BELA BADERNA

PRINCÍPIO: Somos todos líderes

Escola de Ativismo
3 min readDec 23, 2016

Com a contribuição de Matthew Smucker com a ajuda de Han Shan @ #Occupy

“Eles cercaram o barco e, quando baixaram a prancha, o xerife McGray andou nela e disse: ‘Quem são seus líderes?’ E eles responderam em uníssono: ‘Aqui somos todos líderes!’ Bom, aquilo assustou a Lei até o último fio de cabelo, sabe…” – Utah Phillips, “Fellow workers”[1]

[1] Utah Phillips e Ani DiFranco, 1999 Fellow Workers [CD em áudio]. Righteous Babe records: Buffalo, NY.

RESUMO
Uma desconfiança da hierarquia, que de outra maneira seria saudável, pode levar a uma atitude negativa perante toda forma de liderança. Na verdade, queremos mais liderança, e não menos.

Qual a diferença entre dizer “ninguém aqui é o líder” e “todos somos líderes”? À primeira vista, as duas frases parecem dois jeitos de dizer a mesma coisa, que é essencialmente: “Nós acreditamos na organização de maneira horizontal e não vertical. Nós acreditamos em equalizar a participação e em resistir a hierarquias sociais”. Mas a palavra liderança pode significar uma porção de coisas, e nem todas envolvem a criação de hierarquias. Assumir a liderança pode significar tomar a iniciativa de levar um projeto ou tarefa adiante, ou assumir a responsabilidade de identificar o que é preciso, e de dar um passo individual ou coletivamente para fazê-lo.

Em outras palavras, é importante distinguir entre organização horizontal e desorganização, e incentivar modelos de liderança descentralizada que promovam a responsabilidade e a eficácia.

Isso não é apenas uma questão semântica. Se somos parte de um grupo que se gaba de não ter líderes, os participantes podem hesitar muito em se prontificarem a tomar iniciativa, por medo de serem vistos como um “líder”, o que seria uma coisa mal vista. Se queremos realmente mudar o mundo, precisamos de mais pessoas se prontificando a tomar iniciativa, e não menos. Quanto mais iniciativa cada um de nós tomar em nosso trabalho conjunto, maior será nossa capacidade coletiva. Construir nosso poder coletivo é um dos desafios mais importantes da organização de movimentos.

Precisamos criar uma cultura na qual todos sejamos convidados a tomar iniciativa. Isso significa tomar iniciativa de maneira que deixe espaço para que outros façam o mesmo — onde os outros se sintam convidados a se prontificar e a tomar a iniciativa também. Isso pode significar ouvir atentamente e aprender com os outros. Ou reservar tempo para reconhecer e valorizar as muitas formas de liderança dentro do grupo. E pode significar buscar e nutrir o potencial de liderança nos outros, que talvez achem que não têm o direito de tomar a dianteira caso não sejam convidados ou apoiados.

Ocupem juntos.

Uma cultura que valoriza a liderança saudável também premia a responsabilidade, na qual todos somos responsáveis uns pelos outros. Mas esse foco na responsabilidade deve andar lado a lado com uma cultura de grupo que valorize a liderança. Caso contrário, podemos desenvolver uma mentalidade de “fogo amigo”, na qual gastamos nossa energia podando os outros por tomar a iniciativa.

Precisamos de um movimento onde estejamos constantemente encorajando uns aos outros a assumir nosso potencial por completo e a brilhar como um coletivo de líderes atuando juntos por um mundo melhor. Sejamos todos líderes. Sejamos cheios de líderes, e não sem líderes.

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Escola de Ativismo

A Escola de Ativismo tem a missão de fortalecer o ativismo no Brasil por meio de processos de aprendizagem. Site: http://ativismo.org.br