BELA BADERNA

TEORIA: Espetáculo ético

Escola de Ativismo
2 min readDec 25, 2016

Com a contribuição de Stephen Duncombe

“O tédio sempre é contrarrevolucionário. Sempre.”— Guy Debord

RESUMO
Para serem politicamente eficazes, ativistas precisam se envolver em um espetáculo. Seguindo certos princípios, nossos espetáculos podem ser éticos, emancipatórios e fiéis à realidade.

ORIGENS

Andrew Boyd e Stephen Duncombe

O conceito de espetáculo ético oferece uma linha de pensamento sobre o uso tático e estratégico de sinais, símbolos, mitos e fantasias para o avanço de metas progressivas e democráticas. Introduzidas pela primeira vez em um artigo de Andrew Boyd e Stephen Duncombe em 2004, e depois expandidas no livro ‘Dream’ (‘Sonho’), de Duncombe, em 2007, as premissas da teoria são: (1) a política é tanto um caso de desejo e fantasia quanto de razão e racionalidade, (2) vivemos em uma era intensamente mediada (o que o situacionista Guy Debord chamou de ‘Sociedade do Espetáculo’), (3) para serem politicamente eficazes, os ativistas precisam entrar no âmbito do espetáculo, e (4) intervenções espetaculares têm o potencial de serem tanto éticas quanto emancipatórias.

Um espetáculo ético é uma ação simbólica que visa mudar a cultura política em direção a valores mais progressistas. Um espetáculo ético deve se esforçar para ser:

Participativo: Buscando empoderar os participantes e espectadores, com os organizadores no papel de facilitadores.

Aberto: Sendo receptivo e adaptável à mudança de contextos e às ideias dos participantes.

Transparente: Envolvendo a imaginação dos espectadores sem tentar iludir ou enganar.

Realista: Usando a fantasia para iluminar e dramatizar as dinâmicas de poder e as relações sociais do mundo real que, de outra forma, tendem a permanecer escondidas mesmo podendo ser vistas.

Utópico: Celebrando o impossível — e, portanto, ajudando a torná-lo possível.

Essa mistura de duas imagens icônicas captura as tensões e contradições do espetáculo ético.

Os progressistas tendem a desconfiar de qualquer coisa que pareça propaganda ou marketing — é isso que o outro lado faz. Nós tendemos a acreditar que proclamar a Verdade nua e crua é suficiente: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Mas esperar que a verdade nos liberte é uma política preguiçosa. A verdade não se revela pela virtude de ser a verdade: ela precisa ser contada, e bem contada. Ela deve ter histórias tecidas em torno dela, obras de arte feitas sobre ela; e deve ser comunicada de formas novas e atraentes, que possam ser passadas de pessoa a pessoa, mesmo que isso demande voos de novas e elaboradas mitologias. O argumento aqui não é a favor de um movimento progressista que iluda ou empobreça sua mensagem, mas a favor da propaganda da verdade. Este é o trabalho do espetáculo ético.

--

--

Escola de Ativismo

A Escola de Ativismo tem a missão de fortalecer o ativismo no Brasil por meio de processos de aprendizagem. Site: http://ativismo.org.br