Para que serve e como usufruir a amplitude ofensiva?

Caio Gondo
5 min readDec 7, 2015

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Desde os tempos que esses esquemas táticos mais recentes (4–2–3–1 e 4–1–4–1) chegaram ao Brasil, os “pontas” voltaram a existir em campo. E devido a isso, uma consequência tática ofensiva passou a aparecer com mais facilidade: a amplitude. No entanto, o que seria essa amplitude e para que ela serve?

A amplitude ofensiva é a distância horizontal entre os dois jogadores mais abertos de um sistema ofensivo. Assim, podemos ter uma amplitude de até cerca 70 metros ou de poucos metros, pois depende de dois jogadores e, além disso, sendo capaz de apresentar uma amplitude ofensiva em qualquer parte do campo ofensivo.

Eis uma imagem de amplitude sendo formada no terço central do campo e gerando dificuldades à linha de 4 do meio-de-campo da equipe adversária.

Antes de entrar na questão para serve a amplitude ofensiva, uma explicação de divisão de espaço do campo ajudaria a entender. Para fins explicativos, o campo será dividido em três partes: o terço defensivo (1° terço), terço central (2° terço) e o terço ofensivo (3° terço). Assim sendo, o campo ficaria divido dessa maneira:

Guarde essa divisão do campo porque será usada a seguir.

Como no campo ofensivo, há uma parte do terço central e o terço ofensivo, a amplitude ofensiva pode estar posicionada em qualquer deles. Tendo dois “espaços” em campo ofensivo, a amplitude tem duas atribuições.

Com a amplitude ofensivo sendo gerada no terço central, ela terá a função de afastar e gerar “buracos”, ou também conhecidos como “gaps”, entre os meio-campistas da linha do meio-de-campo adversária. Devido a esses afastamentos no meio-de-campo adversário, ao se posicionar no terço central, a amplitude ajudará na construção da jogada da sua equipe.

Com a amplitude no terço central, ela causa dificuldade à linha do meio-de-campo adversária. No caso, como Dudu está livre e gerando amplitude.

Já no caso da amplitude ser formada no terço ofensivo, ela continua tendo a função de afastar a linha adversária, mas dessa vez é a linha defensiva adversária. Além disso, a amplitude nesse terço ou “esvazia” o meio-de-campo adversário, ou deixa os laterais adversários no mano a mano; e, também, o extremo oposto ganha a função de entrar na diagonal quando a bola for cruzada vinda do outro lado.

No terço ofensivo, a amplitude continua gerando afastamento da linha: veja onde está o lateral-direito do Corinthians em relação ao zagueiro da direita da equipe.
Aqui, nota-se uma das conseqüências à linha defensiva adversária: a amplitude deixou os laterais adversários no mano a mano.
Ao notar que a bola seria cruzada pela direita, Ewandro (extremo esquerdo) e Marcos Guilherme (meia central) entraram nos gaps gerados pela amplitude formada por Ewandro e Eduardo.

Diante da definição de amplitude ofensiva e demonstrar as suas utilidades e funcionalidades nas diferentes partes do campo ofensivo, esse texto ainda precisa responder a outra pergunta do seu título: como usufruir a amplitude ofensiva?

Para usufruir a amplitude ofensiva, uma função que tem ganhado cada vez mais espaço nos campos brasileiros é mais facilmente utilizada: a do volante construtor. Neste Campeonato Brasileiro, Rafael Carioca do Atlético-MG, Rithely do Sport e Wallace do Grêmio são um dos volantes que se destacaram com essa função. Mas nesse texto terá imagens só da maior revelação do Atlético-PR no Brasileirão de 2015: Otávio. Esse jogador que ganhou maior destaque durante a passagem de Milton Mendes no Furacão é um grande exemplo de volante construtor no Brasil.

Mas oras, por que usufruir a amplitude ofensiva passa por tanta necessidade de o volante construtor? Essa resposta é mais simples do que se pensa. Para desfrutar a amplitude ofensiva, seja ela qual for o terço em que estiver posicionada, o volante construtor tem tempo e espaço suficiente para conseguir achar o jogador que está gerando a amplitude no lado oposto. Isso acontece devido a dois motivos.

O primeiro é que esse volante construtor geralmente se posiciona como opção de retorno para o portador da bola da sua equipe. Desse modo, esse volante fica posicionado afastado da linha do meio-de-campo adversária e com espaço e tempo para dominar a bola e enxergar o campo. Com esse tempo e espaço, o volante construtor conseguiria realizar a virada de jogo longa e acharia um jogador do time livre no lado oposto (eis o segundo motivo e sua justificativa adiante), pois a linha defensiva adversária que estava focada em um lado do campo estaria realizando o balanço defensivo para onde a bola está indo.

Para facilitar a compreensão, veja nessa sequência de imagem da virada de jogo de Otávio contra o Sport:

Como opção de retorno, Otávio está longe da linha do meio-de-campo do Sport (linha laranja).

Além de ter toda essa facilidade em campo ofensivo, esse volante construtor também consegue ter tempo e espaço quando ele recua para auxiliar na saída de bola dos seus defensores. Como essa zona de recuo é um espaço onde não há marcadores adversários tão vorazes e próximos, a possibilidade de realizar um lançamento longo para um dos jogadores que estão gerando a amplitude ofensiva é real.

No caso do PSG, Thiago Motta recuou e passou a ter a possibilidade de abrir o jogo para Aurier ou Maxwel.

Enfim, a amplitude que passou a ser facilitada visualmente após a chegada do 4–2–3–1 e do 4–1–4–1 em gramados brasileiros tem diferentes funções de acordo com o terço do campo em que ela está posicionada. Por outro lado, para poder usufruí-la, um jogador capaz de ter tempo e espaço para achar um dos jogadores que estão gerando essa amplitude ofensiva é importante. Desse modo, nota-se que o futebol brasileiro que utiliza do 4–2–3–1 desde cerca de 2010 tem gerado amplitude ofensiva, mas só em meados de 2015 e com os volantes construtores aparecendo é que realmente está usufruir dela.

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Caio Gondo

Analista de desempenho do Goiás E.C., criador da página “Traduzindo o Tatiquês” e estou no Twitter como @CaioGondo