O fim do interminável começo

Diego Vargas
4 min readApr 25, 2018

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Há muito tempo penso numa forma de iniciar um blog-diário. O fato de eu usar o termo ‘blog’ já diz muito sobre mim. Ninguém fala ‘blog’ hoje em dia. Adiei isso por tanto tempo, que nem lembro mais quando esse devaneio começou. Talvez na época em que falar blog era super legal, quando todo mundo tinha um meunome.blogger.com pra chamar de seu.

Nesse espaço pretendo dividir um pouco do que penso da vida, das relações humanas, quem sou e onde quero/gostaria estar. Já adianto que não sou jornalista, nem professor de português. Portanto, você vai encontrar vários erros de concordância, vírgulas separando sujeito e predicado, gerundês no melhor estilo telemarketing, entre vários outros erros os quais eu farei de tudo pra esconder, mas não serei capaz.

Já pensei num vlog, estilo Youtuber descolado que pinta o cabelo, mas ainda não amadureci muito bem a ideia. Quem sabe um dia!

Hoje resolvi parar de adiar isso por um simples motivo: meu foco não é mais quem lê, se vou ter audiência ou se isso vai de fato “tocar” alguém. Preciso escrever pra me sentir vivo, pra falar de amor (e dor), falar de tempos que foram e que virão. Escrever, pra mim, é uma brincadeira muito séria!

Escrever será também minha forma de manter meus pensamentos organizados, ao alcance de uma busca rápida. E assim, inevitavelmente, reencontrar opiniões que em breve terão sofrido uma dura metamorfose. Com o tempo, quero revisitar e dialogar com outras versões minhas. Se você, querido amigo leitor e cúmplice, quiser seguir comigo, sinta-se à vontade. Farei de tudo pra que se sinta acolhido.

Bom, pra começar, vou deixar aqui um texto que publiquei no Facebook há pouco mais de 2 anos. Nele eu falo um pouco dos benefícios e desafios de abandonar a Zuckernet. Esse processo foi fundamental pra muita coisa legal que aconteceu comigo e nada mais justo do que começar com esse tema:

“Oi pessoal, lembram de mim?

Pois é, tô vivo sim, mesmo que o Facebook não informe isso a vocês, mostrando minha cara feia na sua timeline de hora em hora. Pouco mais de três meses se passaram desde que resolvi abandonar a Zuckernet. Na verdade, não sei se foi de fato um abandono. Sinceramente assemelha-se mais com um expurgo. Independente disso, achei que seria legal vir aqui “compartilhar” com vocês a experiência.

No começo, foram dias muito difíceis. O velho hábito de cutucar o telefone, com a esperança daquele planetinha estar vermelho, era muito mais forte que eu, uma obsessão. Era inevitável tirá-lo do bolso em busca de esmola virtual, mais conhecida como “notificação do Facebook”.

Eu assistia de camarote as alegrias e tristezas de muitos de vocês, li algumas opiniões muito legais sobre diversos assuntos, outras nem tanto. Acompanhei várias divergências de opinião e testemunhei algumas delas se tornarem brigas, umas capazes até de encerrar amizades ou mesmo relações entre familiares (participei de algumas, inclusive). Nada mais comum num espaço democrático (será?) como o Facebook. De tanto contemplar, acabou sobrando pouco espaço para agir. E eu precisava agir para além da rolagem de uma timeline.

Nestes três meses, muita coisa aconteceu: minha avó materna faleceu e eu não precisei vir aqui colocar uma foto ou capa informando o luto; voltei a fazer exercícios físicos, perdi alguns quilos e medidas, e não precisei anunciar a alegria do resultado e omitir o sacrifício, apenas pra parecer que sou um rapaz “vida saudável”, quando na verdade o processo de mudança requer muito mais do que simplesmente se alegrar com o resultado em si; passei a tomar antidepressivos, em parte por conta de uma ansiedade que era fruto de muitas coisas que via e lia nesse espaço. E sabe o que é mais legal disso tudo? Pasmem: poucos de vocês sabem e, mais importante, nada disso fez a mínima diferença na vida de ninguém aqui, nem antes quando não sabiam, nem agora que “ficaram sabendo” (com exceção da minha esposa e familiares próximos).

Uma amiga do trabalho falou uma coisa muito legal comigo. Ela está fazendo a campanha do filme do irmão nas redes sociais e muitos compartilharam, comentaram, curtiram, mas poucos foram até a sala de cinema (inclusive eu). Isso é muito louco! As pessoas só estão atuantes com os dedos, em suas timelines!

Poucos de vocês conhecem meu filho pessoalmente, assim como eu só conheço o de outros tantos apenas através de uma tela. SAIA DAQUI, vá conhecer os filhos dos seus amigos!

Não é que a vida ou opinião de vocês não importe pra mim, o que deixou de importar foi o seu “eu-virtual”. O motivo? Assim como o meu ele não é verdadeiro, é um personagem ou mesmo uma caricatura.

Após o começo difícil, veio a bonança do expurgo! A Zuckernet não controla mais os meus interesses assim como ela fará com este texto, o qual apenas alguns terão o (des)gosto de ler. Hoje sou capaz de olhar pra trás e admitir muitas falhas e presenças inertes em vários encontros com amigos. Ainda não fui capaz de encontrar todas as soluções, mas tenho me esforçado.

Enfim, falta muito pra eu me tornar um ser humano melhor, muito mesmo, mas o expurgo foi fundamental para os primeiros passos. Sugiro que experimentem!”

Pois é, já tem um tempinho até considerável que escrevi isso, não arredo uma vírgula pra um lado ou pro outro.

Enfim, agora é oficial, com a publicação desse texto eu encerro o ciclo interminável que foi gestar esse espaço. Espero ser fiel!

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