Por que é 4–1–4–1 e não 4–3–3?
2015, para os brasileiros que acompanham o futebol, foi finalizado com o Mundial de Clubes, tendo o seu vencedor o Barcelona. Aproximadamente um mês atrás dessa conquista, o Corinthians acabara de ser tornar hexa campeão brasileiro. Olhando a distribuição dessas duas equipes, ambas jogam com uma linha de quatro defensores, um jogador à frente dela, dois jogadores à frente deste, dois abertos e um na referência. Mas por que é considerado que o Corinthians joga no 4–1–4–1 e o Barcelona no 4–3–3?
Para responder a essa pergunta, um volta no tempo na história do desenvolvimento dos esquemas táticos será fundamental, pois as argumentações de diferenciação estarão nela.
No primeiro jogo que houve uma organização de distribuição em campo foi em 1880. Nele, uma equipe jogou no 1–1–8 e a outra no 1–2–7. Já o primeiro esquema tático, o 2–3–5 (ou pirâmide) consolidado foi iniciado em 1884, pelo Blackburn Rovers, e perdurou até cerca de 1940. Após a mudança da regra do impedimento, em 1925, o WM (ou 3–2–2–3, para tempos atuais) apareceu, pois, agora, era necessário somente dois jogadores para dar condição ao jogador de ataque. Já em cerca de 1950, apareceu o 4–2–4, diante de tanto recuo de um jogador do meio-de-campo e o avanço de outro jogador do mesmo setor do WM.
É a partir do 4–2–4 que a diferença do 4–3–3 e do 4–1–4–1 aparece. Do 4–2–4, foi oriundo duas linhas de funcionalidade de esquema: a do 4–3–3 e a do 4–4–2. Do 4–3–3, por exemplo, originaram o 4–2–2–2 e o 4–3–1–2; já do 4–4–2 derivou o 4–2–3–1 e o 4–1–4–1.
Mas como essas duas linhas são tão diferentes assim? É devido a movimentação defensiva dos jogadores abertos e a conseqüente concepção defensiva. Isso será desenvolvido com o decorrer do texto.
No 4–3–3, os jogadores abertos se movimentam defensivamente de acordo com a movimentação ofensiva dos laterais adversários: se o lateral ataca, esse jogador recua. Assim sendo, a denominação da função recebida em torna da década de 60 lhe é adequada: esses jogadores fazem a função de ponta. Deste modo, a movimentação defensiva dos pontas é, praticamente, só vertical, pois vai acompanhar a subida retilínea do lateral que avançar.
Além dessa movimentação característica, a movimentação dos três meio-campistas também lhe é peculiar: eles têm a função defensiva de se movimentar para o lado, se caso o ponta daquele lado não recue.
Assim como está sendo mostrado pelos campinhos, o Barcelona apresenta essas movimentações defensivas, veja nesses dois flagrantes:
Só por curiosidade, o 4–2–2–2 e o 4–3–1–2 têm movimentações defensivas semelhantes a do 4–3–3: no 4–2–2–2, o meia do lado só ajuda na marcação quando o lateral daquele lado avança, e no 4–3–1–2, os três jogadores atrás do meia realizam o mesmo balanceamento defensivo que os três meio-campistas do 4–3–3 realizam quando o ponta não recua.
Agora retornando à intenção desse texto. A outra linha de funcionalidade de esquema é a do 4–4–2. Nessa linha, procura-se formar duas linhas de quatro em ação defensiva, independentemente do ataque do lateral adversário. Assim sendo, havendo uma movimentação deste tipo quando a equipe adversária ataca por um dos lados do campo:
Como o 4–1–4–1, assim como 4–2–3–1, é oriundo do 4–4–2, a formação dessa segunda linha de quatro é procurada ser formada independentemente do ataque do lateral adversário. Deste modo, a movimentação dos jogadores abertos é tanto para trás quanto para a diagonal interna defensiva, pois deverá acontecer o balanceamento defensivo para o lado da bola para formar a segunda linha de quatro.
E da mesma maneira que foi em relação ao Barcelona, o Corinthians de 2015 realizou essas movimentações defensivas caracterizando, assim, o uso do 4–1–4–1:
Enfim, as movimentações que caracterizam um 4–3–3 são as movimentações defensivas dos pontas dependente ao ataque do lateral adversário e a movimentação lateral dos meio-campistas, quando necessário; já as que caracterizam um 4–1–4–1 são os recuos em dois sentidos dos extremos para manter a segunda linha de quatro da equipe. Por isso que o Barcelona joga no 4–3–3 e o Corinthians no 4–1–4–1.
Obs: mesmo tendo essas movimentações defensivas que caracterizam o 4–3–3 em relação ao 4–1–4–1 nada impede com que em algumas situações de jogo, algumas delas não se realizem. Pois além dessas movimentações, o que influencia na determinação de um esquema tático é o modo como na maioria do tempo o time se movimenta, já que é somente através de repetição que tal esquema é consolidado como determinado de algum tipo.