o título de “Shazam! Com Uma Palavra Mágica…”. Incrivelmente essa história é a única do personagem em todo o arco dos novos 52 e só agora no DC Renascimento que o herói recebeu sua revista solo, muito por conta do filme. A revista já começou a ser publicada lá fora e aqui começará a sair ainda no primeiro semestre desse ano. A publicação será bimestral e terá mais de 40 páginas por edição.

Novos 52 e Renascimento.

Shazam! E a Sociedade dos Monstros é uma das melhores coisas já feitas com o personagem e eu considero uma grande história dos quadrinhos em geral. Recomendo bastante a leitura dessa obra e aguardem minha crítica sobre o filme deste personagem incrível.

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João Pedro Mendes Pereira
9quadros

Leitor compulsivo de quadrinhos, amante de filmes, louco por música e ainda escrevo esses textos aí.