BELA BADERNA

PRINCÍPIO: Faça o trabalho da mídia por eles

Escola de Ativismo
3 min readDec 20, 2016

Com a contribuição de Andy Bichlbaum

“Não odeie a mídia, torne-se a mídia”. Jello Biafra

RESUMO
Muitas vezes os jornalistas querem cobrir uma matéria importante, mas não podem por razões editoriais. A ação criativa adequada (que você mesmo fotografe ou filme) pode dar a eles a desculpa ou os materiais de que precisam.

Se você quer que seu evento tenha cobertura de mídia, ofereça uma história irrecusável: aquela que passe sua mensagem de forma muito clara, com boas imagens, uma reviravolta inesperada ou muito humor. Se um jornalista já quer cobrir o assunto, esse empurrãozinho será a desculpa ou a munição extra de que ele precisava para vender a história para seu editor.

Não se preocupe em enfiar todas as informações na ação ou pegadinha. Se conseguir, ótimo, mas a maior parte das informações relevantes pode ser transmitida via comunicado de imprensa. A ação só precisa dar o gancho ou ponto de partida, desvelando uma situação preto-no-branco e expondo verdades óbvias, mas raramente discutidas. Se sua ação fizer isso direito, os jornalistas vão gostar de escrever sobre o assunto e a opinião pública (junto com uma campanha ativista bem orquestrada) pode fazer o resto.

Quando a dupla ativista Yes Men anunciou que a Câmara de Comércio estava apoiando a legislação sobre mudanças climáticas, ou que a multinacional Dow ia aceitar sua responsabilidade pelo vazamento de gás em Bhopal, na Índia, ou que a General Electric estava devolvendo $3,2 bilhões em impostos sonegados — foram apenas ações engraçadas apontando para realidades simples e inegáveis: que a Câmara estava louca para não apoiar a legislação sobre mudanças climáticas, que a Dow deveria se responsabilizar por Bhopal, que a GE deveria pagar seus impostos. Muitos jornalistas querem escrever sobre essas verdades óbvias, mas, por questões editoriais, não podem. Criar ações engraçadas e espetaculares é um jeito de fazer com que eles cubram essas notícias.

Sabendo que seu casamento em 1969 seria amplamente divulgado, John e Yoko decidiram fazer o trabalho da mídia por eles. Passaram sua lua de mel na cama, falando de paz, e dirigiram sua própria mídia através de suas ações, palavras e dos cartazes pendurados atrás deles: “Paz no cabelo, paz na cama.”

Torne o trabalho do jornalista o mais simples possível. Forneça o que ele precisa: um comunicado de imprensa sucinto, fotos com autorizações claras, ou um bom vídeo de notícias, repleto de fatos, números e falas que ilustrem seu posicionamento.

É indispensável que você documente sua ação e disponibilize suas fotos e vídeos. A bomba de purpurina de Newt Gingrich veja TÁTICA: Interrupção criativa não se tornaria viral se não houvesse um cúmplice gravando tudo. Quando Brad Newsham organiza um banner humano, ele contrata um helicóptero e um fotógrafo profissional para documentar a ação e, então, passa as imagens para os veículos interessados, que não teriam como fazer a foto por eles mesmos.

Quanto mais arriscada a ação, mais importante é que você mesmo garanta uma boa documentação das imagens. Ninguém melhor do que os próprios organizadores dos flash mobs ou musicais de guerrilha para saber quando e onde eles vão acontecer; por isso, você tem que contar com fotógrafos e cinegrafistas próprios nessas ações. Mas depois, não se limite a postar suas coisas no Flickr e no YouTube e esperar pelo melhor. Em vez disso, trace um plano para distribuir essas imagens para a mídia. Quando o Agit-Pop realizou o musical de guerrilha “Public Option Annie[1], sobre a necessidade de reforma no sistema de saúde, eles fizeram uma rápida edição do vídeo imediatamente após a ação e distribuíram para os principais veículos a tempo de entrar nos telejornais do dia. CNN, MSNBC e Comedy Central — todas fizeram matérias a partir desse vídeo.

POSSÍVEIS PROBLEMAS: Muitos jornalistas podem relutar em usar um vídeo com forte cunho editorial, mas as imagens podem levá-los a fazer sua própria história.

[1] NT: O analista corporativo de seguro-saúde Bill McInturff estava discursando na AHIP (America’s Health Insurance Plans, ou Planos de Saúde da América) quando foi interrompido com agradecimentos e elogios de pessoas que pareciam estar na conferência, por causa dos trajes de negócios. Os elogios se transformaram em uma canção sobre a “opção pública” — a necessidade de reforma no sistema de saúde e a garantia de planos de saúde públicos — entoada ao ritmo de “Tomorrow”, do musical “Annie”.

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Escola de Ativismo

A Escola de Ativismo tem a missão de fortalecer o ativismo no Brasil por meio de processos de aprendizagem. Site: http://ativismo.org.br