BELA BADERNA

PRINCÍPIO: Coloque seu oponente em um dilema de decisão

Escola de Ativismo
4 min readDec 23, 2016

Com a contribuição de Andrew Boyd e Joshua Kahn Russell

RESUMO
Desenhe sua ação de modo que seu oponente seja obrigado a tomar uma decisão, e todas as opções disponíveis sejam favoráveis a você.

Se você planejar bem sua ação, pode forçar seu oponente a uma situação em que ele precisa responder, mas não tem boas opções — na qual ele está ferrado se o fizer, e também está ferrado se não o fizer. Na verdade, muitas ações com objetivos concretos (como bloqueios, sit-ins, tree-sits, etc.) precisam de um “dilema de decisão” para serem bem-sucedidas.

Pense no bloqueio de um prédio. Um bloqueio taticamente efetivo deixa apenas duas opções para seu oponente: 1) negociar com você / atender suas demandas, ou 2) reagir por meio da força (violência contra você ou prisão). Isso é um dilema de decisão. Não deixe seu oponente sair de fininho pela porta dos fundos, e não se coloque em uma situação em que ele possa esperar impunemente que você saia. Você deve determinar um claro dilema de decisão. Sem isso, você permite que seu oponente e/ou a polícia ditem o sucesso de sua ação, ao invés de comandá-la por conta própria. Tenha certeza de cobrir todas as saídas possíveis — literal ou figurativamente.

Ativistas criativos podem adaptar essa inspiração tática para colocar seus oponentes em dilemas similares no nível simbólico.

Veja o caso de Cindy Sheehan. No verão de 2005, depois da morte de seu filho, especialista do exército Casey Sheehan, na Guerra do Iraque, ela acampou em frente ao rancho do Presidente Bush, no Texas, onde ele tinha acabado de chegar para três semanas de férias. Usando as palavras de Bush contra ele mesmo, ela prometeu não sair de lá até que ele se encontrasse com ela para explicar por qual “causa nobre” seu filho havia morrido.

Cindy Sheehan

Quando a mídia começou a cobrir o impasse, Bush estava encurralado em um dilema de decisão: ele estaria ferrado caso a encontrasse, e também caso não a encontrasse. Encontrar-se com Cindy seria um fiasco perante a imprensa. Não fazê-lo significaria dar-lhe razão. De todo modo ele perderia. No fim, ele não se encontrou com Cindy Sheehan, e o “Acampamento Casey” se transformou em um momento crucial para que a opinião pública norte-americana ficasse contra a guerra.

Outro exemplo é a ação do Whose Tea Party?. Parlamentares republicanos se reuniram no barco do Tea Party em Boston para uma ação midiática: jogar fora um baú com o rótulo “código tributário” na água. Mas eles foram repentinamente confrontados por um bote com ativistas — o “ Bote Salva-Vidas da Família Trabalhadora” — que na água, logo abaixo deles, suplicavam para não serem “afogados” pelo imposto único proposto. Com as câmeras filmando, os parlamentares tinham duas opções: jogar fora o código tributário e afundar o bote dos ativistas (o que fizeram) ou recuar em sua intenção declarada de acabar com o código tributário. Ao jogar o baú e virar o bote, eles reforçaram a mensagem dos ativistas de que a reforma tributária proposta pelos republicanos iria “afundar a família trabalhadora”. Recuar também teria enfraquecido o argumento dos republicanos, ao conceder simbolicamente que o imposto seria prejudicial para estas famílias. Assim como no Acampamento Casey, este dilema de decisão não foi um acidente fortuito, e sim um elemento-chave no planejamento da ação.

Frequentemente, para que este princípio funcione, você precisa estar preparado para esperar por seu oponente. Cindy Sheehan se comprometeu a acampar em frente ao rancho de Bush durante todo o período de férias do presidente. Ela não ia sair dali. Era a vez dele de fazer alguma coisa, mas ele não tinha o que fazer. Na mesma linha, o Bote Salva-Vidas da Família Trabalhadora balançou na água, pedindo que os republicanos poupassem as famílias trabalhadoras, enquanto a mídia documentava o evento. Diferentemente do que acontece em várias ações, não havia seguranças para tirá-los do local. Eles puderam simplesmente esperar, e quanto mais os republicanos hesitavam, mais eles reforçavam a mensagem dos ativistas.

POSSÍVEIS PROBLEMAS: Isso vale tanto para se proteger de ursos quanto para o ativismo: encurralar alguém pode provocar reações violentas. Se sua intenção for eliminar a opção de fugir em um cenário em que as opções são lutar ou fugir, você precisa tomar todas as precauções necessárias para minimizar os riscos para você e seus aliados, caso o oponente resolva vir pra cima.

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Escola de Ativismo

A Escola de Ativismo tem a missão de fortalecer o ativismo no Brasil por meio de processos de aprendizagem. Site: http://ativismo.org.br