#MeuLugarEmTI

Desprograme
7 min readFeb 6, 2018

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Como tudo começou… A história completa…

O que aconteceu de fato? Como essa história veio à tona?

Na última quinta-feira à noite, chegou uma pessoa “X” que parou na nossa bancada roxa da “Women Dev Summit”, com cara de apavorado dizendo: “Preciso muito conversar”.

Na hora respondi: “Pode falar. Senta aí”. Foi então que a pessoa “X” relatou o que tinha presenciado: “Eu estava assistindo uma palestra do Sergio Soares, após a palestra fizemos um talk off, com perguntas sobre a palestra, uma roda só de meninos, no final dessa talk o Sergio Soares falou:

“Não devemos contratar mulheres”, “Mulheres não servem para programação” , “e quando ela entra na empresa virar uma Smurfette paparicada por todos os homens” e “ não podemos deixa mulheres juntas na empresa, para não virar uma rede de fofoca”.

Após o relato do garoto, olhei para ele com olho lacrimejando e fiquei bem revoltada. Chamei a Alline O. e disse que tinha trabalho para ela.

Eu e Alline começamos a procurar o Palestrante e nesse momento partimos para procurar a organização do evento e solicitar um posicionamento, afinal nós da “Women Dev Summit” tivemos tanto trabalho para trazer mais mulheres para o evento e não podíamos admitir algo dessa natureza naquele espaço. Conversei com um Staff de conteúdo que ficou de passar o posicionamento para organização.

Segue fala do Staff:

“Isso realmente não pode acontecer. Eu também defendo essa causa, luto pela causa dos grupos LGBT e pelo empoderamento negro. Sei como você está se sentido, pode ficar tranquila que iremos nos posicionar.”

Em seguida, fui encontrar Alline O. na Cavalaria Geek. Quando cheguei encontrei vários meninos revoltados com o fato e confesso que fiquei impressionada. Nunca tinha visto uma cena de tanta empatia: esse é o espírito dos campuseiros. A menina que tinha subido o twitter pediu para que compartilhássemos e marcássemos as pessoas para cobrar uma posição. Fiz o rtt e marquei outras pessoas conforme mostrado na imagem acima.

Voltei para a bancada porque queria terminar minhas coisas. No entanto, chegaram mais pessoas falando sobre o assunto e acabei indo dormir às 4h da manhã.

Quando acordei, a Alline O. me disse que conversou com o Sergio Soares e que ele tinha negado tudo. Pedi para que me levasse até ele. Eu o encontrei na bancada do Casemonstro e fomos conversar. Então, ele ligou para a empresa dele e fez questão que eu falasse com a funcionária do RH. Como a bancada estava muito barulhenta, fomos para um local mais afastado e sentamos. Nesse momento chega uma menina que pertence ao “Instituto da Campus Party” que passou a acompanhar a conversa. O Sergio Lopes fez várias perguntas para a funcionária do RH tais como: quantos funcionários têm na empresa, quantas mulheres e porque ele não consegue contratar mulher. Ele falou que tem ISO 9000 no processo de contratação e explicou como funciona:

“Divulgo vaga pelo jornal e Linkedin. Daí o RH faz o processo de contratação e ele e a equipe de TI aprovam os candidatos. Eles falam que não recebem CV de mulheres.”

Daí respondi a ele: “Eu, por exemplo, só uso trampo.co. Odeio o Linkedin e não vejo jornais para procurar emprego (confesso que achava que não existia mais jornal de vaga de emprego).

Após essa conversa, ele desligou o telefone e começou a falar da própria trajetória, da empresa, como funcionava o processo, como trabalhava, como conheceu o Casemonstro, porque foi palestrar na Campus e sobre o motivo do patrocínio.

Depois a conversa chegou no ponto em que ele começou a falar sobre a notícia. Disse que considerava uma fofoca e que soube através da assessoria de imprensa que mandou para ele o twitter da menina, aquele que foi o primeiro sobre esse assunto (veja imagem acima).

Sergio Soares disse mais: “Não falei isso, não. Só havia meninos na roda, a única menina presente estava longe e logo saiu. Acho que foi essa menina que twittou. Eu falei para os meninos que não consigo encontrar meninas, que na minha empresa elas não podem ficar juntas por uma decisão estratégica. Minha empresa já teve duas mulheres, mas hoje não encontro mais.”

Logo depois ele contou sobre a história da Smurfette.

Tinha cara que era gordão que os meninos chamavam de papai Smurf. Quando entrou a menina na empresa, ela foi de azul e a partir daí que passamos a chamá-la de Smurfette.

Ele acabou de falar e recomecei a minha fala.

“Sergio, eu fui dormir ontem às 4h da manhã ouvindo todos os relatos do caso. Não estou aqui para te julgar, apenas para ouvir tua versão. Primeiro: quem veio fazer a denúncia não foi uma menina, foi um menino. Depois vieram outros. Segundo: o teu relato sobre não ter mulheres na área da computação é consistente. Somos menos que 10% e tem um outro fato aterrorizante: até 2010 vão faltar 140 mil profissionais de programação mundialmente.” Ele me interrompeu nessa hora e eu tive que falar que era minha vez e que por favor esperasse.

Continuei: “Eu trabalho fortemente para aumentar o números de mulheres na tecnologia. Estamos fazendo uma ação na Campus, onde estamos ensinado programação do zero (front-end, PHP e Ruby). Fazemos outras ações, cursos, atividades, etc.”

Ele me interrompeu mais uma vez e falou que precisava de 5 programadores de PHP. Peço a ele mais uma vez pra esperar afim de terminar minha fala. Continuo: “Você sabe que não falta emprego para bons programadores. Eu tenho 5 anos de carreira e já trabalhei em várias empresas. Sei o que estou falando. As boas programadoras já estão empregadas e não saem. Há várias empresas que estão procurando programador e não temos banco de dados com todas as programadoras do Brasil. Confesso que tenho vontade de ter porque recebemos muito pedidos mas, infelizmente, não temos.”

E finalizei: “Acho que você poderia aprender algo com essa situação e ver onde localizar essas meninas, porque quase ninguém acessa certos lugares.”

Fica a dica: Temos Github, Facebook (grupos de emprego), sites como Vagas, Revelo, Catho, Trampo.co e jornais.

Ele ficou de rever mas diz: “Na minha opinião, a Campus não pode se preocupar com bate papo fora da palestra. Isso não é da competência da Campus, por exemplo, se o cara falar algo para a mina isso é opinião dele.”

Respondi: “Sergio, a Campus tem um código de conduta, como todos os eventos devem ter. Assim como o cara pode falar, ela tem direito de responder. No entanto, certas atitudes não devem ser permitidas. Quando um palestrante expõe sua opinião em público já fica exposto a consequências.”

Nos despedimos e saí para conversar com menina do Instituto da Campus. Mais tarde, o Tonico aparece e fala por horas com a Alline O. sobre o fato e pede para bater um papo com o menino que nos procurou. Falamos que iríamos conversar para saber ele se sentia confortável para contar o fato.

Enfim, eu gostaria de fazer uma consideração. Não podemos obrigar a vítima a denunciar. Temos que empoderar, oferecer suporte necessário para que ela tenha autonomia para falar e quando se organiza eventos é preciso aprender como ter sensibilidade para lidar. Alline O. ofereceu todo o suporte e empoderou a vítima levando para conversar com a organização.

Enquanto isso #MeuLugarEmTI estava bombando no twitter. Codamos na sexta foi realizar uma atividade do Painel de diversidade e Camila Achutti fez um live para mostrar que existem mulheres programadoras na Campus, sim!

No sábado, uma menina procurou a Alline O. para complementar o caso.

Por que eu quis falar sobre isso? O Sergio pediu para que eu contasse que conversou conosco e que ele tinha negado. Foi por isso que resolvi falar. Não coloquei nome das outras pessoas envolvidas por questões de privacidade.

Fiz o post para mostrar tanto o posicionamento da Campus Party quanto o nosso trabalho e o da Alline O. que conduziu muito bem tudo o que aconteceu.

Na minha opinião, não podemos condenar a Campus Party. Infelizmente, algo assim pode acontecer em qualquer evento. O que nos resta é cobrar posicionamento. E a posição da Campus Party foi incrível e tivemos apoio e acompanhamento durante o caso inteiro.

Apoiamos e ajudamos a #MeuLugarEmTI. Estamos aqui para fazer diferença. Cada vez mais temos que ajudar os eventos a tratarem essas situações. Temos que ir além do fazer barulho, temos que ajudar achar soluções. Esse é nosso trabalho onde lutamos para trazer mais diversidade para o mundo de TI.

#MeuLugarEmTI

Sonho que um dia não seja necessário esse tipo de debate para trazer mulheres para o mundo da TI. Meu sonho é um dia atingirmos 50–50, que equidade seja conhecida e que preconceito não exista mais.

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Você que acha que programação é coisa do outro mundo???