Mas não é simples ficar formando triângulos de passe?

Caio Gondo
3 min readFeb 11, 2016

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Quando o Barcelona da temporada 2008/09 venceu muitos títulos, alguns aspectos táticos daquela equipe ficaram em evidência para os comentaristas e analistas táticos. Entre esses aspectos, tem um que é bem fácil de notar: a formação de triângulo de passe. Essa formação de triângulo nada mais é a aparição de duas possibilidades de passe para o portador da bola.

Triângulo de passe formado entre Sidcley, Nikão e Hernani: como Rafael Marques irá pressionar Sidcley? Há duas vias de saída para a bola.

Vendo essa formação, parece até simples formá-la em campo, não é? No entanto imaginemos a situação de que o time formou um triângulo de passe conseguiu realizá-lo no sentido da faixa central do campo, como se no caso da imagem acima, Sidcley conseguisse passar para Hernani. Como faria para que Hernani pudesse realizar outro passe? Sim, outro triângulo de passe. E para que esse jogador que recebesse a bola passasse novamente? Sim, outro triângulo de passe. E assim sucessivamente. Parece que a coisa deixou de ser tão simples assim, não?

Para facilitar à visualização, assim como no caso do flagrante do Atlético-PR, a bola saiu do lateral-esquerdo do time através de um triângulo de passe, e o passe foi com sentido da faixa central do campo, ou seja, para o volante.
Com a bola estando com o volante, a formação de outro triângulo de passe é facilmente realizada com o meia e o centroavante do time. E então a bola foi para o meia.
E agora? Como haverá a formação de outro triângulo de passe, se ninguém se aproximar do meia? Ah, então a formação constante de triângulo de passe é um aspecto coletivo.

É, uma vez que a formação de um triângulo de passe envolve três jogadores, é conclusivo que ele é um aspecto coletivo. Mas como formá-lo constantemente? Já que pela sequência de imagem, nota-se que uma hora, fica impossível de se formar. Não é tão impossível assim.

A formação constante de triângulos de passe requer três aspectos táticos que se misturam: a consciência tática, a movimentação e o balanceamento ofensivo. Uma vez que a consciência tática é o modo como cada jogador se comporta para que a proposta de jogo da equipe seja realizada, de que a movimentação é se deslocar do seu posicionamento inicial e que o balanceamento ofensivo é o movimento ofensivo de acordo com a movimentação da bola, nota-se que todos esses aspectos colaborarão para a formação constante de triângulos de passe. Agora veja a mesma sequência anterior, mas com a consciência tática, a movimentação e o balanceamento ofensivo acontecendo.

Os jogadores do lado oposto irão compor triângulo futuros porque eles teriam consciência tática, realizarão movimentações e o balanceamento ofensivo para o lado da bola.
Devido à consciência tática, eles se movimentarão e estão balanceando ofensivamente para o lado da bola.
Já quando o meia recebe a bola (lembra que na outra situação, ele não tinha uma 2ª opção?), o extremo 11 formou o triângulo de passe devido a sua consciência tática, movimentação e o balanceio ofensivo.
E quando o extremo 11 recebe a bola, o volante 8 e o lateral 2 já estão para formar outro triângulo de passe devido às suas consciências tática, movimentações e o balanceios ofensivo.

Toda essa explicação pode parecer óbvia e natural, mas dificilmente os times brasileiros realizam tantos triângulos assim em sequência. Pode ser devido às propostas de jogo que não pedem isso. Deve haver falhas na consciência tática, na movimentação e no balanceamento ofensivo, e, por consequência disso tudo, de querer enxergar o ponto futuro. Enfim, a formação constante de triângulos de passe não é tão simples assim.

Além de não ser tão simples assim, a constante realização de triângulos de passe aumenta a chance de o time se manter com a posse da bola. Ademais, é importante ressaltar que se podem formar triângulos de passe com três jogadores qualquer. No caso desse texto, os posicionamentos iniciais de cada jogador foram meramente exemplificativos, já que era para facilitar a compreensão da essencial do triângulo de passe. Assim sendo, qualquer trio de jogador pode formar um triângulo de passe, basta estar próximo e ser uma linha de passe para o portador da bola.

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Caio Gondo

Analista de desempenho do Goiás E.C., criador da página “Traduzindo o Tatiquês” e estou no Twitter como @CaioGondo