Rio 2016 — keep calm e festeja!

Lembro-me bem dos dias antes da Olimpíada de Londres, em 2012.

Houve dois fenômenos completamente opostos acontecendo ao mesmo tempo.

O primeiro foi a experiência descrita pela imprensa, de uma Londres ansiosa, preocupada pelos intermináveis pedidos para que as pessoas não utilizassem os transportes públicos por medo de sobrecarga no sistema; reclamando sobre os engarrafamentos previstos por causa da criação das faixas exclusivas para os atletas e membros do Comitê Olímpico Internacional, os inevitáveis “burocratas”; e infeliz, pelo custo dos jogos em um ano de cortes orçamentais por causa do enorme déficit fiscal, resultado da crise financeira e consequente recessão.

O segundo fenômeno eu pude sentir e observar a partir da minha própria experiência nos dias anteriores ao começo da Olimpíada: era possível perceber uma sensação de alegria, de uma cidade em plena festa, cheia de turistas esperando o início de um grande evento global. Nunca me esqueço da noite em que voltei para casa de bicicleta, passando pela Oxford Street por volta das 23h30, uma hora na qual os burgueses londrinos normalmente estão pensando em ir para a cama. Havia milhares de pessoas na rua, celebrando, rindo, aproveitando o melhor da minha cidade, algo que me deu um enorme orgulho e felicidade, como um dos 10 milhões de londrinos anfitriões dos Jogos.

Em Londres 2012, a estranha justaposição desses dois fenômenos ficou evidente nos comentários do candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Mitt Romney. Ele, que tinha sido responsável pela recuperação da Olimpíada de Inverno de 2002, em Salt Lake City, chegou a Londres uma semana antes da cerimônia da abertura, para mostrar suas credenciais de experiência internacional, e falar à televisão sobre alguns elementos “desconcertantes” na preparação dos Jogos de Londres. Sua fala provocou reações inimagináveis por parte de políticos londrinos e britânicos.

Por isso, tenhamos muita calma com relação aos Jogos Rio 2016. Nos próximos dias vai ser possível observar esses dois fenômenos no Rio de Janeiro; de ansiedade pública local e, ao mesmo tempo, tenho certeza, de um entusiasmo contagioso à cada dia que a abertura da Olimpíada fica mais próxima e os visitantes chegam à Cidade Maravilhosa.

Desejo do fundo do meu coração uma experiência tão boa, e até melhor, para o Rio do que aquela de Londres há quatro anos. Cada cidade anfitriã é diferente e cada uma oferece uma experiência apropriada ao seu próprio contexto. Londres foi diferente de Pequim, assim como o Rio será diferente de Londres. É assim, e é bom mesmo que seja assim.