O que seria, afinal, linha sustentada?

Caio Gondo
5 min readMay 20, 2018

--

Desde o início da negociação de Fabio Carille com o Al-Hilal, muito tem se falado da “identidade Corinthians” de jogar. Dentre diversos aspectos táticos falados desta “identidade”, um deles é um pouco novo nas mídias esportivas que é a tal “linha sustentada”. Mas afinal o que seria isso? Ela é só vista no modo em que o Corinthians joga desde a primeira passagem de Mano Meneses pelo clube?

A tal linha sustentada da “identidade Corinthians” está sendo passada no clube por esses três técnicos, mas o que é essa linha?

O conceito da linha sustentada é aguentar o máximo de tempo possível com a linha defensiva formada, próxima e com o maior número de jogadores à frente da área de finalização ao gol. Parece um pouco complexa, mas não é tanto não. Um exemplo muito fácil de entender a lógica da linha sustentada é da imagem abaixo do Corinthians de Fábio Carille: veja como Romero e Léo Jabá, mesmo fazendo parte do meio de campo, marcam bem abertos (quase na linha defensiva do Timão) para que a linha defensiva se mantivesse estruturada, próxima e na frente da área de finalização ao gol de Cássio.

Com Romero e Léo Jabá marcando tão abertos, Fagner e Guilherme Arana não precisavam abrir tanto e se mantinham perto de seus zagueiros para possíveis coberturas mais rápidas.

Ter os laterais e os zagueiros mais próximos geram diversas consequências, como é o caso de coberturas mais rápidas (como foi falado acima), de ter possíveis aproximações mais rápidas à frente da área de finalização ao seu gol e de diminuir os espaços entre os defensores para possíveis infiltrações. No entanto para que a linha se mantenha sustentada, gera-se outras consequências em seu time, como é o caso dos extremos marcarem até o fim os laterais adversários, os meio-campistas tendo mais campo para marcar e cede-se mais campo pelo lado inicialmente ao ter os extremos voltando mais. Assim como tudo no futebol, toda escolha tem prós e contras.

No caso da imagem acima do Corinthians de 2017, o meia central e os volantes têm mais campo para fecharem o espaço, já que os extremos ficam bem abertos.

Vale notar de que a linha sustentada não é de exclusividade do Corinthians. Diversos outros times no mundo e, também, no Brasil fazem ou já realizaram o conceito da linha sustentada. Como é o caso do Atlético-PR em 2017! Naquele ano, o Furacão tinha a ideia da linha sustentada como um dos seus aspectos táticos defensivos: os extremos Nikão e Douglas Coutinho voltavam até o final e bem abertos, a linha se mantinha estruturada à frente da área de finalização do seu gol e, ainda, tinha a entrada de outros jogadores para voltar a ter quatro jogadores formando a linha defensiva.

No caso do Atlético-PR, o conceito da linha sustentada tinha o acréscimo da entrada de um jogador que não fazia parte da linha defensiva quando ela tinha algum defensor saindo da linha, como Otávio (volante) está fazendo no flagrante acima.

Esta ideia de ter algum jogador que não fazia parte da linha defensiva entrando nela para voltar a ter quatro defensores à frente da área de finalização do seu gol é, também, realizada no Corinthians desde a primeira passagem de Mano Meneses pelo clube. Passando assim por Tite e por Carille. Ralf, por toda a sua passagem no Timão, foi e é um volante que faz isso muito bem e rapidamente. Esse jogador, em 2015, era o “1” do 4–1–4–1 de Tite e frequentemente entrava na linha defensiva quando um de seus defensores saía para dar combate e, assim, o conceito da linha sustentada se mantinha.

Ao ver Guilherme Arana saindo da linha, Ralf prontamente já entrara nela e voltava a ter quatro jogadores defendendo a área frente do seu gol.

Essa movimentação de quando um jogador da linha defensiva sai da linha é chamada de “quebra da linha”. Cada vez mais estamos ouvindo esse termo nas análises de futebol. Veja pelo link abaixo pela análise de Renato Rodrigues o que é um exemplo de “quebra de linha”.

Uma quebra de linha pode ser para dar combate, para perseguir algum adversário ou quando simplesmente um jogador se posiciona desalinhado aos demais que estão formando a linha. Essas duas últimas situações são mais normais do que parece. No caso de perseguir um adversário é bem fácil de ver a quebra da linha (frame do Palmeiras abaixo). Já para ver um ou mais jogadores desalinhados na linha, há o exemplo do Olympique de Marseille a seguir.

No caso desta quebra de linha, veja onde Edu Dracena foi em relação a Mina para perseguir Jô: houve quebra de linha.
Já aqui, nota-se que os dois laterais (os jogadores mais abertos da linha vermelha) estão quebrando a linha ao se posicionarem desalinhados aos seus zagueiros.

Diante dessas situações de quebra de linha, pode-se concluir de que o conceito de linha sustentada é mais comum e buscado em equipes que marcam por zona do que por perseguição ou individual. Uma vez que se um time marca por perseguição ou individual, constantemente haverá defensores quebrando a linha e não tendo a tal linha sustentada. Já quando é marcação por zona, normalmente, a linha pouco se quebra e é mais fácil de ter esse conceito no sistema defensivo.

Mesmo com um time bem alternativo como foi no amistoso da paz em 2017, Tite usou e usa na Seleção Brasileira o conceito da linha sustentada, pois o seu time marcava por zona e, assim, ficava mais fácil de utilizar deste conceito.

Neste ponto do texto cabe uma reflexão: nas atuais linha de 5, pode-se utilizar do conceito da linha sustentada? Há alguma diferença em relação às linhas de 4? Sim e sim! Havendo a ideia de linha, o conceito de linha sustentada pode ser utilizado. E em comparação da linha de 5 com a linha de 4, há uma sutil e perspicaz diferença: na linha de 5, por mais aconteça alguma quebra de linha, sempre haverá 4 jogadores formando a linha sem ter que tirar outro jogador de outro setor para ter os quatro jogadores em frente da área de finalização do seu gol.

No caso da linha de 5, na temporada 2017/18, tínhamos o Chelsea de Antônio Conte que jogava com uma linha de 5 e veja como o conceito de linha sustentada estava presente: quando um dos 5 defensores quebrava a linha, os demais se aproximavam e se posicionavam em frente da área de finalização da sua meta, como na imagem abaixo. É ou não é o conceito de linha sustentada em uma linha de 5?

Aqui, o ala Moses quebrou a linha, foi dar combate e os demais defensores da linha do Chelsea se aproximaram, se posicionaram em frente da área de finalização da sua meta e se manteve quatro jogadores sustentando a linha. Sim, é o conceito de linha sustentada.

Para facilitar ainda mais a compreensão do conceito de linha sustentada e do que ela gera em campo, o vídeo abaixo tem exemplos do Corinthians de Carille, da Seleção Brasileira de Tite e do Chelsea de Antônio Conte. Em todas as situações, a linha sustentada aparece e em diferentes situações.

Canal no Youtube: Traduzindo o Tatiquês

Página no Facebook: Traduzindo o Tatiquês

Perfil no Instagram: Traduzindo o Tatiquês

--

--

Caio Gondo

Analista de desempenho do Goiás E.C., criador da página “Traduzindo o Tatiquês” e estou no Twitter como @CaioGondo