BELA BADERNA

PRINCÍPIO: Mantenha a postura não-violenta

Escola de Ativismo
3 min readDec 23, 2016

Com a contribuição de Nathan Schneider

“Devemos sempre conduzir nossa luta no mais alto plano da dignidade e disciplina. Não devemos permitir que nossos protestos criativos degenerem em violência física. Devemos subir às majestosas alturas de confrontar a força física com a força da alma, incessantemente.”

— Dr. Martin Luther King, Jr.

RESUMO
A ação não-violenta funciona melhor quando você permanece não-violento.

É incrível pensar que grandes grupos de pessoas desarmadas podem derrotar forças armadas até os dentes usando técnicas modestas, como greves, ocupações, boicotes e sit-ins. Uma maneira de entender por que isso acontece é que métodos não-violentos colocam o opressor em um dilema de decisão veja PRINCÍPIO: ou ele desce o cacete em um bando de opositores desarmados ou ele se rende. A primeira opção pode deixar a opinião pública a favor dos manifestantes e minar a legitimidade sobre a qual o poder do opressor repousa. Se a resistência persistir, a crescente repressão pode sair pela culatra, a ponto da polícia ou da força militar se recusar a participar. Finalmente, o soberano não tem escolha a não ser se render.

Esta lógica básica, no entanto, deixa de valer assim que os manifestantes começam a responder à violência com mais violência. Se o oponente consegue retratar os manifestantes como uma ameaça à paz e à ordem, ele se livra do dilema de decisão, reafirmando sua legitimidade e posando de protetor, estabilizador, confiável. A menos que você tenha armas suficientes para enfrentar o poder de fogo militar, seu movimento está perdido.

A cientista política Erica Chenoweth e o sociólogo Kurt Schock analisaram dados dos movimentos de resistência do passado e descobriram que ter um braço armado reduz drasticamente a habilidade de um levante de atrair ampla participação. A maioria das pessoas não está interessada em ser mártir no meio de um tiroteio, então prefere ficar em casa. Em vez de apenas representar uma ala dentro de uma “diversidade de táticas”, portanto, a violência insubordinada de um grupo tende a reduzir a eficácia do movimento de massa não-violento veja TÁTICA: Não-violência estratégica. É por isso que os opressores amam infiltrar provocadores dentro dos movimentos de resistência, para incitá-los à violência e depois colocá-los em descrédito.

Ao manter a postura não-violenta ao ser atacado pelos cães da polícia, este manifestante a favor dos direitos civis em Birmingham, no Alabama, coloca seu opressor em um dilema de decisão. 3 de maio de 1963.

Muitas pessoas mantêm a postura não-violenta principalmente por razões estratégicas: elas o fazem porque é eficaz, mais do que por uma questão de princípios. Na prática, no entanto, manter a postura não-violenta quando se é provocado pode ser difícil caso você não a considere, ao menos em parte, como um fim em si mesma. Felizmente, quase todos aspiram a uma sociedade o menos violenta possível. À medida que construímos nossos movimentos como modelos do mundo que gostaríamos de ver, a postura não-violenta deve emergir naturalmente.

A prática de manter a postura não-violenta nunca deve ser confundida com passividade ou consentimento perante a injustiça.

POSSÍVEIS PROBLEMAS: Quando uma determinada tática não-violenta não funciona, é fácil concluir que a não-violência falhou e que o único recurso é a violência. Isso é incrivelmente equivocado. Há uma enorme gama de táticas não-violentas — Gene Sharp listou 198 delas[1], e isso apenas para principiantes — que variam de atos puramente simbólicos a ações diretas planejadas para interromper a operação silenciosa de sistemas opressivos. Não existe fórmula mágica nem receita de bolo: quando uma tática não-violenta não está funcionando, tente outra, ou mais de uma ao mesmo tempo!

[1] Gene Sharp, The Politics of Nonviolent Action, Vols 1–3 (Boston: Porter Sargent, 1973). einstein.org/organizations/org/198_methods.pdf

--

--

Escola de Ativismo

A Escola de Ativismo tem a missão de fortalecer o ativismo no Brasil por meio de processos de aprendizagem. Site: http://ativismo.org.br