BELA BADERNA

TÁTICA: Flash Mob

Escola de Ativismo
3 min readDec 21, 2016

Com a contribuição de Dave Oswald Mitchell e Andrew Boyd

USOS MAIS COMUNS
Organizar um show de dissidência com aviso de curto prazo; replicar rapidamente uma tática bem-sucedida de forma dispersa, mas coordenada; criar um momento casual de ternura e rara beleza.

O flash mob é uma ação espontânea, contagiante, que acontece em massa, de forma dispersa e sem ensaio. Os flash mobs surgiram em 2003 como uma forma de arte performática e participativa, com grupos de pessoas usando emails, blogs, mensagens de texto e o Twitter para marcar um encontro e encenar uma atividade lúdica em um local público[1]. Mais recentemente, ativistas começaram a aproveitar o potencial político dos flash mobs para organizar ações em massa de forma espontânea e em um curto prazo.

Briga de travesseiros em Wall Street, organizada pelo Newmindspace em 2009. O convite, com grande circulação, dizia simplesmente: “Traga um travesseiro para Wall Street com Broad St. às 15h. Traje de negócios, exija sua fiança”.

Recentemente os flash mobs se tornaram uma poderosa tática de protesto político, particularmente sob condições repressivas. Em meio a uma forte repressão aos protestos na Bielorrússia em 2011, por exemplo, dissidentes autodenominados “Revolução através da Rede Social” começaram a organizar manifestações de improviso em que os manifestantes simplesmente se reúnem em espaços públicos para bater palmas em uníssono[2]. O resultado foi a visão desconcertante da polícia secreta prendendo brutalmente as pessoas pelo simples ato de bater palmas — colocando em xeque a legitimidade de um regime cada vez mais irracional.

A derrubada do presidente Hosni Mubarak no Egito também envolveu táticas no estilo flash mob, mas os organizadores começaram pedindo aos manifestantes que se reunissem em becos e outros espaços mais protegidos, por questões de segurança, antes de ir para as ruas em números cada vez maiores. O blogueiro Patrick Meier explica o raciocínio por trás dessa abordagem:

“Começar com um grupo pequeno e longe dos protestos principais é uma forma segura de reunir os manifestantes. É também uma maneira de criar abordagens interativas para a dinâmica de “força pelo número”. Quanto mais pessoas lotarem ruas menores, maior a sensação de força e confiança. Começar em becos torna a iniciativa mais local. As pessoas provavelmente são vizinhas, e começam a participar porque veem seu amigo ou sua irmã na rua”[3].

Outro exemplo do uso efetivo dos flash mobs vem do UK Uncut. Em outubro de 2010, uma semana depois do governo britânico anunciar cortes massivos nos serviços públicos, 70 pessoas ocuparam a loja da Vodaphone em Londres para chamar atenção para o histórico da empresa em sonegação de impostos. A ideia viralizou rapidamente: em três dias, mais de 30 lojas da Vodaphone foram fechadas no país por flash mobs organizados via Twitter, com a hashtag #ukuncut.

O potencial revolucionário da ação dispersa, mas coordenada, usando táticas de flash mob, está apenas começando. Como Micah White escreveu na Adbusters:

“Divertido, fácil de organizar e resistente tanto à infiltração quanto à apropriação por causa da sua topologia de rede boca-a-boca, o flash mob será a próxima tática com potencial revolucionário a se popularizar. . . . Com os flash mobs, ativistas têm o potencial de infestar globalmente o capitalismo”[4].

PRINCÍPIO-CHAVE

REGRAS SIMPLES PODEM TRAZER GRANDES RESULTADOS: Seja uma guerra de travesseiro em massa (traga um travesseiro e acerte qualquer pessoa carregando outro travesseiro) ou o fechamento de um banco (entre na fila, peça ao caixa para lhe dar o saldo inteiro da sua conta em moedas de um centavo e seja extremamente educado), o convite para participar de um flash mob é fácil de compartilhar, mas quando multiplicado por dezenas ou centenas de pessoas pode levar a ações complexas, dispersas e poderosamente eficazes.

[1] O entendimento de flash mobs pela cultura popular geralmente se limita a coreografias-surpresa dançadas em público. Mas para fins de organização, essas manobras coreografadas de forma cuidadosa são mais bem descritas como “ações de guerrilha” do que como “ações relâmpago”. As características distintas de um flash mob — uma ação de massa não ensaiada, espontânea, contagiante e dispersa — têm vantagens únicas e requerem um conjunto diferente de princípios organizadores daqueles que uma coreografia-surpresa requer.

[2] “Dezenas de pessoas presas na Bielorrússia em ‘Aplauso-Protesto’” (“Dozens Arrested in Belarus ‘Clapping’ Protest), Al Jazeera English, 03 de julho de 2011.

[3] “Táticas de Resistência Civil Usadas na Revolução do Egito” (“Civil Resistance Tactics Used in Egypt’s Revolution”), irevolution, 07 de Fevereiro de 2011. irevolution.net/2011/02/27/tactics-egypt-revolution-jan25.

[4] Micah White, “Às barricadas” (“To the Barricades”), Adbusters 94 (Março/Abril 2011).

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Escola de Ativismo

A Escola de Ativismo tem a missão de fortalecer o ativismo no Brasil por meio de processos de aprendizagem. Site: http://ativismo.org.br