BELA BADERNA

TEORIA: Anti-opressão

Escola de Ativismo
4 min readDec 25, 2016

Com a contribuição de Lisa Fithian e Dave Oswald Mitchell

“Se você veio me ajudar, está perdendo seu tempo. Mas se você veio porque sua libertação está ligada à minha, então vamos trabalhar juntas.”— Lila Watson

RESUMO
A prática anti-opressão fornece uma estrutura para lidar de forma construtiva e alterar dinâmicas opressivas que aparecerem em nossa forma de organização.

ORIGENS

Enquanto houver opressão, haverá pessoas trabalhando para acabar com ela. Nas últimas décadas, o Highlander Center e o People’s Institute for Survival and Beyond têm trabalhado no combate ao racismo e pela construção da liberdade coletiva. Depois de Seattle, uma nova onda de trabalho começou, aprofundado a cada ano com novos coletivos emergentes e novas práticas aprimoradas. O trabalho descrito aqui foi aprendido ao longo do tempo com muitos professores.

Grupos ativistas por vezes cometem o erro de presumir que a opressão (o exercício injusto de poder ou autoridade) é algo que apenas os outros fazem; que nós somos inerentemente anti-opressores só por causa da nossa intenção de acabar com as estruturas opressivas. Infelizmente, a situação é muito mais complexa e ignoramos essa complexidade por nossa conta e risco.[1]

Nossas ações opressoras nos diminuem, nos dividem e inibem nossa habilidade de organizar amplos movimentos de emancipação.

Fomos socializados em culturas fundadas em formas de opressão múltiplas e sobrepostas, que geralmente nos conduzem a perpetuar, inadvertidamente, comportamentos, situações e estruturas desumanas.

Para construir um mundo livre da dominação, apresentamos para discussão os seguintes princípios e práticas, na esperança de que possam fornecer uma base sólida para o avanço do nosso trabalho e o aprofundamento das nossas relações interpessoais.

Princípios

• Poder e privilégios podem aparecer em nossas dinâmicas de grupo de formas destrutivas. Para o bem de todos, devemos contestar palavras e ações que marginalizem, excluam ou desumanizem os outros.

• Só podemos identificar as formas de poder e privilégio quando estamos conscientes e comprometidos a entender como a supremacia branca, o patriarcado, o classismo, o heterossexismo e outros sistemas de opressão afetam todos nós.

• Até estarmos totalmente comprometidos com a prática anti-opressora, todas as formas de opressão vão continuar a dividir e enfraquecer nossos movimentos.

• Desenvolver práticas anti-opressoras é trabalho de uma vida toda. Uma única palestra nunca será suficiente para desaprender nossa socialização em uma cultura construída com base em múltiplas formas de opressão.

• Diálogo, discussão e reflexão são algumas das ferramentas com as quais podemos superar atitudes, comportamentos e situações opressoras em nossos grupos. O trabalho anti-opressão requer escuta ativa, não defensiva, e comunicação respeitosa.

Práticas pessoais

• Desafie a si mesmo a ser bravamente honesto e aberto, disposto a correr riscos e se tornar vulnerável para conseguir lidar de cabeça erguida com o racismo, o sexismo, a homofobia, a transfobia e outras dinâmicas opressoras.

• Quando testemunhar, sentir ou cometer um abuso de poder ou opressão, lide com a situação da forma mais proativa possível, seja sozinha ou com poucos aliados, mantendo em mente que o objetivo é encorajar a mudança positiva.

• Conteste o comportamento, não a pessoa. Seja sensível e promova o diálogo aberto.

• Quando alguém faz uma crítica em um ambiente opressor, encare como um presente em vez de um ataque. Dê às pessoas o benefício da dúvida.

• Esteja disposto a perder um amigo, mas tente não “jogar fora” pessoas que pisaram na bola. Ajude-as a assumir a responsabilidade por reparar seus erros de comportamento e esteja disposto a retribuir com perdão.

• Assuma o trabalho “chato” que geralmente recai sobre as mulheres, especialmente as negras. Isso inclui o trabalho de cozinhar, limpar, arrumar, atender telefones, enviar emails, anotar recados, tomar notas, fazer o trabalho de apoio, enviar cartas.

• Entenda que você se sentirá desconfortável quando assumir sua parte na opressão, e perceba que essa é uma parte necessária do processo. Nós temos que nos apoiar e ser gentis uns com os outros nesse processo.

• Não se sinta culpado, sinta-se responsável. Ser parte do problema não significa que você não possa ser uma parte ativa da solução.

• Invista tempo e energia para construir relações saudáveis, tanto pessoais quanto políticas.

Práticas organizacionais

• Invista tempo em facilitar discussões sobre discriminação e opressão.

• Estabeleça objetivos anti-opressores e avalie continuamente se você os está alcançando ou não.

• Crie oportunidades para as pessoas desenvolverem habilidades e práticas anti-opressoras.

• Promova o desenvolvimento de grupos de forma igualitária, priorizando o compartilhamento de habilidades e uma divisão equitativa de papéis, responsabilidades e reconhecimento.

• Respeite diferentes estilos de liderança e comunicação.

• Não pressione pessoas historicamente marginalizadas a fazerem coisas por serem deste grupo oprimido (apenas como participação simbólica); baseie-se em trabalho, experiência e habilidades.

• Faça um compromisso coletivo onde todos sejam responsáveis por seu comportamento para que a organização possa ser um local seguro e estimulante para todos.

[1] Este artigo foi adaptado de “Anti-Opression Principles and Practices”, de Lisa Fithlian, ele próprio compilado de “Anti-Racism Principles and Practices”, do RiseUp DAN-LA, Overcoming Masculine Oppression de Bill Moyers e o FEMMAFESTO de um grupo de afinidade de mulheres na Filadélfia, Estados Unidos.

--

--

Escola de Ativismo

A Escola de Ativismo tem a missão de fortalecer o ativismo no Brasil por meio de processos de aprendizagem. Site: http://ativismo.org.br