Ciclista passando pela Avenida Ipiranga, República, Zona Central de São Paulo

O que ciclovias podem realmente fazer pela mobilidade?

COMMU
Metropolização em Debate
4 min readMar 30, 2015

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Ciclovias estão entre os temas mais polêmicos dos últimos tempos aqui na cidade de São Paulo. Um dos argumentos que mais ouço nos debates sobre a validade desse investimento é o de que poucas pessoas usam bicicleta e, por isso, elas não deveriam merecer tanta atenção do poder público. Eu, como ciclista recente e pessoa atrapalhada, sei a diferença crucial que ela faz na segurança. Então a principal razão que eu defendo para apoiar ciclovias é: elas salvam vidas e isso vale qualquer investimento. Mas já que as razões pragmáticas também precisam ser apontadas, trago minhas contribuições ao debate. Todas elas acompanham links com as fontes.

  1. A bicicleta é o transporte mais eficiente para trajetos curtos
    Para fazer trajetos curtos, dentro dos bairros ou entre dois bairros, não existe outro modal mais eficiente do que a bicicleta. Ganha do transporte público em velocidade, do carro em praticidade (não é preciso ficar caçando lugar para estacionar, o que é um grande adianto em alguns bairros) e de ambos em uso do espaço e custo (TODOS os trechos são gratuitos, olha só!).
  2. Trajetos curtos de carro são responsáveis por 25% do congestionamento em SP
    Dos corredores quilométricos de trânsito em SP, 25% é formado por carros fazendo trajetos de até três quilômetros. Se esse trajeto está sendo feito dentro do centro expandido da cidade, o motorista está utilizando o carro em um espaço que, em geral, é bem servido de transporte público. Se mais pessoas que moram e trabalham/estudam no centro expandido trocassem o carro pelo transporte público/bicicleta, o trânsito fluiria melhor para quem vem de carro de mais longe e passa mais tempo dirigindo (e que nem sempre tem boas opções de transporte público).
  3. A bicicleta é mais amigável do que o transporte público
    Conheço pessoas que dirigiam com frequência, não gostavam de ficar presas no trânsito, mas nunca considerariam usar o transporte público por conta do desconforto (mesmo que, em muitos casos, a ligação de ônibus ou metrô não seja de fato desconfortável). A transição para a bicicleta foi a maneira mais amigável para elas abandonarem o carro. Especialmente para os estratos mais altos da população, que aprendem desde cedo que “transporte público é ruim”, a bicicleta pode significar a libertação do carrocentrismo.
  4. Ciclovias e bicicletários estimulam a utilização de bicicleta
    A regra é clara: primeiro vem a infraestrutura, depois os usuários. Apesar de, em SP, o número de ciclistas ser equivalente à população de grandes cidades e ter crescido 50% de um ano para outro, mostrando o efeito positivo da implantação da estrutura cicloviária. A projeção de crescimento é animadora: a Secretaria Municipal de Transportes estima que SP terá um milhão e meio de pessoas utilizando a bicicleta como meio de transporte em alguns anos. Sabe o que isso significa? Muitos carros a menos.
  5. Bicicletas tornam as ligações intermodais mais eficientes
    Quando as estações de metrô e trem e terminais de ônibus contam com bicicletários e têm ciclovias por perto, é possível diminuir o tempo gasto em trajetos longos. E isso vale principalmente para bairros periféricos, como o caso emblemático do Jardim Helena. Uma pessoa que gasta duas horas no trajeto casa/trabalho pode, em vez de fazer de ônibus o trajeto do seu bairro até uma estação, fazê-lo pedalando. A grande vantagem é que esse trajeto está menos sujeito a atrasos e pode economizar preciosos minutos da sua longa jornada.
  6. Transformar vagas de carros em ciclovias pode aumentar a fluidez nas vias
    Os carros que buscam vagas na rua costumam transitar mais devagar por essas vias, além de as manobras para estacionar diminuírem a fluidez dos veículos. Além do mais, remover vagas de estacionamento trata-se de um dos mais importantes desestímulos ao uso do carro (junto com rodízio e pedágio urbano), que já ultrapassou seu limite em SP. Sugiro àqueles que afirmam que ciclovias “atrapalham o trânsito” a compararem dados sobre lentidão antes e depois de essas vias receberem as intervenções.
  7. Ruas com ciclovias são mais seguras para pedestres
    Os pedestres são o elemento mais importante para a mobilidade, até porque mesmo as pessoas que dirigem são pedestres. As ciclovias ao lado da calçada ajudam a aumentar a atenção dos motoristas em manobras que arriscam os pedestres, como conversões e entrada/saída de garagens. No caso de ciclovias compartilhadas entre pedestres e ciclistas essa relação fica um pouco mais delicada, mas com a devida atenção do ciclista a segurança dos pedestres está garantida.

Como qualquer política pública, a implantação de ciclovias passa por um ciclo, cujos efeitos não aparecem do dia para a noite. Muitas cidades pelo mundo tiveram trajetória semelhante e hoje colhem os frutos. Sugiro ler essa matéria sobre as incríveis semelhanças entre São Paulo e Nova York na busca por uma cidade mais humana e eficiente.

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por Ana Carolina Nunes

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