BELA BADERNA

PRINCÍPIO: Aceite a liderança dos mais impactados

Escola de Ativismo
3 min readDec 23, 2016

Com a contribuição de Joshua Kahn Russell

RESUMO
Um ativismo eficaz exige que você ofereça o apoio adequado e aceite as orientações daqueles que têm mais a perder.

Conhecemos bem a arrogância dos benfeitores liberais — aquela que se origina do luxo de poder escolher dentre um cardápio de causas, pois nenhuma delas afeta diretamente sua vida, ou de achar que por ter estudado um assunto na universidade, é um especialista. Evite ser essa pessoa: cultive a humildade e aceite ser guiado e liderado por aqueles que serão os maiores afetados por um assunto.

Justamente porque as pessoas mais impactadas pelas grandes injustiças têm que conviver com as consequências das campanhas que buscam lidar com essas injustiças, elas também são as que mais têm a ganhar com uma eventual vitória — e as que têm mais a perder caso algo dê errado. Elas também são as mais capacitadas a saber, e a articular, soluções factíveis para seus problemas. Uma campanha que ignora ou minimiza seu conhecimento e suas vozes pode facilmente mais atrapalhar do que ajudar.

Aceitar a orientação de outras pessoas nem sempre é fácil para aqueles que se identificam como líderes. “Líderes” autoidentificados às vezes se antecipam demais, confiantes de que possuem a resposta, enquanto suas pré-concepções e preconceitos os tornam cegos a todas as respostas orgânicas a seu redor. Nós podemos reduzir esses pontos cegos ao respeitar o processo e cultivar responsabilidade com intenção.

Responsabilidade pode ser um conceito assustador para ativistas, mas é melhor pensar sobre isso como um processo proativo que construímos juntos, ao invés de um critério que é ou não atendido.

Princípios da responsabilidade.

O livreto Organizing Cools the Planet define quatro princípios básicos para cultivar a responsabilidade[1]:

Transparência significa ser claro sobre suas políticas, estrutura organizacional, objetivos, desejos e fraquezas. A questão central aqui é ser o mais aberto possível sobre suas perspectivas e motivações.

Participação significa envolver ativa e igualitariamente as pessoas nas decisões que as afetem.

Reflexão e deliberação significa abrir ativamente um diálogo para reavaliar para onde seguimos. Isso acontece depois da Participação, e uma vez iniciado, é um caminho contínuo que vai sendo traçado ao longo de toda a experiência.

Resposta é nossa habilidade de fazer ajustes e emendas em questões levantadas durante a etapa de Reflexão e deliberação.

No entanto, a responsabilidade não é nosso objetivo; nosso objetivo é a colaboração. Responsabilidade é o caminho pelo qual seguimos. O ciclo acima nos direciona para colaborações cada vez mais bem-sucedidas. Não fique desapontado se a colaboração for difícil no início. Confiança leva tempo. Seja generoso com você e com os outros; todos nós cometemos erros veja TEORIA: Anti-opressão.

A experiência da Ruckus Society com esse princípio é ilustrativa. A Ruckus é uma rede de instrutores e coordenadores de ação direta. Depois de anos se digladiando com a dinâmica problemática de vir de fora e cair de paraquedas em comunidades, a Ruckus criou um protocolo segundo o qual agora só vai aonde for chamada e prioriza a construção de relacionamentos de longo prazo. A “Estrutura de Ação da Ruckus” é uma ótima ferramenta de referência para criar protocolos similares em seu grupo[2].

Aceitar a liderança dos mais impactados é uma ótima oportunidade para aprender e para apoiar grupos impactados em suas lutas. Pode ser uma das experiências mais profundas e gratificantes do ativismo.

[1] Hilary Moore e Joshua Kahn Russell, Organizing Cools the Planet (Oakland, CA: PM Press, 2011)

[2] O protocolo foi reproduzido na página 54 do livro Organizing Cools the Planet, disponível para download em http://organizingcoolstheplanet.wordpress.com/get-copies-of-ocp/ .

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Escola de Ativismo

A Escola de Ativismo tem a missão de fortalecer o ativismo no Brasil por meio de processos de aprendizagem. Site: http://ativismo.org.br