Salgueiro de São Gonçalo: A falta de respostas que legitima novas violações

Boletim DefeZap
3 min readAug 30, 2018

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Da Redação

No dia 26 de julho de 2018, em mais uma visita do Circuito Favela por Direitos mobilizado pela Ouvidoria da Defensoria Pública junto com entidades da sociedade civil e do Estado, o DefeZap voltou ao Salgueiro de São Gonçalo, desta vez no Conjunto da Marinha. A visita se deu por conta de uma série de denúncias de abusos cometidos por militares das Forças Armadas, que encontram-se atuando na região desde o dia 13 de julho, contando com a atuação de mais de 180 homens.

Dentre as violações cometidas pelos militares nesta operação, chama atenção o ataque a um carro com uma família (pai, mãe e filho de 2 anos). Segundo reportagem do jornal o Fluminense, “o caso foi registrado na 72ª DP (Mutuá) como tentativa de homicídio por um pescador de 23 anos que estava com a mulher e o filho de dois anos em um carro que, segundo ele, teria sido fuzilado pelos militares com mais de 30 tiros. O pescador contou que foi atingido sem gravidade por três disparos e que a mulher e a criança ficaram feridas por estilhaços. Os militares, segundo ele, teriam confundido um bebedouro de passarinho que carregava com uma arma.”

A tensão da população local com os militares na região do Salgueiro não é novidade. No início da madrugada de 11 de novembro de 2017, uma operação conjunta do Comando Militar do Leste e da Polícia Civil terminou com a morte de pelo menos sete pessoas, além de diversas pessoas feridas. Apesar dos militares negarem participação na chacina, informações recebidas pelo DefeZap revelaram que helicópteros completamente apagados foram vistos sobrevoando a região na noite de 10 de novembro, cerca de duas horas antes dos assassinatos. Das aeronaves, teriam descido homens de rapel. A informação coincide com relatos de sobreviventes, que descreveram os atiradores com fardas e equipamentos semelhantes aos das tropas especiais das Forças Armadas.

De acordo com o relato de uma testemunha, divulgado pelo jornal Extra, os disparos que mataram 8 pessoas saíram da mata onde militares do exército teriam se escondido: “Saí da casa da minha namorada por volta de 0h30 de moto. Vi um amigo num ponto de ônibus e dei carona para ele. Pegamos a Estrada das Palmeiras. Num momento, ouvi fogos, mas como não vi nenhum caveirão, segui. Pouco depois, passou um carro, muito rápido, do meu lado. Logo depois fui atingido nas mãos. Os tiros vieram de dentro do mato. Só depois de caído, vi que vários homens de preto, todos cobertos e com capacetes, saíram do matagal. Todos estavam com fuzis. Das armas, saíam aquelas marcas de mira a laser. Antes de ser atingido, vi algumas pelo meu corpo”.

Passados nove meses, até agora não há qualquer sinal de responsabilização dos responsáveis pela chacina. De acordo com informações da ONG Human Right Watch, as Forças Armadas estão bloqueando as investigações ao não disponibilizarem seus soldados para prestar depoimentos como testemunhas ao Ministério Público Estadual. Enquanto isso, os moradores do Salgueiro de São Gonçalo continuam sofrendo com as arbitrariedades cometidas pelos militares.

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