O MAIOR E MAIS ANTIGO MUSEU DO BRASIL

Carla Maria Martins
6 min readSep 25, 2018

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VISTA DA FACHADA DO MUSEU NACIONAL
Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro, RJ

O Museu Nacional do Rio de Janeiro era a instituição científica mais antiga que o Brasil possuía. Seu acervo continha cerca de 20 milhões de itens, os quais faziam parte das áreas da ciência como Zoologia, a Arqueologia, a Etnologia, a Geologia, a Paleontologia e a Antropologia Biológica.

A sua fundação ocorreu em 1818, pelo rei Dom João VI e a instituição era também um centro de pesquisa, onde alunos da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisadores pudessem estudar mais da história. Uma visita a sua exposição, permitia ao visitantes conhecer um panorama histórico da ciência e da tecnologia brasileiras, assim como também de muitas outras culturas.

O palácio onde o Museu Nacional se instalava fez parte da História do Brasil, assim como também foi residência da família real brasileira, desde a sua chegada no ano de 1808, até a proclamação da República, em 1889. Em 1892, tornou-se sede o Museu.

A exposição que estava presente no Museu Nacional era organizada em 8 diversas seções, sendo elas: Evolução da Vida, Nos Passos da Humanidade, Culturas Mediterrâneas, Egito Antigo, Arqueologia Pré-colombiana, Arqueologia Brasileira, Etnologia Indígena Brasileira e Culturas do Pacífico.

SEÇÕES DO MUSEU NACIONAL

FÓSSIL DE UM LAGARTO AQUÁTICO

EVOLUÇÃO DA TERRA

Umas das primeiras seções encontradas no Museu Nacional era a área da Evolução da Vida. A seção contava um pouco sobre o surgimento da Terra a 4,5 bilhões de anos atrás, além das primeiras aparições do homem e do desenvolvimento de animais invertebrados. Sobre o território brasileiro, havia registro de cerca de 110 milhões de anos e dos primeiros animais que viveram no sertão Nordestino, como os dinossauros. O Museu Nacional tinha vários exemplares de esqueletos encontrados no território brasileiro, entre eles, o Angaturama limai (dinossauro carnívoro), Santanaraptor placidos, Maxakalisaurus topai (dinossauro herbívoro) e o Unaysaurus tolentinoi.

Trânsito no Cairo | Fonte: www.wikimedia.org

NOS PASSOS DA HUMANIDADE

Entrando na seção sobre Os Passos da Humanidade, tínhamos mais detalhadamente sobre o origem do Homem Moderno, o Homo Sapiens. Alguns registros que foram perdidos registravam que a partir de seis milhões de anos atrás, diferentes gêneros e espécies foram encontrados apresentando características fundamentais para o surgimento da espécie humana. Além do Homo Sapiens, era contado a história sobre outras espécies, como o Homo Habilis e Homo Neanderthelensis. Nas terras brasileiras, Luzia era o esqueleto mais antigo de Homo sapiens e era uma das maiores atrações. Na exposição do Museu Nacional/UFRJ tinha exemplos de algumas das espécies mais conhecidas dessa longa trajetória evolutiva, na qual somos os últimos representantes.

ESCULTURA FEMININA SEM CABEÇA
Mármore branco e rosado. Veio, Itália 60 cm.

CULTURAS MEDITERRÂNEAS

A coleção de peças das Culturas Mediterrâneas faziam parte da antiguidade clássica do Museu Nacional e eram da coleção pessoal da Imperatriz Tereza Cristina. Está coleção tinha cerca de 700 peças entre objetos de bronze, terracota, vidro e afresco, produzidos entre o século VII a.C e o século III d.C. A exposição do Museu Nacional estava organizada de modo a informar ao público dados sobre a cultura, o cotidiano e a arte desse período e era bastante visitada.

MÁSCARA FUNERÁRIA, Período Prolomaico, 304 a.C.
Cartonagem com douração; Egito Antigo; 28 cm

EGITO ANTIGO

Em 1826, Dom Pedro I, através de um leilão, comprou a maior parte do acervo egípcio do Museu Nacional. Alguns peças que faziam bastante sucesso entre os visitantes era o esquife de Sha-amun-em-su, um presente pessoal dado por um soberano egípcio ao Imperador Dom Pedro II. As peças desta seção tinham valor artístico e histórico, justamente por trazerem informações sobre a sociedade que as produziu. Na coleção principal do Museu Nacional, encontravam-se em exposição três múmias que se destacavam, sendo elas: Hori, Harsiese e a Múmia Feminina, esta última uma peça rara devido à técnica que mantém os membros enfaixados separadamente.

VASO ZOOMORFO
Cerâmica, Peru

ARQUEOLOGIA PRÉ-COLOMBIANA

Quando se falamos sobre a história da ocupação das Américas, estaremos falando sobre polêmica. Há provas da presença humana há 12 mil anos, mas alguns estudos recuam a data para 50 mil anos atrás. Mas apesar disso, o legado desses povos faz um mosaico de trajetórias e tradições. Estudos arqueológicos indicaram que os habitantes das Américas estavam por todo o continente e possuíam uma rede de trocas e difusão ideológica. No Museu Nacional, havia peças produzidas pelos povos Mochica, Chimu, Nasca, Chankay e Incas. Também múmias andinas que diferem das egípcias, tais como, a Aymara, o menino mumificado, e o corpo achado em Chiu-Chiu, no deserto de Atacama, no Chile. Havia também uma múmia encontrada em território brasileiro e a múmia de cabeça elaborada pelos Jivaros, grupo que viveu na Amazônia equatorial.

PEÇA ANTROPOMORFA EM FORMA DE FALO, 400 a 1400 a.D.
Cerâmica Marajoara, 13 cm

ARQUEOLOGIA BRASILEIRA

Há vestígios dos primeiros ocupantes do território brasileiro em todo o país, mas em Lagoa Santa, Minas Gerais, são mais abundantes. Lá foi encontrado o esqueleto mais antigo das Américas, popularmente conhecido como Luzia e datado de 12 mil anos atrás. As pesquisas, neste sítio arqueológico, aconteceram em etapas sucessivas e, nos anos 1970, o Museu Nacional participou de uma missão franco-brasileira que achou o crânio de Luzia. Na coleção do Museu encontravam-se exemplos da Cerâmica Tupiguarani, dos habitantes da região de Santarém, da ilha de Marajó e Miracanguera. Umas das coisas que mais chamavam atenção nesta seção eram as urnas funerárias.

COIFA DE PENAS
Grupo Mundurukú

ETNOLOGIA INDÍGENA BRASILEIRA

Na seção de Etnologia Indígena Brasileira, havia diferentes tipos de objetos que mostravam a presença de variadas culturas indígenas. As peças mostravam a riqueza da cultura indígena e as práticas culturais indígenas. O acervo do Museu Nacional abrigava milhares de objetos provenientes de diversos grupos situados no território brasileiro. Lá estavam objetos de cestaria, cerâmica, armas e armadilhas, seus instrumentos musicais e sua arte plumária. A riqueza das coleções caracteriza este acervo como um dos mais importantes do país.

MANTO OWHYEEN E COLAR OWHYEEN
Ilhas Sandwich, hoje Havaí

CULTURAS DO PACIFICO

A seção sobre as Culturas do Pacífico apresentava uma das primeiras coleções de acervo estrangeiro do Museu, onde se destacam dois raríssimos casacos esquimós das Ilhas Aleutas, machados de pedra com cabos entalhados em madeira provenientes das Ilhas Cook e o manto e colar real Owhyeen, confeccionados com plumas, presenteados pelo Rei Tamehameha II e pela Rainha Tamehamalu, das Ilhas Sandwich, ao Imperador D. Pedro I, em 1824.

VISTA AÉREA O MUSEU NACIONAL EM CHAMAS

Desde 2014, o Museu Nacional vinha sofrendo vários cortes da verba necessária à sua manutenção e isso estava prejudicando o funcionamento do mesmo. Em 2018, quando o museu completou duzentos anos, o valor recebido era quase nulo.

A estrutura do prédio apresentava sinais visíveis de má conservação, como paredes descascadas e fios elétricos expostos. Várias salas estavam sendo fechadas por total impossibilidade de uso. O espaço que abrigava uma das maiores atrações — a montagem da primeira réplica de um dinossauro de grande porte feita no Brasil — fechou por estar infestada de cupins.

Em 2 de setembro de 2018, um incêndio de grandes proporções atingiu todos os três andares do prédio do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista. Coleções inteiras haviam sido destruídas pelo fogo, assim como duas exposições que estavam em duas áreas da frente do prédio principal e isso foi considerada uma das piores tragédias do país, pois a história de milhões de anos, tinha sido reduzida a cinzas em poucas horas.

Em 2 de setembro de 2018, o Brasil iria dormir mais pobre de conhecimento cultural.

REFERENCIAS

Museu Nacional/UFRJ. Guia de Visitação do Museu Nacional. Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.museunacional.ufrj.br/guiaMN/Guia/paginas/menu.htm>. Acesso em: 17 de setembro de 2018.

Wikipedia. Museu Nacional (Rio de Janeiro). Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_Nacional_(Rio_de_Janeiro)>. Acesso em: 17 de setembro de 2018.

Museu Nacional-UFRJ. Museu Nacional. Disponível em: <http://www.museunacional.ufrj.br/>. Acesso em: 17 de setembro de 2018.

Thanks to Gabriel Tesser Felix.

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