Clássico sempre atual, 1984 ganha versão inovadora em áudio
Livro de George Orwell é adaptado pela Audible, com as vozes de Lázaro Ramos, Alice Carvalho, Mateus Solano e Milhem Cortaz
POR DIEGO OLIVARES
Quantas formas existem de se revisitar uma obra clássica? Quando ela segue falando de temas em pauta na sociedade há 75 anos, o limite vai até onde a imaginação alcança.
Com a população mundial mais vigiada do que nunca — seja por câmeras de segurança, seja pela exposição voluntária nas redes sociais — , líderes mundiais que já adotaram a “verdade alternativa” como política de Estado e uma sensação de opressão pairando no ar, 1984 talvez nem precise ser chamado mais de futurista ou distópico. A ficção-científica escrita por George Orwell em 1949 é um dos livros que mais tem a dizer sobre o mundo de hoje.
Não à toa, a Audible, que lança agora a versão uma nova versão em áudio do clássico, chamou para a campanha de divulgação o influenciador Felipe Neto. Na véspera do anúncio oficial, ele publicou um vídeo repleto de referências ao texto original e anunciando uma suposta candidatura à presidência da República. É sintomático que muita gente não tenha percebido de onde vinha o discurso que Neto gravou e noticiado a informação como algo real, incluindo veículos da grande imprensa.
Concebido originalmente para a filial britânica da plataforma, o roteiro foi escrito por Joe White e teve vozes dos astros Andrew Garfield, Cinthya Erivo, Andrew Scott e Tom Hardy, além de trilha sonora original composta por Matthew Bellamy (vocalista da banda Muse) e Ilan Eshkeri, com execução da Orquestra Metropolitana de Londres, gravada nos estúdios Abbey Road.
O atmosférico fundo musical, fundamental para a experiência imersiva funcionar, foi mantido para a versão brasileira, que ganhou a participação de Lázaro Ramos como o protagonista Winston Smith, Alice Carvalho no papel de Julia, Mateus Solano no papel de O’Brien e o vozeirão de Milhem Cortaz para interpretar o Grande Irmão. A direção é de Lena Horn e
Roberto Bürgel, enquanto a Alma Sintética Companhia de Arte ficou com a produção.
Cabe avisar que esta nova versão de 1984 não é um áudio livro, mas algo que pode ser comparado a uma “instalação sonora”. Não há narrador, mas sim uma ambientação caprichada que simula múltiplas vozes, ruídos e trilha em sobreposição. É como ouvir a faixa de áudio de uma superprodução do cinema, mas ter que criar as imagens com a imaginação. Instigante, no mínimo. Perigoso para quem acha a criatividade ameaçadora, como aqueles que preferem o pensamento controlado que satisfaz o Grande Irmão.