Tipos e princípios de ataques no futebol

Caio Gondo
8 min readMar 19, 2020

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Desde o início do trabalho de Jorge Jesus no Flamengo chama a atenção de muita gente. Após os títulos, então, atraiu ainda mais olhos. No entanto, no meio do desenvolver desse trabalho, na imprensa brasileira, ganhou uns debates de qual é o conceito desse Flamengo para atacar. Chegando a conversar se é algo novo aqui no Brasil, e até se é algum conceito usado na Europa. Através deste cenário, este texto irá abordar 3 tipos de conceitos de ataque, dentre eles, o do Flamengo de Jorge Jesus. E além desses tipos de ataques, também será abordado três princípios ofensivos em comum desses modos de atacar.

Desde que Jorge Jesus assumiu o Flamengo, o clube não parou de ganhar títulos. Mas, dentro de campo, qual é a ideia de ataque desta equipe?

Antes de começar a mostrar algumas ideias de ataque, a intenção deste texto não é destrinchar todos os detalhes de todas as formas de ataques (como, por exemplo: os movimentos de saída, de construção e de finalização), mas, sim, alcançar os conceitos de cada uma delas. Ter um conceito é ter um caminho a perseguir quando um time ataca e, após ter essa ideia definida, então, vem os movimentos e os porquês de cada um deles. No caso daqui alguns movimentos vão acabar aparecendo para deixar bem clara o conceito, mas não terá como apresentar todos os movimentos de cada tipo de ataque. Voltando ao assusto do texto, vamos começar pelos atuais campeões da Europa e da América.

Ataque rápido

Tanto o Liverpool de Jurgen Klopp e o Flamengo de Jorge Jesus têm como ideia de ataque um tipo chamado “ataque rápido”. Esta ideia consiste em não ficar trabalhando muito a bola e definir rapidamente o ataque, mas vale notar de que esse tipo de ataque não consiste somente em contra-ataques, mas, sim, em ataques rápidos! Como a ideia é ter um ataque rápido, os jogadores procuram ser opções de passe para frente para que muitos dos passes sejam para frente e para que, então, chegue na frente com mais rapidez. Vale a ressalva de que esses times, assim como outros que têm ataques rápidos, chegam a trabalhar um pouco a bola antes de definir a jogada, mas não é o aspecto tático com maior ênfase do ataque dessas equipes.

O Flamengo de Jorge Jesus é um dos exemplos de time que tem ataque rápido.

Aqui, como a ideia é ter um ataque rápido, dentre os movimentos ofensivos que mais se repetem são: opções de passes para frente, sair de um posicionamento e ir para o outro, abrir espaço para companheiros, ataque ao espaço vazio gerado e um perde pressiona forte. Na imagem acima, temos Bruno Henrique se movimentando para a esquerda, atraindo a atenção do lateral direito e de um zagueiro do Grêmio e, assim, abrindo um espaço para que Éverton Ribeiro e Gabigol pudessem atacar e que possam receber na frente. Essa movimentação não lembra a movimentação de Roberto Firmino recuando e abrindo espaço para Mané e Salah atacarem?

Ataque posicional

Esse é um tipo de ataque já bem batido aqui no blog e já bem conhecido pela internet. Esse tipo de ataque tem o intuito de trabalhar mais a bola, de levar ela de um lado para outro, através de um posicionamento inicial mais fixo. Aqui, muitas vezes, vai haver amplitude, jogadores na entrelinha, jogador para retorno, jogador gerando profundidade e sempre tendo a bola como um dos meios para desequilibrar o sistema defensivo adversário. Para que a bola desequilibre, o passe e a posição corporal em relação à jogada são fundamentais para que a bola gere esse desequilíbrio no adversário. No entanto, esse posicionamento inicial mais fixo passa a ser “quebrado” com o passar do ataque e ganhando campo através de ataques aos espaços vazios gerados através deste posicionamento inicial.

Os times de Pep Guardiola são os exemplos mais conhecidos de times que atacam através de um ataque posicional.

Neste tipo de ataque, o posicionamento inicial dos jogadores faz com que o time adversário seja induzido à ou ficar mais largo (espaço horizontal), ou mais cumprido (espaço vertical), pois o time que usa um ataque mais posicional vai querer ter a amplitude e a profundidade como um dos meios para gerar desconforto ao adversário. Com esses aspectos táticos, ora a equipe posicional encontra espaço pela faixa central do campo, ora pelos lados do campo. Daí tendo espaço, a tabela rápida e curta, que foram graças ao posicionamento corporal dos jogadores em campo, poderá ser feita e será eficiente para ganhar campo.

Ligação direta

Nos ataques com intuito de ligação direta são mais fáceis de perceber e de notar. A ideia é chegar o mais rápido possível ao campo ofensivo e muitas vezes, o meio para que a bola chegue na frente é através de um lançamento. Atenção lançamento é uma bola longa direcionada, enquanto que chutão é uma bola longa sem rumo! São diferentes apesar de parecidas. Aqui, os exemplos mais conhecidos são o Atlético-MG de Cuca (o “Galo Doido”), o Palmeiras de Felipão com Deyverson e os times de Marcelo Oliveira. Em todos esses, a ideia era chegar ao ataque através de um lançamento.

O “Galo Doido”, o time do Palmeiras de Felipão com Deyverson e os times de Marcelo Oliveira são exemplos bem claro do que é um time que ataca com ligação direta.

Na imagem, temos as movimentações que mais se repetem neste tipo de ataque: a bola vem lançada até um jogador que a escora ou cabeceia bem- no caso é o Jô-, enquanto a bola está no alto, um jogador ataca o espaço vazio atrás do jogador que foi dividir a bola –no caso é Bernard com a seta amarela-, e um ou mais vem para receber a 2ª bola –que no caso é Tardelli e Ronaldinho Gaúcho. Neste tipo de ataque e com essas movimentações acontecendo simultaneamente, tanto a bola resvalada tem alguém para pegar, quanto a bola que vem curta.

Vale aqui um toque: você percebeu de que esse tipo de ataque tem ideia e movimentações diferentes de um time de ataque rápido? Na ligação direta, a bola vem pelo alto, tem disputa da 1ª e da 2ª bola, e um jogador indo para a bola resvalada. Já no time de ataque rápido, a bola vai no chão, há uma movimentação para atrair a marcação e criar espaço e, então, vem jogador (es) naquele espaço vazio gerado. A ideia e as movimentações são bem diferentes, e por isso não tem como se assemelharem entre si.

Terminado as explicações teóricas rápidas e objetivas, no vídeo no fim do texto, você verá esses tipos de ataque funcionando e poderá ver como eles funcionam de maneiras diferentes entre si e, também, os princípios ofensivos em comuns dos três que serão explicados logo em seguida.

Princípios em comum

Apesar de todos esses tipos de ataque sejam diferentes na maneira de agir, eles têm alguns princípios táticos ofensivos em comum, que são eles: atração, ataque ao espaço vazio e ganhando campo com a bola.

Atração

Em todos eles, o time que está com a bola atrai o adversário de alguma maneira e, então, joga a bola para está fácil de jogar naquele momento. O princípio da atração é muito importante para poder atacar com mais facilidade, pois uma parte do time adversário estava preocupado com outra situação até segundos antes daquele passe ou lançamento em outro lugar. Peguemos um dos os três tipos de ataques abordados neste texto. No caso do ataque de ligação direta, temos o centroavante ou o jogador alvo das bolas alçadas se deslocando até um adversário menor ou até uma região pré-determinada para que, então, possa disputar a 1ª bola. Esse deslocamento faz com que algum adversário vá até ele, o qual normalmente é um jogador alto e que normalmente é um zagueiro. Desta maneira, essa equipe que está atacando atraiu um zagueiro para fora da linha defensiva.

No caso da imagem acima, temos Borja atraindo um zagueiro do Athlético-PR para fora da linha defensiva rubro-negra. Isso é atração.

Atração também está relacionada ao chamar todo ou quase todo sistema defensivo adversário para um lado do campo e, então, começar a virar rapidamente a bola para o lado do campo que ficou mais desguarnecido. Essa atração é muito usada, pois independentemente do modo de marcação das equipes, nenhuma delas consegue ocupar todo o campo defensivo ao mesmo tempo! Deste modo, se o time que está atacando conseguir atrai o time adversário para um lado e conseguir fazer com que a bola chegue até o outro, as chances de chegar mais à frente são grandes.

Aqui temos um exemplo do que foi explicado anteriormente: o Real Madrid atraiu quase todo o sistema defensivo do PSG para a esquerda madrilena e, então, fez com que a bola chegasse rapidamente até o seu lado direito com Nacho, que estava aberto na direita. Vejam que há grandes chances de Nacho conseguir chegar mais à frente com a bola do que ela estava anteriormente.

Ataque ao espaço vazio

Esse princípio ofensivo está muito atrelado ao princípio anterior, mas o ataque ao espaço vazio pode ser realizado sozinho. O ataque ao espaço vazio por si só já diz o que está querendo ser feito, mas ele é realmente mais efetivo quando o time proporciona espaços vazios após movimentações e, assim, atraindo algum adversário para fora do seu lugar de origem.

Veja em exemplo para ficar bem claro. Um time que atualmente faz muito isso é o Liverpool de Jurgen Klopp: Firmino sai da referência do ataque, recua até a entrelinha adversária e, com isso, normalmente atrai um zagueiro consigo. Com o zagueiro saindo da linha defensiva, Mané e Salah ficam com aquele espaço que o zagueiro adversário deixou para poder receber a bola em progressão. Esse movimento de correr para o espaço vazio gerado e poder receber a bola em progressão naquele espaço que está sem ninguém que é o tal de “atacar o espaço vazio”.

No flagrante acima fica evidenciado o que foi explicado anteriormente: vejam até onde Firmino tirou o zagueiro adversário da linha defensiva e reparem no espaço momentâneo e vazio que está entre o lateral direito e o zagueiro da esquerda do Leicester. Ali está o espaço vazio gerado e que será atacado por, no caso, Salah.

Ganhando campo com a bola

Este é um princípio ofensivo mais fácil de ser visualizado em times que procuram ter a posse de bola para atacar, mas, também, é vista nos demais tipos de ataque. Ganhar campo significa conseguir ficar mais longe da meta que o seu goleiro está defendendo, ou seja, quanto mais se caminha para longe do seu goleiro, mais se está ganhando campo. Diante disso, temos que todas as equipes que está atacando está querendo ganhar campo com a bola. Algumas realizam isso de maneira mais evidente, e outras de maneiras mais simplórias, mas todas querem ganhar campo tendo a maneira para tal que varia de uma para outra.

Vejamos isso nos times de Pep Guardiola: nas equipes do atual técnico do Manchester City, temos que a equipe já se posiciona com intuito de abrir espaços no sistema defensivo adversário para que, então, fique mais fácil de ganhar campo com a bola, já que há espaços vazios gerados.

No frame acima, nota-se inicialmente aspectos do ataque posicional de Guardiola: Danilo e Zinchenko por dentro, e os pontas –no caso só aparecendo Sterling- gerando amplitude. Com esses posicionamentos já temos que Danilo está atraindo o ponta esquerdo para o meio; a linha de 4 do Burnley não sabe como marcar De Bruyne, Zichenko e Fernandinho pelo meio; Aguero está no zagueiro oposto e abrindo um espaço entre os zagueiros; e Gundogan está atraindo a atenção do zagueiro da esquerda. Só na imagem, há três espaços vazios os quais o City pode continuar a ganhar campo com a bola.

Agora visto três tipos de ataque e princípios ofensivos em comum em todos eles, vejam no vídeo abaixo eles acontecendo em movimento e na prática:

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Caio Gondo

Analista de desempenho do Goiás E.C., criador da página “Traduzindo o Tatiquês” e estou no Twitter como @CaioGondo