O que Émile Durkheim falou sobre a educação?

Cezar Augusto Sebastião de Melo
3 min readMay 26, 2018

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DURKHEIM, Émile. Educação e sociologia. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.

Entre os clássicos da sociologia, Émile Durkheim (1858–1917) foi o que mais se aprofundou na temática da Educação. No centro das transformações sociais da Europa, percebeu que os processos educacionais são fatos sociais que contribuem para o funcionamento da sociedade.

Dentro dos aspectos analíticos ele coloca a educação no sentido amplo do termo, para além da escolarização. A educação também assume um sentido plural e dinâmico que sobre sua base repousa algo comum: cada sociedade alimenta certo ideal humano. Nessa perspectiva fica claro que a educação aparece como um amplo processo socializador onde pais e educadores ensinam as crianças e adolescentes com base num ideal compartilhado pela sociedade. Portanto, a educação é uma ação exercida com a justificativa da manutenção da coesão social diante da imaturidade que crianças e jovens carregam.

“A sociedade não somente eleva o tipo humano à dignidade de modelo para o educador reproduzir, como também o constrói, e o constrói de acordo com suas necessidades. […] O homem que a educação deve realizar em nós não é o homem tal como a natureza o criou, mas sim tal como a sociedade quer que ele seja.” (p. 107)

Para isso é preciso entender as duas dimensões da consciência do individuo: os pensamentos individuais e o pensamento coletivo, este último obviamente está ligado a um sistema de ideias, sentimentos e hábitos que exprimem os grupos dos quais pertencemos; ambos formam o que Durkheim chama de ser social, que é o objetivo da educação.

“Ela tem como objetivo suscitar e desenvolver na criança um certo número de estados físicos,intelectuais e morais exigidas tanto pelo conjunto da sociedade política quanto pelo meio específico ao qual ela está destinada em particular. (p. 13)”

Com base nessa análise, Durkheim estabelece uma diferenciação entre educação e pedagogia e depois reivindica um lugar para a sociologia nos estudos sobre os fenômenos educacionais. Na primeira critica estabelece a educação como ação exercidas pelos pais e professores — portanto, algo geral e constante — e a pedagogia se ocupa nas formulações teóricas que explicitam as maneiras de conceber a educação, ou seja, se ocupa com os processos reflexivos que envolvem a educação. Para Durkheim a pedagogia é rebelde, pois está sempre repensando suas ações.

Seguindo este caminho Durkheim reforça o papel da Sociologia, pois se trata de um papel “preponderante para a determinação dos fins que a educação deve buscar” (p. 114). Apenas a sociologia pode ajudar a compreender o fenômeno da educação, pois os fenômenos educacionais estão relacionados com o sistema social e a dimensão individual que a psicologia estuda indicam os mecanismos para readequar os indivíduos aos processos mais amplos da vida social. Essa crítica direcionada a psicologia aparece porque os estudos da época a relacionava com a pedagogia.

É perceptível na argumentação de Émile Durkheim a sua perspectiva sociológica sobre a sociedade. Pesa aqui uma estrutura que é anterior aos indivíduos e que determina as formas de pensar, sentir e agir no convívio com a coletividade. O Durkheim apresenta a educação como uma dimensão socializadora que coloca crianças e jovens numa posição de passividade, como se esses não fossem sujeitos que também influenciam o coletivo. A influência positivista, neste sentido, retira a historicidade das coisas e as apresenta de maneira descritiva, cristalizando assim uma essencialidade que não evidencia seu processo construtivo.

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Cezar Augusto Sebastião de Melo

Graduado em Ciências Sociais, Mestre em Educação e professor na Educação Básica. Este espaço é dedicado às produções acadêmicas de minha autoria ou co-autoria.