BELA BADERNA

TÁTICA: Ação Direta

Escola de Ativismo
3 min readDec 21, 2016

Com a contribuição de Joshua Kahn Russell

“A ação direta traz o que se deseja.”[1] — Trabalhadores Industriais do Mundo

[1] NT: A frase original em inglês (Direct action gets the goods) possui um duplo sentido: por um lado, traz a ideia de que a ação direta gera resultados e leva ao que se deseja; por outro, tem a ideia de literalmente dar de volta aos trabalhadores aqueles bens, produtos e recursos que foram expropriados sem remuneração devida pelos proprietários dos meios de produção.

USOS MAIS COMUNS
Fechar coisas; abrir coisas; pressionar um oponente; re-imaginar o que é possível; intervir em um sistema; empoderar as pessoas; defender algo bom; expor algo ruim.

A ação direta está no cerne de todo avanço humano. Parece uma afirmação grandiosa? Ela é. Mas é também graciosamente simples: ação direta significa agir coletivamente para mudar nossas circunstâncias, sem dar nosso poder a outras pessoas.

Temos visto exemplos de ação direta em histórias e parábolas indígenas, na Bíblia, Torá e Alcorão, em cada movimento de pessoas e revolução popular na História moderna. Geralmente, a ação direta é feita por pessoas com poucos recursos, que buscam se libertar de uma injustiça.

Muitas vezes as pessoas associam a ação direta com “ser preso”. Embora algumas vezes ser preso possa amplificar sua mensagem, ou ser estrategicamente necessário para atingir seu objetivo, esta não é a função da ação direta. (Na verdade, na maioria das lutas pela libertação ao longo da História, “ser capturado” é visto como uma coisa ruim!)

Da mesma forma, as pessoas muitas vezes associam ação direta com desobediência civil. Desobediência civil é uma forma específica de ação direta, que envolve violar intencionalmente uma lei porque aquela lei é injusta — por exemplo, se recusar a pagar impostos que iriam financiar uma guerra, ou se recusar a cumprir a legislação anti-imigração. Nessas circunstâncias, infringir a lei é o objetivo. Em outros tipos de ação direta, as leis podem ser quebradas, mas esse não é o objetivo. Por exemplo, nós podemos ser culpados de invasão de propriedade se pendurarmos uma faixa em um prédio, mas essa violação é incidental: nós não estávamos ali para protestar contra as leis de invasão de propriedade.

Embora associada ao confronto, a ação direta, em sua essência, é sobre poder. A ação direta inteligente avalia as dinâmicas de poder e encontra uma maneira de mudá-las.

Uma maneira de se pensar sobre isso é que existem dois tipos de poder: o dinheiro organizado e as pessoas organizadas. Nós não temos bilhões de dólares para comprar políticos e governos, mas com a ação direta, pessoas organizadas dão o troco em outra moeda: nós exploramos e aproveitamos o risco. Nós exploramos e aproveitamos nossa liberdade, nosso conforto, nosso privilégio ou nossa segurança.

Como disse Frederick Douglas: “O poder não concede nada sem uma demanda”. Malcolm X elaborou: “O poder nunca dá um passo atrás, exceto face a um poder maior”. Ao invés de dar aos outros o poder de decidir por nós, através de votos ou lobby, nós procuramos mudar as dinâmicas de poder diretamente.

TEORIA-CHAVE

LÓGICA DA AÇÃO: A ação direta é um ato físico que geralmente fala mais alto e mais profundamente do que qualquer coisa que você possa dizer ou escrever. Idealmente, você deve escolher seu alvo e planejar sua ação de forma que ela conte a história por si mesma.

POSSÍVEIS PROBLEMAS: A ação direta envolve níveis significativos de risco para todos os participantes. É necessário tomar cuidado e agir com consciência e vontade própria sobre os riscos assumidos. Uma boa coordenadora de ação distingue os riscos que consegue (e deve) minimizar, e aqueles que não consegue; e explica as possíveis consequências para todos os envolvidos.

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Escola de Ativismo

A Escola de Ativismo tem a missão de fortalecer o ativismo no Brasil por meio de processos de aprendizagem. Site: http://ativismo.org.br