Brasil no combate ao COVID-19

Arthur Dent
4 min readAug 24, 2020

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Qual seu desempenho frente a pandemia em relação aos outros países.

Por diversos motivos, podemos perceber que o desempenho do Brasil no combate a pandemia não tem sido bom. Mas como podemos medir esse resultado e como comparar com o desempenho de outros países?

Para essa análise poderíamos pensar em utilizar como métrica o número de casos confirmados de infecção. Entretanto, este dado é muito frágil para fazermos comparações. Os países não testam as pessoas na mesma proporção. De um lado, temos países como o Brasil, que testam poucos casos e priorizam os profissionais de saúde e pessoas internadas. No outro extremo, temos países que realizam testes em massa com o objetivo de rastrear o contato das pessoas infectadas. Os números entre esses países não seriam comparáveis.

Vamos considerar então apenas o número de mortes atribuídas ao COVID-19 e sua taxa em relação ao número de habitantes. Esse dado também pode apresentar problemas. Determinados países não contabilizam corretamente as mortes que acontecem em casa, por exemplo, ou que são atribuídas a outras doenças sem que seja efetuado o teste. Mas, ainda assim, parece ser o dado mais robusto para usarmos em nossa comparação.

O Platô constante

O número de mortes semanais por COVID-19 aumentou progressivamente a partir da semana 13 da epidemia, atingiu um patamar de ~7.000 mortes a partir da semana 22 e se mantém praticamente constante desde então.

Brasil: Mortes por semana epidemiológica. Fonte

Por que isso acontece no Brasil e não aconteceu em outros países, como a Itália, por exemplo, que apresentou redução logo após atingir o pico de mortes semanais?

Itália: Mortes por semana por COVID-19. Fonte

O Brasil é um país de dimensões continentais. É muito maior que a Itália. Mais que 28 vezes em extensão territorial e 3,5 vezes em população.

Quando vemos os números, segregados pelas regiões administrativas, notamos que o momento em que certas regiões caminham para a curva descendente coincide com a curva ascendente de outras regiões, provocando uma certa compensação que explica o platô observado no Pais.

Brasil: Curva de mortes por região administrativa. Fonte
Brasil: Curva de mortes semanais por COVID-19 empilhadas. Fonte

Claramente podemos observar as regiões Norte e Nordeste atingindo um pico entre as semanas 21 a 24 e a partir de então entrando na curva descendente no mesmo período que Sul e Centro-Oeste entram na curva ascendente.

A região Sudeste teve o comportamento de ascensão semelhante ao da região Norte e Nordeste mas manteve-se em um platô de cerca de 3.200 mortes semanais até o momento.

Podemos repetir a análise segregando apenas a região Sudeste por seus Estados da Federação.

Estados da Região Sudeste: Curva de mortes semanais por COVID-19. Fonte
Estados da Região Sudeste: Curva de mortes semanais por COVID-19 empilhadas. Fonte

Ranking de mortes por Covid-19 entre países

Em valores absolutos, até 22 de agosto, o Brasil só perde para os EUA no ranking do total de mortes por Covid-19 (114 mil e 176 mil respectivamente). Mas já vimos que essa comparação não é justa, pois tanto o Brasil quanto os Estados Unidos da América possuem dimensões continentais e estão competindo com países muito menores.

Ranking de mortes por 100 mil habitantes

E se verificarmos a proporção das mortes em relação ao número de habitantes do país?

Quando dividimos os números absolutos pela população do país, e multiplicamos por 100, obtemos o percentual de mortos por Covid-19 pra cada país e podemos construir um novo ranking mais justo. Como essa conta resulta em números muito pequenos, adotamos multiplicar por 100 mil e temos então o indicador de Mortes por 100 mil habitantes.

Mas qual será a classificação do Brasil para esse novo indicador?

Confira na tabela abaixo o ranking dos 30 primeiros países:

Mortes de COVID-19 por 100.000 habitantes até 21-ago-2020. Fonte

Ok. Brasil saiu da 2a posição por esse critério, mas ainda está entre os 10 primeiros e passou os EUA.

Mas, o Brasil ainda não entrou na curva descendente, enquanto outros países dessa lista deixaram o pico de mortes há algum tempo.

Mortes diárias por COVID-19 por milhão de habitantes. Fonte

Portanto esse ranking deve mudar muito até o final da pandemia, mas o certo é que o Brasil já está ocupando posição de destaque.

Os Vários Brasis

Se compararmos o desempenho das regiões administrativas do Brasil, ou dos seus Estados da Federação, ou outras subdivisões específicas e considerarmos cada uma dessas regiões como se fosse um país. Qual seria o desempenho desses novos Brasis em relação ao resto do mundo?

Esse será o assunto de nosso próximo artigo.

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