Por que é 4–1–4–1 e não 4–3–3?

Caio Gondo
5 min readDec 28, 2015

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2015, para os brasileiros que acompanham o futebol, foi finalizado com o Mundial de Clubes, tendo o seu vencedor o Barcelona. Aproximadamente um mês atrás dessa conquista, o Corinthians acabara de ser tornar hexa campeão brasileiro. Olhando a distribuição dessas duas equipes, ambas jogam com uma linha de quatro defensores, um jogador à frente dela, dois jogadores à frente deste, dois abertos e um na referência. Mas por que é considerado que o Corinthians joga no 4–1–4–1 e o Barcelona no 4–3–3?

Oras a distribuição dos jogadores do Corinthians de 2015 e do Barcelona da temporada 2014/15 é igual, mas por que, então, são considerados esquemas diferentes?

Para responder a essa pergunta, um volta no tempo na história do desenvolvimento dos esquemas táticos será fundamental, pois as argumentações de diferenciação estarão nela.

No primeiro jogo que houve uma organização de distribuição em campo foi em 1880. Nele, uma equipe jogou no 1–1–8 e a outra no 1–2–7. Já o primeiro esquema tático, o 2–3–5 (ou pirâmide) consolidado foi iniciado em 1884, pelo Blackburn Rovers, e perdurou até cerca de 1940. Após a mudança da regra do impedimento, em 1925, o WM (ou 3–2–2–3, para tempos atuais) apareceu, pois, agora, era necessário somente dois jogadores para dar condição ao jogador de ataque. Já em cerca de 1950, apareceu o 4–2–4, diante de tanto recuo de um jogador do meio-de-campo e o avanço de outro jogador do mesmo setor do WM.

Na sequência de aparição, essa é a evolução dos esquemas de forma resumida.

É a partir do 4–2–4 que a diferença do 4–3–3 e do 4–1–4–1 aparece. Do 4–2–4, foi oriundo duas linhas de funcionalidade de esquema: a do 4–3–3 e a do 4–4–2. Do 4–3–3, por exemplo, originaram o 4–2–2–2 e o 4–3–1–2; já do 4–4–2 derivou o 4–2–3–1 e o 4–1–4–1.

Para facilitar a visualização do parágrafo acima, foi feito a imagem acima.

Mas como essas duas linhas são tão diferentes assim? É devido a movimentação defensiva dos jogadores abertos e a conseqüente concepção defensiva. Isso será desenvolvido com o decorrer do texto.

No 4–3–3, os jogadores abertos se movimentam defensivamente de acordo com a movimentação ofensiva dos laterais adversários: se o lateral ataca, esse jogador recua. Assim sendo, a denominação da função recebida em torna da década de 60 lhe é adequada: esses jogadores fazem a função de ponta. Deste modo, a movimentação defensiva dos pontas é, praticamente, só vertical, pois vai acompanhar a subida retilínea do lateral que avançar.

Com a movimentação defensivamente dos jogadores aberto condicionada à movimentação dos laterais adversários, parte do 4–3–3 fica caracterizado da maneira acima.

Além dessa movimentação característica, a movimentação dos três meio-campistas também lhe é peculiar: eles têm a função defensiva de se movimentar para o lado, se caso o ponta daquele lado não recue.

Sem o ponta do lado recuando, há a movimentação lateral defensiva (setas amarelas) dos jogadores do meio-de-campo para ajudar na marcação na zona à frente do lateral (retângulo azul).

Assim como está sendo mostrado pelos campinhos, o Barcelona apresenta essas movimentações defensivas, veja nesses dois flagrantes:

Neymar só recuou porque o lateral-direito avançou, e Messi só está recuando porque o lateral-esquerdo está subindo.
Sem o lateral adversário não estiver atacando, o ponta não recua e os meio-campistas acabam se movimentando lateralmente para ajudar na marcação na zona à frente do seu lateral. Essa movimentação lateral defensiva é chamada de balanceamento defensivo.

Só por curiosidade, o 4–2–2–2 e o 4–3–1–2 têm movimentações defensivas semelhantes a do 4–3–3: no 4–2–2–2, o meia do lado só ajuda na marcação quando o lateral daquele lado avança, e no 4–3–1–2, os três jogadores atrás do meia realizam o mesmo balanceamento defensivo que os três meio-campistas do 4–3–3 realizam quando o ponta não recua.

Em 1999, o Palmeiras campeão da Copa Libertadores da América jogava no 4–3–1–2. Sendo assim, veja onde está Zinho e os demais meio-campistas em relação ao lado do ataque adversário: é o mesmo balanceamento defensivo dos meio-campistas do 4–3–3!

Agora retornando à intenção desse texto. A outra linha de funcionalidade de esquema é a do 4–4–2. Nessa linha, procura-se formar duas linhas de quatro em ação defensiva, independentemente do ataque do lateral adversário. Assim sendo, havendo uma movimentação deste tipo quando a equipe adversária ataca por um dos lados do campo:

Nessa imagem do Atlético-PR na época de Milton Mendes em 2015, nota-se a formação das duas linhas de quatro independentemente do ataque do lateral adversário, já que o adversário está atacando pela direita e o extremo oposto, Douglas Coutinho, está formando a linha de quatro.

Como o 4–1–4–1, assim como 4–2–3–1, é oriundo do 4–4–2, a formação dessa segunda linha de quatro é procurada ser formada independentemente do ataque do lateral adversário. Deste modo, a movimentação dos jogadores abertos é tanto para trás quanto para a diagonal interna defensiva, pois deverá acontecer o balanceamento defensivo para o lado da bola para formar a segunda linha de quatro.

Como há a intenção de formar a segunda linha de quatro, os jogadores abertos se movimentam constantemente para dois sentidos defensivos: para trás e na diagonal interna.

E da mesma maneira que foi em relação ao Barcelona, o Corinthians de 2015 realizou essas movimentações defensivas caracterizando, assim, o uso do 4–1–4–1:

Mesmo com o ataque do Atlético-MG sendo pela esquerda, Malcom está voltando e formando a segunda linha de 4 do Corinthians.
Assim como Malcom, Jadson também fazia o mesmo quando a equipe adversária atacava no seu lado oposto.

Enfim, as movimentações que caracterizam um 4–3–3 são as movimentações defensivas dos pontas dependente ao ataque do lateral adversário e a movimentação lateral dos meio-campistas, quando necessário; já as que caracterizam um 4–1–4–1 são os recuos em dois sentidos dos extremos para manter a segunda linha de quatro da equipe. Por isso que o Barcelona joga no 4–3–3 e o Corinthians no 4–1–4–1.

Obs: mesmo tendo essas movimentações defensivas que caracterizam o 4–3–3 em relação ao 4–1–4–1 nada impede com que em algumas situações de jogo, algumas delas não se realizem. Pois além dessas movimentações, o que influencia na determinação de um esquema tático é o modo como na maioria do tempo o time se movimenta, já que é somente através de repetição que tal esquema é consolidado como determinado de algum tipo.

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Caio Gondo

Analista de desempenho do Goiás E.C., criador da página “Traduzindo o Tatiquês” e estou no Twitter como @CaioGondo