desassossego ardente
(3 escritos sobre angústias)
AUSÊNCIA
teu bem tão mal me faz
cala-te e me priva do ódio
some e me priva do rancor
tua presença é peso
notas
tento manter meu feitio
não te expulsar
ou apelar para grosseria
o tom de voz eu vou manter
não sei gritar
e meus sussurros
são apenas de desejos
quero tua ausência
sem precisar motivar.
COMODIDADE
não te finjas de anjo
tua inocência destrói
corrói
magoa
tuas falas
cheias de intensidade
são vazias de amor
teus atos
romanesco de se ler
são covardes
teu amor
teu grande amor
é a comodidade
tua ira
é a incerteza
tua certeza
é a enganação
teu corpo
o pagamento
teu jeito
o meu desprezo
és tudo o que eu nunca quis ser
ou ter.
ARREPENDIMENTO
Se os meus reais pensamentos pulassem revoltosos
Se se mostrassem a contragosto indo na contramão da minha intenção mansa
Tu verias o quanto tudo é diferente
Seria claro que quando eu quis a gente, não estava em plenas convicções
Eram pensamentos corroídos por uma utopia, que só foi real dentro da irrealidade do talvez
Antes eu não sabia mas agora eu sei, quem és tu e como ages
O conhecimento é mesmo perturbador, saber a verdade é sustentar o peso de ser preterido
É não ouvir sequer ruídos mas tentar interpretar barulhos
Teu gemido distante que eu julgava inexistente
É constantemente solto em outros ouvidos
Sinto-me apenas maleável, mas isso tanto me pesa, por mais inócuo que possa ser
Não é que fui enganado, só não é mais do meu agrado o que fiz por você
Arrependo-me de tudo, completamente tudo, do começo ao fim, do menor ato ao maior
Do pensar ao agir
Do falar ao escrever
Se eu pudesse te apagar, apagaria-te
Triste ainda não ser indiferente o meu sentimento, espero tanto por esse momento, porque agora é tudo lamento
É tudo desgosto
Remorso
É nojo do beijo e do toque
Que corra o tempo, levando as angústias, trazendo o esquecimento
Porque esse arrependido é ruim de carregar
Ainda mais em silêncio.