O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus (2009)

Um filme de Terry Gilliam mais legal de analisar do que de assistir

Diego
Ver mais… Textão!
4 min readJul 30, 2016

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Postado originalmente no Filmow em 18/07/2016

The Imaginarium of Doctor Parnassus

Atenção: REPLETO DE SPOILERS! Continue por sua conta e risco! Postei o texto abaixo pela primeira vez no Filmow, não é uma resenha, nem sinopse, mas uma análise do que entendi sobre o filme acerca do que acho que ele realmente trata.

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Podem comentar, mas uma pessoa de cada vez, a mente do Dr. não está preparada para ler vários comentários ao mesmo tempo!

Para mim, se trata de um filme sobre ALCOOLISMO! (ou dependência química em geral). Na leitura que fiz, vi metáforas para a vida em geral e sobre o alcoolismo:

- Quando Martin entra no espelho, vê uma floresta esquisita, irreal e Valentina, uma linda mulher o seduzindo (os efeitos da bebida e bebendo cada vez mais).
- Depois, ele toma uma surra e cai, de cara na lama (a ressaca e se “olhando no espelho”, vendo a situação deplorável em que se encontra).
- Anda naquele “mar de garrafas” (o reconhecimento de sua situação, de que é um alcoólatra e precisa de ajuda para sair dali).
- A mão o puxando para fora da Terra (assim como outras pessoas também estão sendo “puxadas”, seria a participação em grupos de ajuda, como o Alcoólicos Anônimos).
- As Águas Vivas (não sei ao certo o que significariam, talvez o sofrimento da abstinência, não sei. Existe um tratamento relativamente novo para alcoolismo que envolve a extração de uma proteína da água viva, mas acho que não é por aí…
- É arremessado e, por pouco não é espetado e morto por aquela “tachinha gigante” (a constatação de que poderia estar morto por conta do abuso da bebida, mas conseguiu sobreviver.
- Por último, ele vê aquela espécie de montanha e, no sopé do primeiro degrau, está escrito “12 X 12 X 12 STEP PROGRAM. GOOD LUCK” (referência ao Programa dos 12 passos, muito comum nos grupos de Alcoólicos Anônimos e afins, exige um certo comprometimento. No filme, a repetição do número 12 e sinal de multiplicação “X” pode se referir a cada uma das apostas que Dr. Parnassus fez e a volta a estaca zero, que explico mais abaixo.
- O “Mr. Nick Lounge Bar” é a escolha mais fácil, sem comprometimento, é a entrega ao instinto e a recaída. Reparem que, na cena seguinte, o Dr. Parnassus diz: “Perdi novamente”.

Bem, daria para ficar pinçando mais e mais exemplos, mas, pelo que entendi, o Diabo seria o lado mais instintivo, que busca o prazer imediato ao invés de enfrentar os problemas. Cada aposta aceita, seria a tentação e a entrega “prometo que vou beber só ‘essa dose’, que implica em grandes consequências pois, para “pagar a aposta” (ficar sóbrio novamente), todos aqueles “12 passos” devem ser dados novamente.

Ao final do filme, reparem que o Dr. Parnassus vê sua filha de longe, escondido, sem que ela perceba. Meu entendimento é que sua mulher não morreu ao dar a luz, mas sim se divorciou dele por causa do seu problema com a bebida e também não o deixou mais ver a filha desde então.

No início e no final do filme, existem algumas falas e diálogos interessantes. É sempre deixado muito claro que sempre existem escolhas, caminhos mais fáceis ou mais difíceis; instintivos ou racionais etc. E é deixado claro que não podemos jogar essa responsabilidade nas mãos de outra pessoa, as escolhas e as consequências de nossos atos são de nossa inteira responsabilidade.

Cheguei a estas conclusões apenas assistindo o filme e analisando alguns trechos. Posso estar redondamente enganado, depois vou dar uma pesquisada para ver a interpretação que a galera teve. Já sobre a experiência cinematográfica em si: Sendo um filme de Terry Gilliam, não esperava nada convencional. Não assisto trailers, pelo título e poster do filme, somado a filmes anteriores do diretor que já assisti, esperava algo bem onírico.

Gostei do conceito, mas não muito da execução. Acho que foi um erro recorrer a efeitos visuais (computação gráfica) ao invés de efeitos práticos. Por mais que eu respeite o finado Heath Ledger, confesso que o personagem dele foi um dos que achei menos interessantes. Somando o fato de sua morte, que não acredito ter desfalcado o elenco, (pelo contrário, entraram 3 atores de renome para concluir o filme) acredito que o infortúnio possa ter impactado no moral do diretor e da equipe original envolvida no projeto.

Obviamente, o filme abre espaço para diversas interpretações e não tenta deixar nada muito escondido do espectador. Ainda assim, não me prendeu muito enquanto o assistia e não me trouxe nenhum momento de grande empolgação ou descoberta. Na verdade, eu fiquei mais satisfeito e entretido com essas tentativas de interpretações pós-filme do que durante o filme em si. E, neste ponto, acho que valeu a pena assistir. Mas assistindo o filme sem ter nada disso em mente, é uma experiência mediana e com um ritmo bem arrastado.

PS: Muito bacana no final, mostrando a sensibilidade de Terry Gilliam, que abdicou de estampar seu nome para fazer uma bela homenagem: “Um filme de Heath Ledger e amigos”.

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