BELA BADERNA

PRINCÍPIO: Torne visível o que é invisível

Escola de Ativismo
3 min readDec 23, 2016

Com a contribuição de Nadine Bloch

“Nós que nos engajamos na ação direta não-violenta não criamos tensão. Nós apenas trazemos à tona a tensão oculta que já estava lá.”

— Dr. Martin Luther King, Jr.

RESUMO
Muitas injustiças são invisíveis ao mainstream. Quando você torna esses erros visíveis, você muda o jogo, tornando palpável a necessidade de agir.

Problemas sociais são frequentemente ofuscados pela distância, ideologia ou simplesmente pela química (quando foi a última vez que você notou PCBs na água que bebe?). Se você não pode ver, você não pode mudar: a primeira tarefa de um ativista muitas vezes é tornar o invisível visível.

Nesta cena do documentário ‘Gasland’, coloca-se fogo na água da torneira para tornar visíveis as toxinas venenosas injetadas durante o processo de extração de gás natural.

Há muitos tipos de “invisibilidade”. O tipo de invisibilidade com o qual você está lidando irá formar a abordagem a ser utilizada.

Distância

O caos climático pode estar encalhando ursos polares no Ártico ou inundando pequenos países insulares do Pacífico, mas para a maioria das pessoas dos países do Norte, “o que os olhos não veem, o coração não sente”. Inúmeras intervenções artísticas tentam dar visibilidade à urgência das mudanças climáticas, seja pintando futuros cenários do aumento do nível do mar nos prédios e ruas da cidade ou ‘afogando’ um urso polar na fonte pública de água em frente ao Ministério do Interior em Washington, Estados Unidos — como o Greenpeace fez em 2009.

Pessoas com privilégios geralmente podem se dar ao luxo de colocar uma distância entre eles mesmos e as consequências de suas ações. Ao abordar um assunto que pareça distante, ressaltar o lado humano ajuda a aproximar as pessoas do problema.

Ideologia

Pessoas que podem se dar ao luxo de não enxergar uma verdade desconfortável costumam simplesmente ignorá-la, mesmo que esteja na sua frente. Os brancos privilegiados ignoraram com facilidade as injustiças cotidianas infligidas durante a era Jim Crow nos Estados Unidos, até que os negros se organizaram e agiram, sentando nos assentos “errados” em lanchonetes e ônibus, marchando nas ruas, e assim por diante.

Injustiças tornadas invisíveis pela ideologia podem ser trazidas à luz por um reenquadramento sensato. Um enquadramento define o que é parte da história e, mais importante, o que não é. Ações que têm como alvo o ponto de suposição (a simples pergunta sobre quem pode sentar onde em um ônibus, por exemplo) podem chamar a atenção para o que antes estava “fora do enquadramento” veja TEORIA: Pontos de intervenção.

Química e outros fatos da vida facilmente negligenciados

Muitos poluentes não podem ser vistos a olho nu e, mesmo assim, causam grandes danos. A chave é trazer esse mal aos olhos do público. Considere os produtores do filme Gasland, que atearam fogo na água da torneira de algumas casas na Pensilvânia, refutando de forma consistente anos de negação da indústria com uma única demonstração visual poderosa. Ou ativistas florestais que encheram diversos cruzamentos da cidade com tocos de árvores cortadas. Quando a Kodak foi pega descartando toxinas de sua fábrica no norte de Nova York, o Greenpeace criou uma fonte pública de água com o efluente da tubulação — que normalmente corre fora da fábrica, abaixo da superfície da água — jorrando para todo mundo ver. Esses tipos de ações são particularmente eficazes quando a empresa se empenhou para esconder ou negar o dano, ou simplesmente cometeu seus erros longe do olhar dos consumidores.

O papel do ativista muitas vezes se assemelha ao da criança em uma das histórias de Hans Christian Andersen: mesmo que todos saibam que o rei está nu, dizê-lo em público pode ter consequências revolucionárias. Expor problemas antes escondidos pode ser o primeiro e mais importante passo para resolvê-los.

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Escola de Ativismo

A Escola de Ativismo tem a missão de fortalecer o ativismo no Brasil por meio de processos de aprendizagem. Site: http://ativismo.org.br