Paz, Pão e Terra — A História do País dos Sovietes 1917–1989

Um Marxista
35 min readFeb 5, 2018

De Outubro ao início da Guerra Civil (1917–1918)

Em 26 de outubro de 1917, do calendário juliano (7 de novembro, em nosso calendário georgiano), operários e camponeses, guiados pelo Partido Bolchevique (antigo Partido Operário Social Democrata Russo) insurgiram contra o Palácio de Inverno do antigo Czar, onde se refugiava o governo de Kerensky e os Mencheviques. Após algumas horas de luta, foi implantada a mais longa Ditadura do Proletariado da história da humanidade. Disse Vladimir Lênin, dirigente do Partido, em discurso no II Congresso do Sovietes:

«Apoiando-se na vontade da imensa maioria dos operários, soldados e camponeses e na insurreição triunfante levada a cabo pelos operários e a guarnição de Petrogrado, o Congresso toma em suas mãos o Poder» (LÊNIN Apud PCUS, 1938)

Pela primeira vez na história da Rússia, o poder estava nas mãos do povo, que se organizavam por meio de Sovietes, guiados pelo Partido Bolchevique.

No mesmo congresso, foram aprovados: o Decreto sobre a paz, que denunciava a segunda guerra mundial como uma guerra imperialista; o Decreto sobre a terra, que abolia a propriedade privada da terra, entregando aproximadamente 150.000.000 hectares de terra ao campesinato. Terra esta que, anteriormente, estava nas mãos de latifundiários, burgueses, da família real, e da igreja; o Decreto sobre a abolição da pena de morte, que revogava a pena capital, instituída em governos anteriores. Tais medidas eram consideradas democráticas (do ponto de vista liberal) para o mundo capitalista da época. Operários de todo o mundo estavam entusiasmados com o que acontecia na Rússia.

Desde outubro de 1917 até fevereiro de 1918, o Poder Soviético conseguiu se estender por toda Rússia, período que ficou conhecido como “marcha triunfal”. Durante o final de 1917 e o primeiro semestre de 1918 foram feitas as primeiras grandes medidas, como a nacionalização da indústria e da terra; a abolição dos privilégios da igreja; a criação da CHEKA (Comissão Extraordinária de Toda a Rússia para o Combate à Contra-Revolução e a Sabotagem) um órgão, que como o nome sugere, combatia a contrarrevolução e sabotagem, cuja liderança foi entregue a Felix Dzerzhinsky, um membro do Partido reconhecido pelo seu caráter e incorruptibilidade.

Teve ainda o tratado de paz entre a Rússia e o bloco alemão, conhecido como Paz de Brest-Litovsk, que foi consolidado, como diz o ditado, “aos trancos e barrancos”. Devido a uma traição por parte de filiados ao Partido, como Bukharin, Trotsky e os chamados “comunistas de esquerda”, que contra as normas do Partido, encerraram as negociações de paz, os alemães anularam o armistício e continuaram atacando o território soviético, sendo que levou algum tempo até que os bolcheviques conseguissem retomar as negociações de paz e finalmente acabar com a guerra em seu território. Tal traição, porém, custou caro a pátria soviética. Os alemães anexaram a Letônia e a Estônia, e separaram a Ucrânia da República Soviética, a tornando um estado vassalo alemão.

É importante esclarecer isso, pois durante os Processos de Moscou em 1938, tais membros do Partido serão julgados e condenados por traição, como a criação de blocos terroristas e aliança com a Alemanha nazista para a derrocada do regime soviético. Tal fato mostra, entretanto, que a venalidade desses sujeitos já era visível desde os primeiros meses da Revolução.

Ao contrário do que se pensa, nesses primeiros meses, não havia o tão famigerado (e caluniado pelo ocidente) chamado “terror vermelho”. Como já vimos, a pena de morte havia sido abolida. A liberdade religiosa era plenamente garantida pela constituição, e a liberdade de crítica não era combatida. Pelo contrário, existem registros de vários jornais de oposição com críticas ferozes ao bolchevismo. Cito aqui o relato de R. H. Bruce Lockhart, um embaixador inglês na Rússia, que disse o seguinte, em 1918:

«O terror ainda não existia, nem se podia dizer que a população tinha medo dos bolcheviques» (…) «A vida em Petersburgo foi, nessas semanas, de natureza bastante peculiar. … jornais opositores do bolchevismo ainda eram publicados, e submetiam à política dos soviéticos em seus ataques mais brutais … Neste período inicial do bolchevismo, o perigo para a integridade física e a vida não veio do partido no poder, e sim de grupos anarquistas.» (LOCKHART Apud BELOUS, 2017)

Cito também o relato de um menchevique exilado chamado David Dalin, disse em 1922:

«O sistema soviético existia, mas sem terror, a guerra civil deu impulso ao seu desenvolvimento.» (…) «Os bolcheviques não entraram imediatamente no caminho do terror, durante seis meses a imprensa da oposição, não apenas socialista, mas também abertamente burguesa, continuou a ser publicada. O primeiro caso da pena de morte ocorreu apenas em maio de 1918.» (DALIN Apud BELOUS, 2017)

Mas se nesse período inicial de Lênin não havia repressão em massa, censura de jornais, perseguição a igreja ortodoxa, por que o governo soviético teve de mudar tão bruscamente após algum tempo? É o que iremos analisar no próximo período estudado: a Guerra Civil Russa.

Da Guerra Civil a fundação da União Soviética (1918–1922)

Como se sabe, e visto em todas as revoluções até aquele momento, após uma classe ser retirada do poder, ela tenta de todas as formas retomar o antigo poder que lhes pertencia.

Em meados de janeiro de 1918, Lênin, sua irmã Maria Ilyinichna Ulyanova e o secretário do Partido Social Democrata Suíço Friedrich Platten foram atropelados na Ponte Simeonovsky, sendo confirmado posteriormente como uma tentativa de assassinato por terroristas. Em agosto de 1918, a socialista revolucionária Fanni Kaplan atirou 2 vezes em Lênin quando este se dirigia a uma fábrica: um tiro atingiu seu pulmão esquerdo e a outra o seu ombro esquerdo. Em 20 de julho de 1918, o bolchevique ucraniano Moisei Volodarsky foi assassinado por um socialista revolucionário. Moisei Uritsky, outro bolchevique, foi assassinado também em agosto.

Todos esses casos são exemplos de como as antigas classes dominantes tentavam, por meio de terrorismo individual, retomar seu antigo poder. O chamado Terror Branco, promovido pelo Exército Branco (czaristas, socialistas revolucionários, mencheviques, etc), será amplamente apoiado por 13 potências imperialistas, que invadiram o território russo para minar o poder soviético. Todos esses fatores levarão o governo soviético a revogar a abolição a pena de morte e a institucionalização do Terror Vermelho, promovido pela CHEKA. Uma resposta à altura do Terror Branco que já assolava toda Rússia. Vale salientar que o Terror Vermelho, segundo o historiador russo Ilia Belous, era uma forma:

«de combate contra os inimigos da revolução e intervencionistas, especialmente terroristas perigosos, espiões, sabotadores, participantes na preparação de sabotagem, propagandistas, criminosos, ocultadores. O terror branco era mais como um genocídio, que geralmente é usado por invasores estrangeiros para aterrorizar povos indígenas pacíficos para alertá-los contra a resistência.» (BELOUS, 2017)

Começava assim a Guerra Civil russa, de um lado o Exército Vermelho e algumas milícias anarquistas (que posteriormente iriam se voltar contra os bolcheviques), do outro o Exército Branco e 13 exércitos imperialistas invasores (para citar todos: Estados Unidos, Sérvia, Romênia, Polônia, Japão, Itália, Grécia, França, Checoslováquia, Reino Unido, Índia, Canadá e Austrália). Ainda haviam alguns exércitos independentes e separatistas, como o Exército Verde e o Exército Azul, que no decorrer da Guerra foram reprimidos ou se assimilaram a alguns dos 2 grandes grupos combatentes.

Como documentos indicam, as áreas controladas pelos Brancos e os intervencionistas eram verdadeiros infernos na terra. Torturas, assassinatos em massa (sobretudo promovidos por pogroms), saques, casas sendo queimadas com pessoas dentro, eram frequentes. Ainda para piorar a situação, os kulaks e outros camponeses ricos estavam especulando os grãos que estavam escassos, fazendo com que a fome (inevitável em tempos de guerra) aumentasse ainda mais. Por isso, os bolcheviques implantaram o chamado Comunismo de Guerra, para confiscar os grãos em excesso e distribuir em áreas famintas. Foi uma medida dura, principalmente ao já debilitado campesinato russo, mas necessária visto o contexto. Ao contrário o que defendem alguns historiadores, a fome no período não foi causada pelo Comunismo de Guerra. Citando o historiador John Thomas Murphy:

«O número que pereceu da fome nos invernos amargamente frios de 1921 e 1922 foi estimado de forma variada entre cinco e dez milhões» (…), «No entanto, há pessoas estúpidas o suficiente para declarar que o “comunismo de guerra” desses anos corresponde aos objetivos reais dos bolcheviques e responsabilizá-los pelos sofrimentos do país.» (MURPHY Apud McKINSEY, 1945)

Em julho de 1918, o Czar Nicolau II e sua família estavam na cidade de Ecaterimburgo, na qual seriam julgados pelos seus crimes contra o povo russo. Entretanto, havia uma Legião Checoslovaca que estava próxima de tomar a cidade, e iriam resgatar a família imperial, correndo o risco de o Czar reivindicar novamente o trono. Dessa forma, Yakov Yurovsky comandou um esquadrão da CHEKA que executou a família imperial. Vale salientar que nem Lênin nem Yakov Sverdlov, o chefe regional, deram ordem para a execução ou concederam tal permissão. Cito o historiador russo Vladimir Solovyov:

«Os principais especialistas neste assunto participaram da investigação, historiadores e arquivistas. E posso dizer com total confiança que hoje não existe um documento confiável que provar a instigação de Lenin ou Sverdlov na realização dos assassinatos.» (SOLOVYOV, 2011)

Ainda nessa época, Lênin criou a Comintern (III Internacional), que reuniu Partidos Comunistas de diferentes países.

Além de lidar com o Exército Branco e os invasores imperialistas, os bolcheviques sofreram resistência contrarrevolucionária de grupos menores. No caso, os anarquistas ucranianos liderados por Nestor Makhno, que apesar de terem se aliado ao Exército Vermelho para combater os Brancos durante um curto período de tempo, posteriormente se uniram a anti-bolcheviques assumidos, em sua maioria pogroms (como Grigorev, que segundo a Enciclopédia Judaica, é responsável pelo assassinato de cerca de 6000 judeus no verão de 1919), e atacaram o Exército Vermelho. O Partido não tolerou isso, e o Exército Vermelho destruiu as milícias Makhnovistas. Ao contrário do que dizem, os bolcheviques não «traíram» os anarquistas por serem de ideologia diferente, e sim por terem assumido um papel contrarrevolucionário. Cito o historiador Michael Palij:

«assim que Makhno deixou a frente, ele e seus associados começaram a organizar novos desprendimentos partidários na parte traseira dos bolcheviques, que posteriormente atacaram fortalezas, tropas, policiais, trens e coletores de alimentos.» (PALIJ, 1976)

Ainda houve o caso do motim de Kronstadt, onde marinheiros, no geral anarquistas e pequeno burgueses, tomaram a cidade portuária de Kronstadt contra o governo soviético. Eles exigiam coisas impossíveis ao governo de serem atendidas naquela época de guerra, reprimiram e ordenaram a prisão em péssimas condições todos os comunistas daquela região (roubando inclusive os sapatos e os casacos de peles deles, fazendo com que muitos ficassem em péssimas condições de saúde) e prepararam o fuzilamento dos mesmos. Fuzilamento que apenas não aconteceu, pois, os soviéticos reprimiram o motim antes. Cito o historiador Sergey Semanov:

«à noite, quando as tropas soviéticas tomaram Kronstadt e a batalha chegou no estágio de clímax, o “Comitê Revolucionário”, em sua última reunião, decidiu fuzilar os prisioneiros comunistas. Isso não teve tempo de ser feito apenas porque as unidades soviéticas ocuparam a prisão com um ataque inesperado.» (SEMANOV, 1973)

Por fim, nesses tempos amargos de guerra, ninguém acreditava que o defasado Exército Vermelho poderia sair vitorioso. Entretanto, a política pela qual os bolcheviques combatiam, representava os interesses do povo, do proletariado e campesinato russo. Seu imenso apoio popular, a bravura dos combatentes, somados a extrema coesão e disciplina do Partido, foram os motivos do triunfo dos Bolcheviques. Com a maior parte dos Brancos, assim como os milicianos anarquistas e pequeno burgueses, derrotados em 1921, a Guerra Civil havia chegado ao fim.

Lênin durante o X Congresso dos Sovietes, por meio do centralismo democrático, combateu, derrotou e proibiu as alas fracionistas do Partido (como os trotskistas e a “oposição operária”) e assim estabeleceu o que chamou de Unidade do Partido. O Comunismo de Guerra já não era mais necessário, em tempos de paz. Lênin compreendeu que a Rússia, enquanto um país subdesenvolvido, não tinha o necessário desenvolvimento das forças materiais para a consolidação da economia socialista.

Nessas condições, junto a Bukharin, foi idealizada a Nova Economia Política (abreviada como NEP) que consolidava, como medida temporária, o capitalismo de estado na Rússia. Medida essa que seria imposta até as forças materiais da Rússia estivessem suficientemente desenvolvidas.

As alas fracionistas, sobretudo a de Trotsky, apesar de derrotadas e proibidas, ainda continuavam a existir, e se opunham a NEP, exigindo de imediato a coletivização forçada, algo impossível para a época, mostrando que Trotsky não tinha a menor capacidade de adaptar o marxismo a realidade nacional da Rússia.

Nesse mesmo período, foi firmado um acordo entre a Rússia Soviética e a República de Weimar, o chamado Tratado de Rapallo. Como se sabe, tanto a Rússia quanto a Alemanha estavam defasadas, economicamente e militarmente, devido a 1ª Guerra Mundial e a Guerra Civil Russa, e ao Tratado de Versalhes, que impunha a Alemanha o pagamento dos custos da guerra, a limitação do exército, e a concessão de territórios a outras nações. Assim, ambos os países, ainda que defendessem ideologias completamente opostas, passaram a colaborar mutualmente, inclusive com os russos permitindo que os alemães treinassem seu exército em território soviético. Isso levará a alguns «historiadores russos» (leia-se teóricos da conspiração), como Yuri Dyakov, a defenderem a tese de que os russos teriam «armado Hitler para guerra» ou ainda que «teriam planejado a Segunda Guerra, reconstruindo a Alemanha para depois destruí-la». Tais teses serão devidamente refutadas posteriormente nesse texto.

A CHEKA acabou oficialmente e foi substituída pela NKVD (Comissariado do povo para assuntos internos).

Assim, foi fundada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, composta inicialmente pelas nações: República Socialista Federativa Soviética da Rússia, República Socialista Soviética da Bielorrússia, República Socialista Soviética da Ucrânia, e a República Socialista Federativa Soviética Transcaucasiana. O Partido Bolchevique teve seu nome alterado para Partido Comunista da União Soviética (PCUS). O camarada Joseph Vissarionovich Stalin foi eleito, apoiado por Lênin, como Secretário Geral do Partido. Começava agora a construção da pátria socialista.

Da NEP ao primeiro Plano Quinquenal e a Deskulakização (1922–1929)

Nessa época dos acontecimentos, podemos afirmar que a URSS era o país mais democrático (no sentido original da palavra) do mundo. O racismo, chauvinismo, antissemitismo, machismo, e outros preconceitos decorrentes da sociedade de classes eram combatidos tanto culturalmente quanto judicialmente, sendo passível de pena de morte em alguns casos. As mulheres desfrutavam de igualdade jurídica em relação aos homens, e a luta pelo fim do trabalho doméstico havia se iniciado. Cito Anna Louise Strong:

«A mudança no status das mulheres constituiu-se numa das transformações sociais mais importantes ocorridas no interior da nova sociedade em toda a URSS. A revolução dera às mulheres uma igualdade jurídica, porque, principalmente, havia produzido grandes e decisivas conquistas políticas.» (STRONG, 1957)

Faltava ainda, o governo resolver os problemas da fome, do analfabetismo e da economia, decorrentes do período czarista e da guerra civil.

Entretanto, em meados de 1924, Vladimir Lênin, o principal dirigente do PCUS, que já estava com a saúde debilitada, teve uma sequência de AVCs, que o levaram a óbito. A URSS estava de luto com a perda de seu líder. Nesse mesmo ano, Stalin publicou sua obra «Sobre os Fundamentos do Leninismo», que apresentava o Leninismo não como uma mera adaptação do Marxismo a realidade russa, mas sim como uma segunda etapa de desenvolvimento do Marxismo, já que Lênin desenvolveu as chamadas 3 partes constitutivas do Marxismo: Economia Política, Materialismo Dialético e Socialismo Científico.

Dessa forma, o Leninismo se tornou Marxismo-Leninismo, uma teoria universal, que como veremos, vai ser aplicada em até 1/3 do mundo.

Stalin fortalece seu poder formando a troika, junto a Zinoviev e Kamenev. A Oposição de Esquerda, formada por Trotsky, tenta atacar de todas as formas, durante o XIII Congresso dos Sovietes a ala leninista do PCUS, agora representada por Stalin. Eles reivindicavam Lênin como um mártir, ainda que tenham sido a principal oposição a ele anos antes. Vários escândalos e disputas de poder ocorreram. Um documento bastante citado desse período é o suposto Testamento de Lênin, onde supostamente Lênin teria pedido a retirada de Stalin do PCUS e que Trotsky o ascendesse ao poder. Isso foi publicado pelo trotskista americano Max Eastman, em seu livro «Since Lenin Died». Ainda que Trotsky futuramente irá utilizar esse argumento em suas críticas a Stalin, deixo a ele a incumbência de refutar tal afirmação:

«Eastman afirma em vários lugares que o Comitê Central “ocultou” do partido um grande número de documentos de extraordinária importância, escritos por Lenin durante o último período de sua vida. (Os documentos em questão são cartas sobre a questão nacional, o famoso “ Testamento “, etc.) Esta é pura calúnia contra o Comitê Central do nosso partido. As palavras de Eastman trazem a impressão de que Lênin escreveu essas cartas, que são de caráter consultivo e lidam com a organização do partido interno, com a intenção de publicá-los. Isso não está de acordo com os fatos. (…) O camarada Lenin não deixou nenhum “testamento”; o caráter de suas relações com o partido e o caráter do próprio partido, impedem a possibilidade de tal “Testamento”. “A imprensa burguesa e menchevique geralmente compreendem sob a designação de” Testamento “uma das cartas do camarada Lenin (que é tão alterada que é quase irreconhecível) em que ele dá ao partido algum conselho organizacional. O Congresso do Décimo Terceiro Congresso dedicou a maior atenção a isso e às outras cartas, e tirou as conclusões apropriadas. Toda conversa em relação a um “Testamento” escondido ou destruído não é senão uma mentira desprezível, dirigida contra a vontade real do camarada Lenin e contra os interesses do partido criado por ele.» (TROTSKY, 1925)

Após isso, houve vários debates no seio do PCUS na condução do socialismo. Iniciou-se a discussão sobre a NEP: a ala de Stalin e Bukharin defendia a permanência da NEP, como era o desejo de Lênin, enquanto as alas oposicionistas mais uma vez defendiam a coletivização em um momento impossível de ser consolidada. A ala de Stalin venceu e a NEP permaneceu até 1927, ano em que a mesma começou a desgastar. Houve várias crises de fome nesse período da NEP, e muitos acusam a mesma de ter sido responsável por isso. Algo completamente falso. Como nos mostra o professor Grover Furr, com base nos estudos de Mark Tauger:

«A Rússia e a Ucrânia sofreram grandes fome a cada poucos anos por mais de um milênio. Uma fome acompanhou a revolução de 1917, crescendo mais seriamente em 1918–1920. Outra fome grave, denominada “fome do Volga”, atingiu os anos de 1920 a 21. Houve fome em 1924 e novamente em 1928–29, este último especialmente grave na RSS de Ucrânia. Todas essas fomes tiveram causas ambientais. O método medieval de “strip-farming” da agricultura camponesa tornou impossível a agricultura eficiente e as inevitáveis ​​fomes.» (FURR, 2017)

Ainda como nos mostra R.W. Davies, historiador norte americano, a NEP, como todas as suas limitações, conseguiu atingir seus objetivos de desenvolvimento das forças materiais soviéticas:

«Entre 1922 e 1926, a Nova Política Económica foi um sucesso retumbante no seu conjunto. A produção da economia camponesa, em 1926, igualava o produto agrícola antes da revolução, incluindo os domínios dos proprietários fundiários. A produção de cereais aproximava-se do nível anterior à guerra e a produção de batata era superior em 45 por cento.» (…) «A proporção da produção agrícola bruta e dos solos semeados destinados aos cereais era mais baixa em 1928 do que em 1913, um bom indicador geral do progresso agrícola.» (…) «Em 1928, o número de animais ultrapassava em sete a dez por cento o nível de 1914 no que dizia respeito a suínos e bovinos.» (DAVIES Apud MARTENS, 1994)

Ainda houve o debate de como se daria a construção do socialismo na URSS: as alas de Bukharin e Stalin defendiam a tese do Socialismo em um só país, que focaria em construir o socialismo dentro da URSS inicialmente, enquanto as alas de Trotsky e a oposição de esquerda defendiam a Revolução Permanente, que defendia que a URSS deveria financiar revoluções em países desenvolvidos como a Alemanha, do contrário ela não sobreviveria. A tese da Revolução Permanente foi humilhantemente derrotada, como nos mostra o historiador Ludo Martens:

«Quando a discussão foi encerrada por votação no Partido, em 1927, os que defendiam a tese da impossibilidade da construção do socialismo na União Soviética e apoiavam as atividades fracionistas de Trotsky obtiveram entre um e 1,5 por cento dos votos. Trotsky foi excluído do Partido, depois enviado para a Sibéria e finalmente banido da União Soviética.» (MARTENS, 1994)

Como nós vimos na citação de Grover Furr, ainda que tais fomes não fossem causadas pela gestão do PCUS e sim pelas causas ambientais, o método de agricultura era extremamente atrasado, o que não conseguia impedir que tais fomes acontecessem. Foi assim que Stalin, vendo que a NEP já havia cumprido seu papel de desenvolvimento das forças materiais da Rússia, algo embasado por R.W. Davies, rompeu com Bukharin e anunciou, em 1928, o primeiro Plano Quinquenal soviético, que tinha como objetivo criar as bases sólidas da economia socialista.

Tal plano promoveu os projetos de: coletivização forçada, na qual os camponeses eram organizados em Kolkhozes (cooperativas), Sovkhozes (fazendas estatais) e MTS (estações de maquinaria para apoio aos agricultores); e de industrialização, em que foi dado prioridade a indústria pesada, a siderurgia e a eletrificação. A justificativa de Stalin para tais medidas foi o fato da Rússia estar em risco de uma nova intervenção militar imperialista. Ele isso expressa em um discurso:

«Estamos 50 a 100 anos atrasados em relação aos países mais avançados. Temos de percorrer esta distância em dez anos. Ou conseguimos fazê-lo ou seremos esmagados.» (STALIN Apud MARTENS, 1994)

Com base no centralismo teórico, Stalin proibiu as alas fracionistas do PCUS, sendo que membros de tais alas deveriam fazer autocrítica ou seriam expulsos no Partido. Foi esse o caso de Trotsky, Bukharin, Zinoviev, Kamenev, e outros opositores. A maior parte desses irão fazer autocrítica e voltar ao PCUS no início da década de 30.

Tais medidas ainda seriam acompanhadas da deskulakização. Como Lênin já havia percebido, a luta de classes continua sob o socialismo. Os kulaks, classe de camponeses ricos que há séculos explorava o campesinato russo, haviam sido favorecidos durante a NEP. Agora, tais kulaks seriam expropriados e seriam «exterminados enquanto classe.»

Vale a pena salientar que, tal extermínio não seria físico, como alguns ideólogos burgueses defendem Não houve um «holocausto kulak». Cito novamente Ludo Martens:

«O termo soviético de «liquidação dos kulaks enquanto classe» indica perfeitamente que se trata de eliminar a exploração de tipo capitalista própria aos kulaks e nunca de liquidar fisicamente os kulaks. Mas, especulando com a palavra «liquidação», homens sem escrúpulos, como Nolte e Conquest, alegam que os kulaks exilados foram «exterminados»!» (MARTENS, 1994)

Nessa época, foi criado o famoso GULAG (Administração Geral dos Campos de Trabalho Correcional e Colônias), um campo de trabalho para prisioneiros soviéticos. Por anos, ele foi comparado aos campos de concentração nazista, pois tinha finalidade de extermínio. Entretanto, os registros mostram o contrário. O GULAG era visto tanto pelo governo quanto pelo povo soviético como uma forma de ressocialização. O prisioneiro não era enviado lá para trabalhar até a morte, e sim para se ressocializar por meio do trabalho e voltar a se tornar um cidadão soviético. Tanto que todos eles recebiam educação e cultura. Tal fato é constatado inclusive por uma historiadora anticomunista, como Anne Applebaum:

«Necessitando de operários especializados [em um Gulag do Extremo Norte], treinam aqueles que as tinham. Muitos deles, ex-kulaks, eram analfabetos ou semianalfabetos, e isso provoca problemas enormes quando se devia enfrentar projetos de certa complexidade técnica. Por isso, administração dos campos equipou escolas de formação técnica, que por sua vez exigiam outros edifícios e novos quadros: ensinantes de matemática e da física, como mero “instrutores políticos” para superintender o seu trabalho. Nos anos quarenta, Borkuta, uma cidade construída sobre um terreno permanentemente gelado, onde as estradas deviam ser reasfaltadas e tubulação consertada toda primavera, tinha agora um instituto geológico e uma universidade, teatros, teatro de marionetes, piscinas e asilos» (APPLEBAUM Apud LOSURDO, 2010)

«Para terminar, os operários mais eficientes eram soltos antecipadamente; para cada três dias de trabalho nos quais a tarefa era realizada cem por cento, cada detido pagava um dia de pena. Quando o canal [do mar Branco] ficou terminado em tempo, em agosto de 1933, foram libertados 12.484 prisioneiros. Muitos outros receberam medalhas e prêmios. Um detido festejou a sua liberação antecipadamente com uma cerimônia no qual houve também a tradicional oferta russa do pão e do sal, enquanto os assistentes gritavam: “Hurra para os construtores do canal!” No ardor do momento, começou a beijar uma desconhecida. Acabaram passando a noite juntos à beira do canal.» (Idem)

Assim, com todas essas mudanças econômicas de sociais, iniciava-se definitivamente a construção da economia socialista na URSS.

Do Plano Quinquenal ao início da Segunda Guerra (1929–1939)

Os projetos econômicos de Stalin foram um sucesso completo. Segundo o professor Hiroaki Kuromiya, a industrialização, comumente chamada de Revolução Industrial Soviética:

«lançou as bases da notável expansão industrial dos anos 30 que salvou o país durante a II Guerra Mundial. No final de 1932, o Produto Industrial Bruto tinha mais que duplicado em relação a 1928. À medida que os projetos do primeiro plano quinquenal, um após outro, entravam em exploração em meados de 1930, a produção industrial conheceu uma expansão extraordinária. Entre os anos 1934 e 1936, o índice oficial registou um aumento de 88 por cento da produção industrial bruta. Na década de 1927–28 a 1937, a produção industrial bruta aumentou de 18 300 milhões de rublos para 95 500 milhões; a produção de aço passou de 3,3 milhões de toneladas para 14 milhões; o carvão, de 35,4 milhões de metros cúbicos para 128 milhões; a potência eléctrica, de 5,1 mil milhões de quilowatts-hora para 36,2 mil milhões; a produção de máquinas-ferramentas, de 2098 unidades para 36 120. Mesmo descontando alguns exageros, podemos dizer com segurança que estas realizações provocam vertigem.» (KUROMIYA Apud MARTENS, 1994)

A coletivização forçada também trouxe ótimos resultados. Ainda que o nome indique uma possível coerção por parte do PCUS, os camponeses aceitaram e defenderam a coletivização. Cito Aleksandr Zinóviev, um opositor de Stalin que presenciou a coletivização na infância:

«Quando ia regularmente à minha aldeia, e também mais tarde, perguntei muitas vezes à minha mãe e a outros kolkhozianos se aceitariam retomar uma exploração individual caso lhes fosse dada essa possibilidade. Todos sempre me responderam com uma recusa categórica.» (…) «A escola do burgo contava apenas sete salas, mas dava acesso às escolas técnicas da região que formavam veterinários, agrónomos, mecânicos, condutores de tratores, contabilistas. Em Tchúkhloma havia uma escola secundária. Todos estes estabelecimentos e estas profissões eram elementos de uma revolução cultural sem precedentes. A coletivização tinha contribuído diretamente para essa transformação. Além desses especialistas locais com alguma formação, às aldeias afluíram, de facto, técnicos vindos das cidades com formação secundária ou mesmo superior. A estrutura da população rural aproximou-se da sociedade urbana. Fui testemunha desta evolução desde a minha infância. Esta transformação extremamente rápida da sociedade rural forneceu ao novo sistema um apoio colossal nas grandes massas da população. E isto apesar de todos os erros da coletivização e da industrialização.» (ZINOVIEV Apud MARTENS, 1994)

Assim, graças a coletivização, as colheitas foram excelentes. Cito Ludo Martens:

«Apesar das enormes convulsões da coletivização, a colheita de 1930 foi excelente. As boas condições climáticas tinham ajudado, e este fator terá levado o Partido a subestimar as dificuldades que viriam a seguir. Segundo diferentes cálculos, a produção de cereais atingiu entre 77,2 a 83,5 milhões de toneladas, bastante acima dos 71,7 milhões obtidos em 1919.145 Graças à planificação nacional, as culturas técnicas, sobretudo as de algodão e beterraba, tinham aumentado a sua produção em 20 por cento.» (MARTENS, 1994)

Entretanto, em 1932–1933, houve um grande período de fome em toda a União Soviética, sobretudo na Ucrânia. Tal fato irá repercutir pelo mundo e muitos historiadores passaram a defender que tal fome foi um genocídio perpetrado por Stalin para minar o nacionalismo ucraniano. Cito Mark Tauger, historiador especialista em fomes:

«Os meios de comunicação populares e a maioria dos historiadores durante décadas descreveram a grande fome que atingiu a maior parte da URSS no início da década de 1930 como “feita pelo homem”, muitas vezes mesmo um “genocídio” que Stalin perpetuou intencionalmente contra ucranianos e às vezes outros grupos nacionais para destruí-los como nações. A exposição mais famosa desta visão é o livro Harvest of Sorrow, agora quase duas décadas, pelo prolífico (e problemático) historiador Robert Conquest, mas essa perspectiva pode ser encontrada em documentários do History Channel em Stalin, muitos livros didáticos da história soviética, civilização ocidental e até mesmo mundial, e muitos escritos sobre o stalinismo, sobre a história da fome e sobre o genocídio. Esta perspectiva, no entanto, é errada. A fome que ocorreu não se limitou à Ucrânia ou mesmo às áreas rurais da URSS, não era fundamental ou exclusivamente feita pelo homem, e estava longe da intenção de Stalin e outros na liderança soviética de criar como um desastre. Uma literatura pequena, mas crescente, baseada em novos documentos de arquivo e uma abordagem crítica para outras fontes, mostrou as falhas na interpretação “genocida” ou “intencional” da fome e desenvolveu uma interpretação alternativa.» (TAUGER, 2004)

A fome aconteceu, de fato, por conta de desastres naturais que aconteceram na época. Entretanto, graças a coletivização da agricultura, o campesinato soviético não sofreu mais fomes como essa de 1932 e as da década de 20. Cito Grover Furr

«A coletivização da agricultura foi uma verdadeira reforma, um avanço na revolução da agricultura soviética. Ainda havia anos de poucas colheitas — o clima da URSS não mudou. Mas, graças à coletivização, houve apenas uma fome mais devastadora na URSS, a de 1946–1947. O estudo mais recente desta fome, de Stephen Wheatcroft, conclui que esta fome foi causada por condições ambientais e pelas rupturas da guerra.» (FURR, 2017)

Em 1933, acabava o primeiro Plano Quinquenal soviético. Além dos progressos econômicos já citados, a qualidade de vida do cidadão soviético melhorou exponencialmente. Cito o relato de Willian H. Duprey, católico norte americano que visitou a URSS em 1936 com o objetivo de achar pessoas morrendo de fome. Eis o que ele encontrou:

«A União Soviética é o único país do mundo onde os estudantes são pagos para

estudar. Por toda a parte onde estivemos vimos novas escolas em construção. As

pessoas leem nas fábricas, nos tróleis, nas ruas. Sempre que é publicado um novo

livro sobre os avanços do socialismo na União Soviética, há uma corrida

desenfreada às livrarias e é frequente a primeira edição esgotar-se totalmente antes

do anoitecer.» (…) «As delegações dos sindicatos vieram indicar-nos quais as fábricas têxteis mais apropriadas para visitar. Agradecia-lhes amavelmente, mas depois, com o meu

companheiro de viagem, Adam Chada, um mineiro lituano que vivia na Pensilvânia

e falava russo, ia investigar uma fábrica que não tinha sido recomendada pelo

sindicato. Mais tarde visitávamos também a fábrica modelo. Com frequência

deslocávamo-nos em tróleis. Eu puxava Chada pela manga e dizia-lhe: «Vamos

descer aqui». Descíamos e dirigíamo-nos logo para a casa de um operário. Chada

explicava quem éramos, e o operário mostrava-nos a sua casa. Nunca conseguimos

sair sem antes partilharmos uma refeição com o operário e bebermos um bom

vinho soviético. Desta forma, fazíamos em média cerca de seis refeições por dia.

Nas tentativas que fiz para encontrar uma família com fome na Rússia, de que o sr.

Hearst falava, ganhei 15 libras (6,8 kg) de peso.» (…) «Os operários têxteis trabalham sete horas por dia e cinco dias por semana. O sexto dia é de descanso. Não podem fumar junto às máquinas, mas existe uma sala de fumo e uma biblioteca. Têm pausas de cinco minutos em cada hora. Os operários com menos de 18 anos têm uma jornada de seis horas. Destas,

trabalham quatro horas na fábrica e estudam duas. No entanto, recebem as seis

horas por inteiro. Ninguém com menos de 18 anos é autorizado a trabalhar no

turno noturno. Quando contei isto a uma amiga minha nos EUA, respondeu-me: «Bem, somos capazes de imaginar condições tão boas, mas não correspondem à realidade nos

EUA. Trabalho numa fábrica têxtil das seis da manhã até à uma e meia da tarde.

Durante essas sete horas e meia não tenho nenhum intervalo para refeição. Tenho

de comer enquanto trabalho.» Estes bons salários, condições e horários são possíveis graças ao excelente sistema de proteção social que existe na União Soviética. Nós, operários norte-americanos, estamos a lutar duramente para consagrar este tipo de direitos na Lei do Seguro Social Operário (H.R. 2827).» (DUPREY, 1936)

Em 1936, foi consolidada a Constituição Soviética. Tal Constituição foi um grande avanço democrático e um golpe a burocracia no país. Era garantido a liberdade de expressão, liberdade religiosa, e várias outras conquistas.

Entretanto, os inimigos internos e externos da URSS não descansavam. Hitler havia ascendido na Alemanha no início da década de 30, e ameaçava invadir a URSS. Enquanto isso, os antigos grupos de oposição da URSS (trotskistas, zinovievistas, bukharinistas, etc) voltaram a ameaçar o poder soviético.

Em 1934, Serguei Mironovich Kirov, grande Marxista-Leninista e braço direito de Stalin, foi assassinado por Leonid Nikoláiev. Grigori Tokaev, militar soviético pertencente a um grupo terrorista opositor a Stalin, que desertou para a Inglaterra, escreveu um livro chamado «Comrade X», onde ele explica como funcionava seu grupo e de outros (bukharinistas, trotskistas, etc.). Nesse trecho, ele fala sobre o assassinato de Kirov:

«Muito antes de 1934, o nosso grupo tinha planeado assassinar Kirov e Kalilin, o presidente da União Soviética. Finalmente, foi outro grupo que executou a operação contra Kirov, um grupo com o qual tínhamos contatos.» (…) «Em 1934 houve uma conspiração para iniciar uma revolução com a prisão de todos os stalinistas reunidos no XVII Congresso do Partido.» (TOKAEV Apud MARTENS, 1994)

Segundo Ludo Martens, o assassinato de Kirov foi investigado pela NKVD e eles chegaram:

«à conclusão de que o grupo de Zinóviev tinha «influenciado» Nikoláiev e os seus amigos, mas não encontra indícios de uma implicação direta de Zinóviev. Este último é simplesmente enviado para o exílio interior.» (MARTENS, 1994)

Várias sabotagens, assassinatos de membros do PCUS, aconteceram nessa época. O engenheiro norte americano John Littlepage descreve:

«Num dia de 1928, entrei numa fábrica geradora das minas de Kochkar. De passagem, mergulhei a minha mão no depósito principal de uma grande máquina diesel e tive a sensação de que havia algo de granuloso no óleo. Fiz parar imediatamente a máquina e então tirámos de lá cerca de um litro de saibro de quartzo que só poderia ter sido ali despejado intencionalmente. Em várias outras ocasiões, nas novas instalações das fábricas de Kochkar, encontrámos areia em engrenagens de redutores de velocidade, que são inteiramente fechadas e só podem ser abertas se se levantar a tampa pelo puxador. (…) «Esta sabotagem industrial mesquinha era tão comum em todos os ramos da indústria soviética, que os engenheiros russos já não se importavam e ficaram surpreendidos com minha preocupação quando a constatei pela primeira vez. (…) «Por que razão essa sabotagem era tão comum na Rússia soviética e tão rara noutros países? As pessoas que fazem semelhantes perguntas não se aperceberam que as autoridades na Rússia tinham travado e continuavam a travar uma série de guerras civis, abertas ou encapotadas. No início, combateram e expropriaram a antiga aristocracia, os banqueiros, os proprietários de terra e os comerciantes do regime tsarista. Em seguida, combateram e expropriaram os pequenos proprietários independentes, os comerciantes retalhistas e os pastores nómadas da Ásia. (…) «Naturalmente que tudo isso era para o seu próprio bem, diziam os comunistas. Mas muitas destas pessoas não podiam ver as coisas do mesmo modo e permaneciam inimigos ferozes dos comunistas e das suas ideias, mesmo depois de terem entrado para a indústria do Estado. Era desses grupos que provinha um bom número de operários, inimigos tão encarniçados dos comunistas que causavam estragos sem remorsos em todas as empresas que podiam.» (LITTLEPAGE Apud MARTENS, 1994)

Ou seja, alguém de dentro do poder soviético estava boicotando o andamento do país.

Dessa forma, foram conduzidas diversas investigações, e entre 1937–1938, houve os Processos de Moscou, julgamentos abertos movidos contra os membros do PCUS que eram suspeitos de sabotagem. Foi um verdadeiro golpe na velha burocracia do Partido. O historiador J. Arch Getty descreve:

«Os dados materiais indicam que a “Yezhovchina” (a “grande purga”) deve ser redefinida. Ela não foi o resultado de uma burocracia petrificada que eliminou dissidentes e destruiu velhos revolucionários radicais. De facto, é possível que as depurações tenham sido justamente o contrário. Não é incompatível com os dados disponíveis argumentar que as depurações foram uma reação radical, e mesmo histérica, contra a burocracia. Os funcionários bem colocados foram destruídos de alto a baixo numa onda caótica de voluntarismo e puritanismo revolucionário.» (GETTY, 1985)

Os grupos que foram julgados foram os trotskistas, zinovievistas, bukharinistas, o grupo de Piatakov e os militares suspeitos de planejarem um golpe, em especial o marechal Mikhail Tukhatchevsky. A grande maioria confessou seus crimes, como Bukharin e Tukhatchevsky, que iam de sabotagem industrial a complot junto a Alemanha nazista. Alguns alegam que tais confissões foram sob tortura, coerção, ameaças, etc. Entretanto, não existe quaisquer evidências que corroborem isso. Grover Furr estudou cuidadosamente todas as confissões dos Processos de Moscou, e chegou à seguinte conclusão:

«O testemunho dos acusados nos três julgamentos públicos de Moscou é declarado universalmente como falso, forçado por homens inocentes pelo Ministério Público, pelo NKVD, e por “Stalin”. Nunca houve um pingo de evidências para apoiar essa noção. No entanto, é firmemente afirmado por todos os especialistas da história soviética, bem como por todos os trotskistas. Graças aos anos de identificação, busca, localização, obtenção e estudo de fontes primárias, percebi que existem evidências suficientes para verificar muitas das declarações feitas pelos acusados dos julgadores de Moscou. Eu dedico os primeiros doze capítulos dos «Trotsky’s “Amalgams”» a uma verificação cuidadosa de muitas das declarações dos acusados dos Processos de Moscou. Descobri que, sempre que podemos verificar novamente uma reivindicação de fato feita por um réu dos julgamentos de Moscou contra evidências independentes agora disponíveis, verifica-se que o réu dos julgamentos de Moscou estava dizendo a verdade.» (FURR, 2017)

E por fim, o próprio Grigori Tokaev, afirma que:

«A polícia não torturou Bukhárin por recear que ele «dissesse a verdade frente ao mundo, diante do tribunal(TOKAEV Apud MARTENS, 1994)

Assim, podemos declarar que todos os acusados durante os Processos de Moscou eram culpados. Existe uma enorme quantidade de provas contra eles ainda, que podem ser lidas no livro «Trotsky “Amalgams”» de Grover Furr, que deixarei o link na bibliografia desse artigo.

Entretanto, um grande número de pessoas inocentes foi torturado e executado durante este período. Isso se deve ao fato de Nikolai Yezhov, o líder da NKVD, também ter seus próprios planos conspiratórios. Ele executava inocentes e protegia traidores para despertar a fúria do povo soviético contra o governo, ele tinha seu próprio plano de golpe contra Stalin. Felizmente, Lavrenty Beria, sucessor de Yezhov no cargo, descobriu seus crimes e o levou a julgamento. Posteriormente, Yezhov foi executado. Aqui está a declaração de 1939 de Frinkovsky, um dos deputados de o NKVD durante os expurgos:

«Antes da prisão de Bukharin e Rykov, Ezhov, falando comigo abertamente, começou a falar sobre os planos para o trabalho Chekista em conexão com a situação atual e as iminentes prisões de Bukharin e Rykov. Ezhov disse que esta seria uma grande perda para os Direitistas, depois disso, independentemente de nossos próprios desejos, com as instruções do Comitê Central, medidas em grande escala podem ser tomadas contra os quadros da Direita, e que em conexão com isso e seus minha principal tarefa deve ser dirigir a investigação de tal forma que, na medida do possível, para preservar o quadro dirigente … Depois das prisões dos membros do centro dos Direitistas, Ezhov e Evdokimov, em essência, se tornaram o centro, e organizado: 1) a preservação, na medida do possível, do quadro antissoviéticos dos Direitistas da destruição; 2) a direção dos golpes contra os membros do partido honesto que se dedicaram ao Comitê Central dos ACP (b) [o Partido Comunista como era chamado na época]; 3) preservação do quadro rebelde no Cáucaso do Norte e em outros krais e oblasts da URSS, com o plano de usá-los no momento das complicações internacionais; 4) uma preparação reforçada de atos terroristas contra os líderes do partido e do governo; 5) a pretensão do poder dos Direitistas com Ezhov em seu comando.» (LUBIANKA, 2006)

Após Beria assumir, como disse Grover Furr:

«As execuções extrajudiciais acabaram e os responsáveis pelos terríveis excessos foram julgados e executados ou encarcerados(FURR, 2005)

Por fim, com os devidos traidores expurgados e a ordem reestabelecida, o governo soviético tinha mais uma preocupação: a guerra eminente. Stalin já havia tentado formar uma aliança antifascista com as potências Alemanha e França em 1939, que foi negligenciada pelas potências. Como disse o general Sotskov

«Esta foi a última chance de matar o lobo, mesmo depois de [o primeiro-ministro conservador britânico Neville] Chamberlain e os franceses terem desistido da Tchecoslováquia para a agressão alemã no ano anterior no Acordo de Munique.» (…) «Se os britânicos, os franceses e a Polônia aliada europeia tivessem levado esta oferta a sério, juntos, poderíamos ter colocado cerca de 300 ou mais divisões no campo em duas frentes contra a Alemanha — o dobro do número que Hitler tinha na época.» (SOTSKOV Apud HOLDSWORTH, 2008)

Isso fez com que Stalin tivesse que firmar um acordo de não agressão com a Alemanha, chamado Pacto Molotov-Ribbentrop, adiando a invasão de Hitler no território soviético e garantindo mais tempo para preparar o exército vermelho para esta batalha. Essa é prova que Stalin não planejou a guerra, como argumenta o historiador Yuri Dyakov. Ainda que a cooperação econômica e tecnológica entre os dois países existisse, durante o Tratado de Rapallo e o Pacto Molotov-Ribbentrop, a URSS não esperava que a Alemanha ia se tornar o que se tornou, e em ambos os casos, a URSS também foi beneficiada.

Uma semana após a assinatura do Pacto Molotov-Ribbentrop, Hitler invadiu o território da Polônia e o ocupou até a metade, iniciando a Segunda Guerra Mundial.

Da Segunda Guerra Mundial até a ascensão do revisionismo (1939–1956)

Para garantir que Hitler não avançasse mais, em 17 de setembro, a URSS ocupou a outra metade da Polônia. Vale salientar que isso não caracterizou uma invasão, visto que, como nos mostra Grover Furr:

«1. O governo polonês não declarou a guerra à URSS.”

2. O comandante supremo polaco, Rydz-Smigly, pediu aos soldados poloneses que não combatessem os soviéticos, embora ele tenha ordenado que as forças polacas continuem a lutar contra os alemães.

3. O presidente da Polónia, Ignaz Moscicki, internado na Romênia desde 17 de setembro, admitiu tácitamente que a Polônia não tinha mais um governo.

4. O governo rumano admitiu tácitamente que a Polônia não tinha mais um governo.

5. A Romênia tinha um tratado militar com a Polônia contra a URSS. A Romênia não declarou a guerra à URSS.

6. A França não declarou a guerra à URSS, embora tivesse um tratado de defesa mútua com a Polônia.

7. A Inglaterra nunca exigiu que a URSS retirasse suas tropas da Bielorrússia ocidental e da Ucrânia ocidental, partes do antigo estado polaco ocupadas pelo Exército Vermelho após 17 de setembro de 1939.

8. A Liga das Nações não determinou que a URSS tenha invadido um Estado-Membro.

9. Todos os países aceitaram a declaração de neutralidade da URSS.» (FURR, 2009)

Após isso, a URSS ocupou algumas regiões do Báltico, como Lituânia, Estônia e Letônia. Houve alguns enfrentamentos com o Japão em regiões fronteiriças, que deixaram o país com medo de uma invasão japonesa. Houve 2 anos até que Hitler invadisse o país, fazendo com que Stalin aumentasse sua força militar. Assim, em 1941, Hitler iniciou a operação Barbarossa, invadindo o território soviético. Transferindo toda a força militar que tinham, a URSS conseguiu conter a invasão, libertando toda a Europa oriental tomada por Hitler, e posteriormente, Berlin. Em 1943, a Comintern (III Internacional) foi dissolvida.

Apesar de se dizer que a URSS só conseguiu tal feito devido ao Lend Lease americano, ou seja, a venda de armas dos EUA para o país, isso, de fato, é falso. Como nos mostra o historiador russo Evgeniy Spitsyn, a porcentagem de arsenal militar norte americano na URSS em relação ao produzido na própria URSS era: 0,5% de armas pequenas, 1,5% de sistemas de artilharia, 8,96% de tanques, 13% de aeronaves de combate. Ou seja, números insignificantes. A real causa da vitória da guerra pela URSS foi o sacrifício de 30 milhões de soviéticos, que deram suas vidas para a destruição da maior máquina genocida de todos os tempos: o nazismo.

Outro ponto que é muito comentado é sobre o suposto «maior estupro em massa da história da humanidade», sobre a libertação de Berlin pelos soviéticos. Entretanto, com exceção de relatos, não existe nenhuma evidência de que houvesse um «estupro em massa» em Berlin. Alguns supostos historiadores e jornalistas usam uma metodologia questionável para provar isso, o número de abortos que ocorreram aquele ano em relação a anos anteriores. Entretanto, como nos mostra o historiador N. Mendkovich, isso só prova que o número de gestações e abortos aumentaram naquele ano. Se fôssemos aplicar essa mesma metodologia em todo território alemão, não controlados pelos soviéticos e sim por potências ocidentais, o número total de estupros seria de 16 milhões. Um número minimamente absurdo.

Os soldados soviéticos eram extremamente disciplinados, e os líderes rigorosos. Houveram alguns casos isolados de estupros durante a ocupação da Europa, e os soldados que o fizeram foram condenados a fuzilamento.

Assim, com a libertação de Berlin, se encerrava a Segunda Guerra Mundial, evento que matou mais de 60 milhões de pessoas (30 milhões eram soviéticos).

Após a Segunda Guerra Mundial, o socialismo atingiu o equilíbrio estratégico. 1/3 do mundo havia sido libertado do capitalismo e do imperialismo pelo proletariado internacional, dirigindo países como China, parte norte da Coreia, Vietnã, Albânia e toda a Europa oriental. A Cominform, uma nova Internacional Comunista, havia sido criada em 1947 pelo PCUS. A Iugoslávia, que antes se tratava de um país socialista, veio a ser expulsa da Cominform sob acusações de revisionismo, em 1948.

Em 1953, o camarada Stalin faleceu. Alguns são adeptos da teoria de que foi envenenado, mas nada foi provado. Malenkov, grande leninista, assume por um curto período de tempo, período em que foi firmado o Pacto de Varsóvia que englobava todos os países da Europa oriental, até a ascensão do revisionista Khrushchev ao poder, em 1956. Khrushchev, em seu infame XX Congresso ao PCUS, faz um ataque frontal a pessoa de Stalin, literalmente o demonizando e desferindo calúnias contra o mesmo, iniciando a chamada desestalinização. O professor Grover Furr, após um grande estudo sobre todas os crimes debitados contra Stalin por Khrushchev, chega a seguinte conclusão:

«60 de 61 acusações de Kruschev a Stalin são falsas» (FURR, 2011)

Para ter acesso a essa investigação, recomendo a leitura do livro «Khrushchev Lied: The Evidence That Every “Revelation” of Stalin’s (and Beria’s) Crimes in Nikita Khrushchev’s Infamous “Secret Speech” to the 20th Party Congress of the Communist Party of the Soviet Union on February 25, 1956, is Provably False», de Furr.

Khrushchev ainda teorizou várias teses degeneradas e estranhas ao Marxismo-Leninismo, como o «estado de todo o povo» que dizia que na URSS não havia mais classes, assim não sendo mais necessária a ditadura do proletariado, tornando o PCUS não mais um Partido do Proletariado e sim de todo o povo — abrindo espaço para a burguesia chegar ao poder. Ainda existem várias outras, que não irei abordar nesse texto. A partir disso, a URSS se tornou um estado capitalista. A burguesia passou a dirigir o PCUS e extraía a mais-valia dos trabalhadores por meio de empresas estatais. Posteriormente, os revisionistas ainda transformariam a URSS em um estado social-imperialista, mantendo relações de dependência e dominando países com que tinha relações (subjugando praticamente toda a Europa oriental).

Da ascensão do revisionismo a queda do Muro — O Fim de um Sonho (1956–1989)

Com a subida de Khrushchev ao poder, como já foi dito, a URSS e o Pacto de Varsóvia se tornaram capitalistas e social-imperialistas. Alguns governos, como a Romênia de Ceausescu e a Alemanha de Honecker tentaram manter o máximo de independência possível, mas ainda se mantendo subjugados ao império soviético. Ainda que fosse dominado pela camarilha de Khrushchev, a URSS conseguiu manter sua economia nos moldes stalinistas por algum tempo.

Como mostra um documento da CIA sobre a URSS nessa época:

«Cidadãos americanos e soviéticos comem a mesma quantidade de alimento em um dia, mas a dieta de um soviético é mais nutritiva» (CIA, 1983)

Em 1956, houve uma contrarrevolução de caráter fascista na Hungria, que foi corretamente reprimida pelo governo soviético. Em 1961, foi erguido o Muro de Berlim sob as ordens de Khrushchev, caracterizando já o caráter social imperialista da URSS. Nessa época, os países verdadeiramente socialistas como China de Mao Tse-tung e Albânia de Enver Hoxha, já haviam rompido relações com a URSS, iniciando o Grande Debate sobre o revisionismo no país. Um fato curioso é que dezenas grupos maoístas apareceram na URSS a partir, como os registros indicam. Tais movimentos fizeram oposição ao governo revisionista soviético por um bom tempo. Uma carta escrita por Kulakov a Khrushchev, membro do PCUS, em 1962, parece indicar uma das origens desses grupos (ele foi preso por escrever tal carta):

«a grande massa dos povos soviéticos acredita que você é um inimigo do Partido de Lenin e Stalin. Em uma palavra, que você não deixou de ser um autêntico trotskista… V.I. Lenin sonhava em fazer da China um amigo do povo soviético e este sonho o camarada Stalin realizou; mas você destruiu esta amizade. Mao se opõe a desonra que você infligiu ao partido de Lenin e Stalin. Lenin e Stalin lutaram audaciosamente contra os inimigos da revolução e venceram a guerra aberta sem terem medo de serem presos. Você é um covarde e um agente provocador. Quando o camarada Stalin vivia você beijava o rabo; agora o coloca como um burro.» (KULAKOV Apud VOLYNETS, 2013)

Em 1964, assume Leonid Brezhnev. Ele reavivou a estética comunista na URSS e abandonou a desestalinização khruchevista — na teoria. Na prática, aumentou as reformas econômicas de Khrushchev, consolidou definitivamente a nomenklatura (burocracia privilegiada) do PCUS e tornou a URSS definitivamente um país verdadeiramente social-imperialista — fazendo intervenções militares na Checoslováquia em 1968, no Camboja Democrático e no Afeganistão em 1979. A intervenção na Checoslováquia, fez com que alguns socialistas chekos grafitassem tal mensagem em muros:

«Lênin, acorde, Brezhnev ficou louco!»

Com a economia estagnada e a morte de Brezhnev em 1982, assume Yuri Andropov. Este irá reprimir os grupos maoístas já citados na URSS, e no geral as coisas permanecem iguais em seu governo. Em 1985 assume Mikhail Gorbatchev, que inicia a contrarrevolução aberta a URSS, com as conhecidas perestroika e glasnost. Tais projetos visando aumentar a liberdade econômica e de expressão, apenas abriram espaço para que as massas já enraivecidas contra o governo de Brezhnev, se levantassem por melhores condições de vida. Em 1989, o Muro de Berlin caiu, acabando de uma vez por todas com o sonho socialista. Em 1991, foi feito um referendo ainda sobre a manutenção da URSS, que houve quase 80% de aprovação. Isso não impediu que, no final daquele ano, Gorbatchev anunciasse o fim da URSS.

Conclusão — Lições

A URSS foi a primeira Ditadura do Proletariado já consolidada na história. A revolução de Outubro emancipou os trabalhadores e garantiu a eles o que Lênin havia prometido — Paz, Pão e Terra.

As causas da queda da URSS são intrinsecamente ligadas com a ascensão do revisionismo de Khrushchev. Entretanto, para impedir que outras revoluções sofram desse mesmo tipo de coisa, Mao Zedong nos deixou a Grande Revolução Cultural Proletária, a forma mais eficaz de combater o revisionismo no seio do Partido Comunista, impedindo que elementos nocivos e burocratas adentrem o mesmo.

De fato, o socialismo soviético foi derrotado. Mas, como disse Brezhnev:

«A União Soviética não será eterna. Mas o país, que conseguiu provar ao mundo inteiro, que é possível uma sociedade em que o homem vale mais do que o dinheiro, isto sim será eterno, e viverá durante gerações!»

De fato, a URSS deixou lições valorosas as próximas revoluções vindouras. Mostrou que é sim possível um país ser controlado por proletários e camponeses, que é possível erradicar a fome, a miséria e o analfabetismo. Que é possível se desenvolver industrialmente sem explorar países menores. É isso que será eterno, e não nos esqueçamos:

«Mais Outubros Virão»

Bibliografia:

· Arquivo de artigos do professor Mark B. Tauger sobre as fomes na União Soviética (Em: <https://drive.google.com/drive/folders/18MVgSN1uC1xknFdRyp1xoJSQHAwAkteY>.)

· The “Holodomor” and the Film “Bitter Harvest” are Fascist Lies (FURR, Grover. <https://www.counterpunch.org/2017/03/03/the-holodomor-and-the-film-bitter-harvest-are-fascist-lies/>.)

· Um Outro Olhar Sobre Stáline (MARTENS, Ludo. <https://www.marxists.org/portugues/martens/1994/olhar/index.htm>.)

· Origins of the Great Purges: The Soviet Communist Party Reconsidered, 1933–1938 (GETTY, J. Arch. <http://gen.lib.rus.ec/book/index.php?md5=202D73A751817E9D047121E74D02671C>.)

· Trotsky’s “Amalgams” — Trotsky’s Lies, The Moscow Trials As Evidence, The Dewey Commission. (FURR, Grover. <https://www.amazon.com/Trotskys-Amalgams-Evidence-Commission-Conspiracies/dp/069258224X>.)

· Trotsky’s Lies — What They Are, and What They Mean (FURR, Grover. <https://msuweb.montclair.edu/~furrg/research/gf_tatalk_bj16.pdf>.)

· Yezhov Vs. Stalin: The Truth About Mass Repressions and the So-Called ‘Great Terror’ in the USSR (FURR, Grover. <https://www.amazon.com/Yezhov-Vs-Stalin-Repressions-So-Called/dp/0692810501>.)

· Khrushchev Lied: The Evidence That Every “Revelation” of Stalin’s (and Beria’s) Crimes in Nikita Khrushchev’s Infamous “Secret Speech” to the 20th Party Congress of the Communist Party of the Soviet Union on February 25, 1956, is Provably False (FURR, Grover. <http://gen.lib.rus.ec/book/index.php?md5=e6bc9593a1787378b671944f51b393a9>.)

· Stalin — História Crítica de uma Lenda Negra (LOSURDO, Domenico. <https://drive.google.com/file/d/1m88s66Qc7_H7XQ3EB7DWksPVomIEn2jW/view>.)

· The Real Stalin Series (McKINSEY, Dennis “Klo”. <https://drive.google.com/drive/folders/1Jv8_HLOlg8ecOjWm_tcynhS2VA08AhoI>.)

· The Anarcho-Kulak Bandits Of Russia And Ukraine (“MoonMouse”. <https://drive.google.com/file/d/1gEs5gAwEgWrV4k2QURE5DUqEPNnVPeXz/view>.)

· Likvidatsiya antisovetskogo Kronshtadtskogo myatezha 1921 goda (SEMANOV, Sergey Nikolaevich. <http://militera.lib.ru/research/semanov_sn/index.html>.)

· «Krasnyy» terror voznik v otvet na mezhdunarodnyy i «belyy» terror (BELOUS, Ilya. <https://drive.google.com/file/d/1iG1AU4_rIjXZS8EYvV8Zr2QO8ReIeNcW/view>.)

· Kto «iznasiloval Germaniyu»? (chast’ 1, 2 i 3) (MENDKOVICH, N.

<https://drive.google.com/drive/folders/1iPZIj1NgJA0fFBwoVwD6QLBI9du_8E2R>.)

· História do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS (Comissão do Comitê Central do PC(b) da URSS. <https://www.marxists.org/portugues/tematica/livros/historia/index.htm>.)

· A Nova Constituição Soviética — [Constituição Stalinista] (Em: <https://www.marxists.org/portugues/stalin/biografia/ludwig/constituicao.htm>.)

· Stalin e a Luta pela Reforma Democrática (FURR, Grover. <https://drive.google.com/drive/folders/1AC2PtCs2zcNqsvJ_wv0GE42r-EKH_lkl>.)

· Como engordei na URSS à procura de quem passasse fome (DUPREY, Willian H.

<http://www.hist-socialismo.com/docs/DufreyURSSAnos30.pdf>.)

· Did the Soviet Union Invade Poland in September 1939? NO! (FURR, Grover. <https://msuweb.montclair.edu/~furrg/research/mlg09/did_ussr_invade_poland.html>.)

· Stalin ‘planned to send a million troops to stop Hitler if Britain and France agreed pact’ (HOLDSWORTH, Nick. <https://drive.google.com/file/d/1g7C9LmI5bYI8Yki6a7oewxCo2hmicW0f/view>.)

· Letter on Eastman’s Book (TROTSKY, Leon.

<https://www.marxists.org/archive/trotsky/1925/07/lenin.htm>.)

· O Lend-lease na Segunda Guerra Mundial: a ajuda americana foi realmente útil? (SPITSYN, Evgeniy. <https://drive.google.com/file/d/1xfbrLmuT6JpjcYBM3bNkkqQK0ltGeTEd/view>.)

· Sovetskiye khunveybiny: «SSSR nuzhen Mao Dzedun!» (VOLYNETS, Alexey.

<http://rusplt.ru/Policy/sovetskie-hunveybinyi-SSSR-nujen-Mao-dzedun.html>.)

· No proof Lenin ordered last Tsar’s murder (Em: <http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/russia/8264321/No-proof-Lenin-ordered-last-Tsars-murder.html>.)

Por: João P. Fragoso

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