BELA BADERNA

TÁTICA: Pegadinha

Escola de Ativismo
3 min readDec 21, 2016

Com a contribuição de Mike Bonanno

“Às vezes é preciso uma mentira para expor a verdade.” Sun Tzu, A Arte da Guerra

USOS MAIS COMUNS
Para criar uma ilusão momentânea que expõe injustiças por meio de exageros e sátiras, ou demonstra como uma outra realidade é possível.

Em 15 de abril de 2011, quando a General Electric anunciou que a empresa iria devolver sua restituição de impostos ilegítima (embora legal) no valor de U$3,2 bilhões, e que iria também pressionar pelo fim dos buracos na legislação tributária que permitiram que eles escapassem do pagamento de alguns impostos, as coisas pareciam boas demais para ser verdade. Quando foi a última vez que uma grande empresa norte-americana assumiu um papel de liderança ética tão grande?

Hummm, nunca! O anúncio era uma pegadinha, criada pelo grupo de justiça tributária U.S. Uncut, com a ajuda do The Yes Lab. Naquela ocasião, o elemento central da ação era uma simples nota à imprensa que se passava por uma nota real enviada pela General Electric. Um repórter da agência internacional Associated Press, tão ávido quanto o resto dos Estados Unidos em acreditar que a história fosse verdade, pegou a nota e disparou para outros veículos. Só levou alguns minutos para que alguém a desmascarasse, mas durante a bagunça que ela criou na mídia (incluindo uma perda temporária de U$3 bilhões no valor das ações da GE), o U.S. Uncut conseguiu expor sua mensagem, em uma escala que normalmente só é possível para quem pode pagar por esse privilégio.

Pegadinhas como essa são um jeito de “comprar” tempo de mídia pelo qual os ativistas normalmente não poderiam pagar. Ao invés de reclamar que a imprensa está montada para dar voz aos interesses dos poderosos veja TEORIA: O Modelo da Propaganda, as pegadinhas colocam essa tendência a seu favor. Ao falar como se fosse um dos poderosos, e contando uma história ainda mais interessante do que a que eles normalmente contam, é possível se aproveitar de um púlpito bastante grande. Depois que a pegadinha é revelada (normalmente dentro de minutos ou horas), os ativistas podem se explicar ao público, com a ajuda de um número geralmente massivo de jornalistas trazidos pela peça que acabou de ser pregada nos poderosos.

Liz Cole, Scott Beiben e Andy Bichlbaum mostram a edição-pegadinha “Termina Guerra no Iraque” do New York Times.

Normalmente é melhor revelar a pegadinha logo a seguir. Aqui o principal objetivo é levar mais verdade para mais pessoas. No Yes Lab, trabalhamos com um princípio: Nunca deixe uma mentira circular. Esse princípio é o oposto do modus operandi dos que detêm o poder. As grandiosas pegadinhas deles — todas, de simples ações de greenwash até complexas conspirações para subverter a democracia[1] — não foram feitas para serem contadas. Os ativistas, por sua vez, normalmente revelam suas pegadinhas o mais rápido possível. Por falar nisso, a epígrafe desse capítulo não é do Sun Tzu. É da capa do DVD The Yes Men Fix the World.

PRINCÍPIO-CHAVE

USE O TRUQUE DA MENTE JEDI: Com nada mais do que um site, uma linha de telefone e um pouco de presença de espírito, qualquer um pode ser qualquer um. Use a Força!

POSSÍVEIS PROBLEMAS: Há sempre uma parte da população que não gosta da ideia de uma mentira, independentemente da intenção. Se você quer atingir esse pequeno grupo, certinho, e normalmente de esquerda, talvez seja melhor pensar duas vezes.

[1] Em 1991, a empresa de relações públicas Hill e Knowlton criou uma história falsa em nome do governo do Kwait sobre soldados iraquianos retirando bebês prematuros de incubadoras após a invasão do país. A história e seus testemunhos fabricados fizeram com que o presidente George Bush ganhasse o apoio que precisava da população norte-americana para invadir o Iraque. Aquela pegadinha não foi feita pra ser revelada, mas graças a jornalistas investigativos, a verdade finalmente veio à tona. E isso é só um exemplo. Para ver mais, acesse gregpalast.com.

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Escola de Ativismo

A Escola de Ativismo tem a missão de fortalecer o ativismo no Brasil por meio de processos de aprendizagem. Site: http://ativismo.org.br