BELA BADERNA

PRINCÍPIO: Se protestar for ilegal, faça da vida diária um protesto

Escola de Ativismo
3 min readDec 23, 2016

Com a contribuição de Nadine Bloch

RESUMO
Quando a simples divergência se tornar impossível por causa da repressão desproporcional do Estado, encontre maneiras de tornar ações cotidianas subversivas.

Em julho de 2011, a frustração pública na Bielorrússia com a profunda crise econômica atingiu seu ponto de ebulição. O regime autoritário do presidente Alexander Lukashenko criminalizou qualquer protesto político e a polícia estava reprimindo qualquer expressão de divergência. Em resposta, organizadores autodenominados de “Revolução Através das Redes Sociais” começaram a convocar as pessoas a se reunir em locais públicos para bater palmas, ou a programar seus celulares para tocarem todos de uma só vez, tornando, dessa forma, simples ações diárias em profundas expressões públicas de protesto.

Conforme os não-protestos se espalhavam, a polícia iniciou uma dura repressão. O regime conseguiu reconhecer que o aplauso estava servindo para minar sua autoridade. Se eles não fizessem nada e continuassem permitindo que as pessoas se reunissem e aplaudissem sem punição, então a população poderia se opor abertamente ao regime de outras formas. Em vez disso, o mundo viu a cena absurda de muitos cidadãos bielorrussos sendo presos por baterem palmas. A repressão expôs a profunda irracionalidade do governo, percepção reforçada quando este tentou submeter ao Parlamento um projeto de lei para criminalizar a “inação organizada” de manifestantes silenciosos.

Muitos anos antes, em 1983, trabalhadores organizados no Chile planejaram lançar uma nova resistência aos 10 anos de ditadura de Pinochet com uma greve coletiva nas minas de cobre, a espinha dorsal da economia chilena. Antes que a greve pudesse ocorrer, as minas foram cercadas pelos militares e parecia que um banho de sangue seria inevitável caso os mineiros insistissem em prosseguir com seu plano. Em vez disso, as lideranças mudaram a greve geral de forma brilhante para um Dia Nacional de Protesto, com ações descentralizadas, e convocaram seus apoiadores a dirigir lentamente no trânsito, ligar e desligar as luzes à noite e a fazer um panelaço em uma determinada hora. Muitas pessoas participaram e esses mini protestos ajudaram a reconstruir a confiança do movimento de oposição que foi brutalizado, à medida que as pessoas superavam seu medo de agir.

Manifestantes na Bielorrússia batendo palmas em uníssono como forma de protestar contra o regime autoritário do presidente Lukashenko. Logo após essa foto ser tirada, a polícia começou a prender qualquer pessoa batendo palmas.

Como estas duas ações demostram, quando as reuniões populares e protestos públicos se tornam muito perigosos, ações cotidianas podem ser usadas para sinalizar divergência, reunir multidões, passar a mensagem, expor a natureza ridícula da autoridade repressiva e criar dilemas de decisão, ao mesmo tempo em que evita ou posterga repressões violentas veja PRINCÍPIO: Coloque seu oponente em um dilema de decisão.

Este princípio não se aplica apenas a ditaduras repressivas em países do terceiro mundo, mas também a situações em sociedades supostamente mais abertas, onde, para certos segmentos da população, a vida diária tem sido criminalizada. Pense nas duas mulheres que se beijaram em frente à Igreja Mórmon, em Salt Lake City, nos Estados Unidos, até serem rapidamente jogadas no chão por seguranças. Ou na Frente de Liberação da Dança, que organizou bailes e coreografias nas ruas e em espaços sem alvará na Nova York de Rudolph Giuliani, a fim de ridicularizar as repressivas “leis de cabaré” da época de 1920 ainda vigentes.

POSSÍVEIS PROBLEMAS: Quando chegar a hora de subir o tom, não perca o bonde. Desde o começo, é importante ter uma trajetória estratégica em mente para sua campanha: foque em atividades que levem a ações maiores e mais ousadas.

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Escola de Ativismo

A Escola de Ativismo tem a missão de fortalecer o ativismo no Brasil por meio de processos de aprendizagem. Site: http://ativismo.org.br