Não precisa? Então adquira já!

Dor nos Quartos
4 min readNov 1, 2016

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Oi, tá boa? Comigo tudo ótimo, agora que consegui me recuperar do Ryka Vírus que me acometeu recentemente. Sim, é Ryka mesmo, porque ele te faz acreditar que tem dinheiro o suficiente pra gastar com coisas desnecessárias, inúteis e dependentes do vento. Ops, dei um spoiler.

Considerando que nascemos, vivemos e nos reproduzimos (ou praticamos, praticamos e praticamos) numa sociedade capitalista, acho até que meu sistema imunológico anda funcionando bem. Com exceção da calça de nylon preta ultralarga que comprei aos 15 anos. Foi a primeira vez que o ryca me atacou. Eu, um adolescente estilo pele e osso (mas com olhos verdes encantadores), que no lugar das pernas tinha dois gravetos espetados no tronco, usando uma calça em que cabiam cinco Gracyannes Barbosas e duas Mulheres Melancia em cada perna. Dava pra brincar na Xuxa sem trocar de roupa.

Voltando a 2016, semana passada recebi uma encomenda no trabalho. Olhei a embalagem e não estava me lembrando de ter comprado nada recentemente. Mas aí apalpei gostoso e pela combinação de forma, tamanho e textura, imediatamente me vi numa espiral de horror e soltei um “puts”.

Puts!

“O que é isso, Fil???”, é o que você deve estar se perguntando, agora que minha narrativa cheia de ganchos poderosos conseguiu prender sua atenção.

Há uns quatro meses, quando estava numa correria louca pra comprar os itens indispensáveis pra minha mudança, como geladeira, lavadora, colchão e Iogurteira TopTherm, o Ryca Vírus encontrou nessa situação o ambiente perfeito pra se instalar. Eu estava vulnerável, iludido, me sentindo poderoso, não queimado e mãe de dragões, e foi então que, em meio a todas as coisas úteis e essenciais que estava adquirindo, fui impactado por um anúncio no meu Facebook sobre um tal de Air Sofa.

“Adquira agora mesmo, seu trouxa capitalista.”

Já era. Fui infectado. Comprei o produto.

Vou explicar brevemente o que é e como funciona esse negócio, de maneira absolutamente imparcial, para não influenciar a opinião de vocês quanto à utilidade do mesmo. Trata-se de um enorme colchão, feito com um material semelhante ao nylon da minha calça escrota, que é só encher de ar, fechar e voilà: agora é só deitar e relaxar ao ar livre!

Lindo, né? Eu olhei e pensei:

“Nossa, que maravilha ir à praia, simplesmente abrir o colchão contra o vento e poder ficar sossegado, sem precisar pagar cadeira, sem trabalheira, sem sujeira, matando geral ao meu redor de inveja e curiosidade. E no final, basta enrolar e guardar na bolsinha que vem junto. Ai, que suprassumo é a vida!”

Parecia que o paraíso havia se materializado na forma de Air Sofa. Mas isso foi apenas o delírio causado pelo Ryka Vírus. Porque no dia seguinte, depois de uma boa dose de bom senso antes de dormir, acordei ciente da cagada, que pode ser constatada por essa breve enumeração:

1 — O objetivo era levar o colchão à praia. Mas eu nunca vou à praia. O clã inteiro de vampiros de Crepúsculo soma mais idas à praia do que eu no último ano.

2 — A vontade de causar inveja e curiosidade nas pessoas foi substituída pela ideia vergonhosa de abrir aquele trambolho na areia, entre outras pessoas com suas discretas cadeiras de praia. Já basta a comoção que minha brancura quase criminosa pros padrões cariocas acarreta e o ofuscamento equivalente a 3 luas cheias nos olhos das pessoas assim que me dispo na orla.

3 Pra finalizar, quando o produto chegou, depois de ter tentado sem sucesso cancelar a compra, cheguei em casa carregando resignado aquele pacote, abri com a mesma animação de uma criança que já sabe que vai ganhar cueca no Natal e, durante poucos segundos, alimentei a esperança de que aquilo pudesse ter alguma utilidade, como no caso de receber visitas em casa, ou até mesmo aproveitar pra alguma fantasia de Halloween (fantasia de trouxa, provavelmente).

Mas aí me dei conta de que havia um motivo pra esse troço ser feito pra usar ao ar livre. Simplesmente porque ele só enche com VENTO.

Corridinha pra pegar vento

E adivinha o que fiz depois dessa constatação? Escolha a opção mais óbvia:

(_) Desisti de vez e guardei o Air Bag.

(_) Tirei o Air Bag da sacolinha, estiquei na sala, segurei na ponta e, inflado de esperança, saí correndo algumas vezes pelo corredor pra tentar encher de ar.

Vou deixá-los na curiosidade e terminar essa narrativa com uma imagem meramente ilustrativa, que de forma alguma revela a opção correta.

Pensando bem, podia ter me fantasiado de biruta nesse Halloween.

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