BELA BADERNA

TEORIA: Paradoxo da identidade política

Escola de Ativismo
3 min readDec 25, 2016

Com a contribuição de Jonathan Matthew Smucker

RESUMO
Uma identidade de grupo oferece aos ativistas em luta uma comunidade coesa, mas também tende a fomentar uma subcultura que pode ser alienante para o grande público. Balancear essas duas tendências é crucial para manter o trabalho de um grupo, organização ou movimento eficaz.

ORIGENS

Formulado por Jonathan Matthew Smucker, com influência de Robert Putnam em criar vínculos e construir pontes, Antonio Gramsci em estratégia hegemônica e Frederick D. Miller em encapsulação.

Qualquer movimento social sério precisa de uma identidade de grupo igualmente séria que encoraje um núcleo de participantes a contribuir com um grau excepcional de compromisso, sacrifício e heroísmo ao longo do curso de uma luta prolongada. Uma identidade forte de grupo é, porém, uma faca de dois gumes. Quanto mais forte a identidade e coesão do grupo, mais provável será que as pessoas se tornem alienadas de outros grupos e da sociedade. Isto é o paradoxo da identidade política.

O paradoxo da identidade política sugere que enquanto grupos políticos precisam de uma identidade interna forte para fomentar o comprometimento necessário para lutas políticas eficazes, essa mesma coesão tende a isolar o grupo. Grupos isolados têm grandes dificuldades de atingir objetivos políticos.

Isso é verdadeiro para todos os grupos, mas tende a ter consequências específicas para um grupo envolvido em lutas políticas, que não apenas tem que estimular uma identidade interna forte, mas também tem que conquistar aliados.

A tendência ao isolamento pode aumentar muito rapidamente em grupos políticos, já que uma luta de oposição pode estimular uma psicologia de oposição. Ativistas que encontram o tipo de resistência brutal que o movimento por direitos civis encontrou, por exemplo, têm um árduo caminho pela frente. Por um lado, os participantes precisam contar uns com os outros mais do que nunca para encontrar força e apoio. Eles sentem uma coesão irresistível à sua identidade de grupo nesses momentos de conflito intenso. Por outro lado, precisam manter-se orientados pelo mundo lá fora, para ficarem conectados com uma base ampla e crescente. Isso é difícil de fazer até mesmo quando líderes estão totalmente treinados para a tarefa; imagine quando não estão preparados, como normalmente é o caso.

Ao vestir capacetes de choque, quebrar vidraças e optar por embates com a polícia durante os protestos dos Dias de Fúria que foram organizados às vésperas do levante da Convenção Democrática de 1969 em Chicago, a facção Weatherman do grupo SDS (Estudantes por uma Sociedade Democrática, na sigla em inglês) afastou muitos possíveis aliados.

Tome como exemplo os Estudantes por uma Sociedade Democrática (Students for a Democratic Society — o SDS original que se desmantelou dramaticamente em 1969). No centro da épica implosão desta massiva organização estudantil — e por trás dos argumentos racionais que os líderes estavam atirando uns contra os outros — estava o paradoxo da identidade política. Os principais líderes estavam encapsulados em sua identidade de oposição e foram ficando cada vez mais distantes. Eles perderam a capacidade e a disposição de se relacionar com o grupo maior — um grande número de estudantes no momento da implosão — e mais ainda com a sociedade como um todo. Alguns dos mais comprometidos possíveis líderes daquela geração começaram a dar mais importância em se refugiar com alguns poucos camaradas pra fazer bombas do que em organizar as massas de estudantes para que agissem de maneira coordenada.

Essa é a tendência ao isolamento levada ao extremo. Radicais dedicados se isolaram, como guerrilheiros sozinhos em território inimigo. Pode até ter parecido ser glorioso, mas foi uma missão suicida.

O paradoxo da identidade política trata da necessidade de grupos políticos desenvolverem tanto vínculos quanto articulações fortes. Sem um forte vínculo dentro do grupo, seus membros sentirão falta do grau de comprometimento necessário para lutas mais sérias. Mas sem a criação de articulações fortes para além do grupo, ele se tornará insular e isolado demais para criar alianças extensas.

Bons líderes têm que realizar um ato de equilíbrio extraordinário entre as demandas conflitantes de construir um forte senso de identidade dentro de seus grupos e de se conectar com aliados e possíveis aliados além de seus grupos.

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