Mulheres na Segurança Pública: no trânsito e na comunidade elas se destacam no cenário da cidade.

Facom News Digital
5 min readApr 1, 2024

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Da direita para a esquerda: Renata Lutiene, Cassinha e Renata Vianna (Montagem: Arthur Aguiar/Facom News Digital)

“Já ouvi condutores, na hora de receber uma multa, mandarem eu pilotar um fogão”. A declaração da supervisora da Secretaria de Mobilidade Urbana (SMU), de Juiz de Fora, Renata Lutiene, revela situações recorrentes no cotidiano de mulheres que saem de suas casas para o trabalho em busca de realização profissional e do próprio sustento. Subestimadas, muitas vezes, por uma parcela significativa da sociedade, tornam-se vítimas de um machismo ainda estrutural. A Quarta edição da pesquisa Vísivel e Invísivel, publicada em 2023 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra, por exemplo, que entre as ofensas mais frequentes estão as verbais (insultos, xingamentos e humilhação), com índice de 23,1% entre as entrevistadas.

Este contexto na área de segurança pública é também um desafio a ser superado. Neste cenário, a equipe de reportagem do Facom News Digital conversou com três personagens femininas que representam a força da mulher neste setor no dia a dia da cidade.

Na SMU, nossa equipe conheceu Renata Lutiene e sua colega de trabalho, Renata Vianna. Ambas atuam na segurança do trânsito de Juiz de Fora. Já no perfil da organização e de luta da comunidade, a pauta é com a presidente do Conselho Municipal de Segurança Urbana e Cidadania, Rita de Cássia Pipa. Além dessa função, “Cassinha”, como é carinhosamente conhecida, desenvolve muitas outras atividades, como a presidência da Associação Municipal do Bairro Alto dos Passos.

Supervisora de Transporte e Trânsito da SMU, Renata Lutiene, trabalha em iniciativas de prevenção às violências no trânsito (Foto: Ana Beatriz Medina/Facom News Digital)

O que essas mulheres fazem?

Além de Renata Lutiene, Renata Vianna também atua na SMU há mais de 20 anos na área de educação para o trânsito, com projetos e palestras de conscientização sobre os perigos e deveres dos cidadãos enquanto motoristas. Segundo ela, há um “gargalo” entre os jovens que buscam conquistar a Carteira Nacional de Habilitação, mas não se importam com as questões de comportamento, o que pode provocar um alto índice de acidentes.

Já Cassinha, explica que sua função como voluntária no Conselho de Segurança tem o intuito de contribuir para as resoluções das demandas da população, democratizando, também, o conhecimento a respeito de como funciona a segurança pública. Desta forma, presta auxílio, ainda, aos moradores de seu bairro, Alto dos Passos, como representante da busca por melhorias na qualidade de vida da região. “Nosso trabalho é mais informativo do que qualquer outra coisa, direcionar as pessoas para o que elas precisam e cobrar dos órgãos públicos nossas reinvindicações”, diz. Na mídia sonora abaixo, nossas entrevistadas contam um pouco mais sobre os seus papéis:

Presidente do Conselho Municipal de Segurança Urbana e Cidadania, Cassinha Pipa, (Foto: Arthur Aguiar/Facom News Digital)

O machismo nos ambientes de trabalho

No Brasil, as mulheres ocupavam 38% dos cargos de liderança em 2023, número que não se aproxima nem da metade do total. Os dados são de uma pesquisa realizada pela FIA Business School, e evidenciam a disparidade de oportunidades entre homens e mulheres. Sobre esse tema, Cassinha destaca que o caminho é lento e dificultoso, particularmente na política: “quando entrei na câmara, havia somente uma mulher. Em algumas épocas, não tinha nenhuma. As mulheres que estão nesses cargos têm que brigar cada vez mais e lutar para trazer mais”.

Já no cenário do trânsito, estereotipado como “coisa de homem”, as mulheres buscam por respeito e continuam enfrentando o machismo estrutural da sociedade. Renata Lutiene encara o problema como social, confira no vídeo:

Renata Vianna tem a percepção de que o machismo é menor na área educativa do trânsito, uma vez que a presença feminina é maior. No entanto, nos momentos nos quais precisou trabalhar na rua também já se sentiu invalidada por tomar medidas iguais as de seus colegas de trabalho homens, como aplicar uma multa, por exemplo.

Renata Vianna, Agente de Transporte e Trânsito (Foto: Thais Baldi/Facom News Digital)

Como enfrentar a dupla jornada?

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mulheres estão mais expostas a riscos para a saúde mental devido à sobrecarga física e à jornada dupla de trabalho. Se os problemas já são grandes no ambiente de trabalho, a carga e os desafios da maternidade intensificam a exaustão a que muitas mulheres estão diariamente submetidas.

Renata Lutiene afirma que a jornada é bem exaustiva, principalmente no seu caso como mãe “solo” e sem rede de apoio. Tarefas domésticas, demandas escolares dos filhos e a própria responsabilidade materna são os principais fatores para a sobrecarga.

O estudo do Fórum Brasileiro de Segurança evidenciou, ainda, que o fato de a mulher estar no mercado de trabalho é apenas um dos aspectos essenciais para a superação das violências. A pesquisa menciona, então, a necessidade de políticas públicas que abarquem os problemas historicamente construídos quando falamos de violência de gênero.

Campanha contra o assédio no transporte público

Essa preocupação com a temática das violências contra a mulher é atualmente pautada também por uma Campanha promovida pela SMU em parceria com os usuários do transporte coletivo urbano. A iniciativa atua na conscientização contra o assédio e a violência sexual nos ônibus. Os dados do Fórum de Segurança mostram que, em 2022, 30 milhões de mulheres foram assediadas sexualmente. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone (32) 3690–8186. Confira o flyer da campanha:

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Publicações da Disciplina Jornalismo Digital do curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da UFJF