ARTIGO: O EFEITO KULESHOV E SEU PODER!

Bruno Araújo
4 min readJun 3, 2018

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Você sabe o que é o Efeito Kuleshov?

Dentre as muitas técnicas utilizadas pelos profissionais dentro da área da cinematografia, uma das mais importantes de se ter o conhecimento é o chamado Efeito Kuleshov. Este efeito se vê presente dentro de qualquer filme e entendê-lo pode tornar sua experiência com a sétima arte ainda mais agradável do que já normalmente é, permitindo que você perceba como a edição do filme o afeta e cria a mágica dentro de uma cena.

Esse efeito foi criado por Lev Vladimirovich Kuleshov, um diretor russo nascido em 1899, considerado por muitos o primeiro teórico de filmes por seus trabalhos inovadores dentro dos padrões de edição da época.

Foi em 1921 em que Kuleshov criou um experimento que resultaria na criação do fenômeno que carrega seu nome.

Em seus experimentos, o diretor russo projetou o rosto sério de um ator olhando diretamente para a câmera e logo após cortou para a imagem de um prato de sopa com uma colher dentro. Depois desse corte, ele projetou o rosto do mesmo ator com a mesma expressão, porém, dessa vez ele colocou uma imagem de uma mulher deitada dentro de um caixão. Uma última vez, Kuleshov mostrou o rosto do ator sem aparentar diferença das duas anteriores, após isso, ele mostrou a imagem de uma bela mulher.

O resultado foi que, mesmo que o ator não tivesse mudado nenhuma vez sua expressão, ele demonstrava diferentes sentimentos por meio das imagens que precediam sua mesma cena. A audiência afirmava que no primeiro corte, o ator aparentava estar com fome por conta de estar encarando a sopa, no segundo, triste pois presenciava um cadáver de uma moça em um caixão e no último aparentava exibir luxúria por admirar uma bela mulher.

Partindo dos resultados desses experimentos, ficou evidente como a edição era uma ferramenta poderosa para criar a emoção dentro de uma cena de qualquer tipo de conteúdo relacionado à sétima arte. Futuramente, mesmo tendo conhecimento de que esse efeito é utilizado frequentemente em boa parte dos filmes até os dias de hoje, existem alguns diretores que se destacaram com a utilização e estudo desse método, entre eles, Alfred Hitchcock e Stanley Kubrick.

Para explicar melhor como esse efeito é utilizado, usarei o filme Shame , de 2011 dirigido por Steve McQueen como exemplo. Em uma cena específica conhecida como subway attraction, podemos ver claramente a força que esse efeito tem e a diferença que ele faz em cena.

Na cena, o protagonista Brandon (Michael Fassbender) se vê em um metrô, onde mantém o olhar fixo para uma bela moça que o observa. A princípio, a mulher olha para Brandon de cima a baixo, dando pequenos sorrisos que passam para o espectador um sentimento de luxúria dentro da cena, logo então, a câmera corta para o rosto de Michael Fassbender que mantém seu olhar fixo de forma à mostrar o desejo e vício que seu personagem possui.

Em seguida, depois de alguns minutos da troca de olhares, percebemos que a mulher já não está mais tão confortável, passando a evitar continuar olhando para Fassbender e parecendo até mesmo estar com medo dele, porém, quando vemos o rosto de Fassbender, notamos que ele não se vê desconfortável como a mulher, intensificando o desejo sexual dele (o qual movimentará toda a trama do filme posteriormente).

Chegando ao final dessa cena, a mulher já não suporta mais a situação desagradável em que se vê e decide levantar e sair do metrô na estação mais próxima, impulsionado por seu desejo, Brandon levanta para seguir a mulher, mas assim que sai do metrô ele perde a mulher de vista e um sentimento de melancolia passa a perpetuar a cena. Podemos notar que a utilização desse efeito como ferramenta permitiu ao editor do filme, Joe Walker, que mudasse duas vezes o contexto e gênero de uma cena de 3 minutos, transformando o sentimento presente de luxúria para suspense e depois drama.

Observar esse efeito é uma maneira muito interessante de conhecer os processos por trás da criação do filme e pode fazer eventualmente que você desfrute bem mais de toda a experiência que um diretor dispõe para você dentro da sétima arte.

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Bruno Araújo

Amante de filmes, gastronomia e artes de naturezas diversas.