BELA BADERNA

TÁTICA: Ações em massa na rua

Escola de Ativismo
4 min readDec 21, 2016

Com a contribuição de John Sellers e Andrew Boyd

USOS MAIS COMUNS
Para pressionar um oponente corporativo ou governamental com uma massa de pessoas nas ruas contando uma única história.

Todo mundo já sentiu o poder irresistível do povo em uma marcha ou ato público. Quando uma multidão se incendeia por conta de grandes músicos ou pela eloquência de um orador impetuoso, ela pode balançar. Existe uma força real nos números. Muitos de nós também já foram inspirados por uma ação direta não-violenta incrível. Quando indivíduos ou pequenos grupos decidem se colocar de maneira criativa diante das engrenagens do sistema, eles podem detonar poderosas bombas mentais em nossas psiques.

Para serem bem-sucedidas, as ações em massa precisam oferecer um jeito orgânico e autoexplicativo para que indivíduos como esses “flag-wavers”, da Praça Tahrir, participem. Foto de Rezik Teebi.

Mas quando você junta as duas coisas, e milhares de pessoas com as mais variadas histórias de vida se unem em uma ação em massa nas ruas… Aí é quando a mágica e os movimentos acontecem. Movimentos fazem ações em massa. E você precisa de um movimento altamente organizado e motivado para realizar repetidas ações em massa em uma luta crescente por mudanças.

Na primavera de 2011, um milhão de egípcios foram às ruas, ocuparam a Praça Tahrir, enfrentaram as investidas das forças de segurança uma após a outra, e depois de 18 dias agitados e frequentemente sangrentos, forçaram o presidente Hosni Mubarak a sair do poder. Em 1999, 70 mil pessoas tomaram as ruas de Seattle e de forma não-violenta interromperam a reunião ministerial da OMC, a maior reunião de negócios do mundo. Em 2010, 3 mil membros de sindicatos e seus aliados formaram um “Batalhão de Cidadãos” e cercaram um hotel no centro de Washington, que estava cheio de lobistas do setor de seguros, em uma demonstração de força durante as últimas semanas da épica batalha da reforma do sistema de saúde nos Estados Unidos.

Apesar das diferenças de escala, duração, importância política, oponentes e táticas em cada um desses três exemplos de ação em massa nas ruas, todos eles foram bem-sucedidos em seus objetivos porque tinham alguns pontos fundamentais em comum:

• interromperam o funcionamento usual dos espaços;

• tinham uma causa e uma história muito claras;

• usavam a postura da não-violência e a militância focada;

• e ofereciam uma maneira fácil dos indivíduos participarem.

Uma ação em massa no espaço público não pode ser coreografada; ela é grande demais para ser coordenada com um megafone. Na verdade, ela precisa ser amplamente auto-organizada. Para funcionar, no entanto, ela precisa de uma estrutura, modo de ação ou roteiro básico compartilhado, tanto para facilitar a auto-organização como para manter a coerência geral da ação veja PRINCÍPIO: Regras simples podem levar a grandes resultados.

As manifestações na Praça Tahrir não precisaram de um roteiro. Só precisaram de um chamado para que as pessoas se congregassem em espaços públicos.

O movimento que fechou a OMC foi construído em torno de uma coalizão fluida, costurada por um conselho de porta-vozes horizontal e democrático. Esse conselho entrou em acordo sobre uma mensagem genérica e algumas regras táticas básicas (como não-violência, responsabilidades específicas para cada grupo de coletivos, etc.). Não era um movimento coreografado, era caótico; descentralizado mas conectado.

A ação do Batalhão de Cidadãos tinha um roteiro mais rígido. Membros da coalizão planejaram e concordaram com a ação com antecedência. Ela precisava de um roteiro mais rígido porque dependia mais de encenação e da história do que se fosse o bloqueio real das atividades de um oponente. Apesar de ser primordialmente uma ação de comunicação, foi como se fosse uma ação concreta de bloqueio, porque o teatro em si era militante, e os participantes receberam um poderoso papel para desempenhar.

PRINCÍPIO-CHAVE

MOSTRE, NÃO CONTE: Ações falam mais alto que palavras. As melhores ações em massa nas ruas colocam um problema no mapa ao mobilizar milhares de pessoas de todos os tipos para se reunirem e confrontarem uma injustiça comum. Tomara que você consiga reunir as pessoas logo na cena do crime ou em um local emblemático, e literalmente mostrar a seus oponentes (e a vocês mesmos) que o povo unido jamais será vencido.

POSSÍVEIS PROBLEMAS: Na melhor das hipóteses, as ações em massa nas ruas se transformam em um caos bonito e organizado. Mas provocações (deles e nossas) podem facilmente desequilibrar esse cenário e o transformar em uma terrível batalha entre policiais e manifestantes. A menos que isso seja um objetivo preestabelecido, você precisa ter acordos, princípios e preparo firmes para garantir a segurança daqueles que responderem o seu chamado à ação.

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Escola de Ativismo

A Escola de Ativismo tem a missão de fortalecer o ativismo no Brasil por meio de processos de aprendizagem. Site: http://ativismo.org.br