BELA BADERNA

TEORIA: Pilares de apoio

Escola de Ativismo
3 min readDec 25, 2016

Com a contribuição de Eric Stoner

RESUMO
O poder não vem apenas da capacidade de usar a força daqueles que comandam, mas também do consentimento e da cooperação daqueles que são comandados, elementos que podem ser voluntariamente e não-violentamente retirados ao identificar, expor e enfraquecer os “pilares de apoio” de quem comanda — as instituições e organizações que sustentam esse poder.

ORIGENS

Gandhi, Gene Sharp, Robert Helvey

A sabedoria convencional diz que o poder reside nas mãos de quem está no topo, e que quando o negócio aperta, “o poder político cresce do cano de uma arma”, como na célebre frase de Mao. Se for assim, então a única forma de derrotar um oponente violento é fazendo uso de uma violência ainda maior.

Na raiz da ação não-violenta há, porém, um entendimento diferente da natureza do poder — um entendimento que vira essa sabedoria convencional de cabeça para baixo. Segundo esse entendimento o poder depende, em última análise, da cooperação e obediência de um grande número de pessoas agindo por meio de instituições que constituem o Estado. Esses são os pilares de apoio.

Alguns desses pilares, como o exército, a polícia e os tribunais, são coercitivos por natureza, constrangendo à obediência por meio da força ou da ameaça, enquanto outros pilares, como a mídia, o sistema educacional e as instituições religiosas, apoiam o sistema com sua influência sobre a cultura e a opinião pública. Portanto, mesmo o poder dos líderes mais carismáticos ou mais implacáveis depende do apoio de instituições-chave, sendo em si vulneráveis à ação popular ou à retirada de apoio da população em geral.

Uma vez que as pessoas decidam não mais aceitar o status quo e comecem a resistir, o balanço de poder muda. Por exemplo, quando milhões de norte-americanos participam do bem-sucedido boicote nacional das uvas, que durou cinco anos e foi liderado por Cesar Chavez, a fim de melhorar o pagamento e as condições de trabalho de trabalhadores rurais explorados; ou quando dezenas de milhares de ativistas efetivamente fecham a reunião da Organização Mundial do Comércio em Seattle, em 1999, bloqueando as ruas e entradas do centro de convenções; ou quando milhares de soldados dos EUA se recusam a se apresentar ou reapresentar para as guerras no Iraque e no Afeganistão — em todas essas situações, o poder dos poderosos é enfraquecido e pode, em situações extremas, se desintegrar completamente.

Cesar Chavez em um supermercado liderando um protesto pelo boicote a uvas. A retirada massiva de apoio por meio de táticas como esse boicote do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (United Farm Workers) pode ser extremamente eficaz para pressionar os poderosos.

Para os ativistas, a principal lição a se tirar desse conceito é identificar os pilares de apoio de um oponente, determinar quais e como podem ser conquistados, veja PRINCÍPIO: Mude o espectro de aliados e depois começar a trabalhar para trazê-los para o seu lado, ou ao menos para neutralizá-los, para que a base que sustenta seu oponente comece a desmoronar.

No fim das contas, o poder não reside nas mãos de presidentes, generais ou bilionários, mas nas mãos de milhões de pessoas comuns que mantêm a sociedade girando normalmente no dia a dia, e que podem simplesmente fazê-la parar se assim escolherem. Esse é o significado do slogan do poder do povo. Uma das principais razões para que tantas injustiças persistam não é o fato dos poderosos poderem simplesmente fazer o que quiserem com impunidade, mas sim o fato de que a maioria das pessoas ignora o poder que podem empunhar ao retirar seu consentimento veja TÁTICA: Greve geral.

Esse entendimento de poder tem sido repetidamente sustentado nas décadas recentes, quando inúmeros ditadores e regimes extremamente repressivos foram retirados do poder por pessoas desarmadas e com mínima violência, mas com muita coragem e criatividade. Essas bem-sucedidas lutas não-violentas simplesmente não podem ser explicadas por alguém que veja a violência como o único, ou mesmo o principal, mecanismo de poder.

--

--

Escola de Ativismo

A Escola de Ativismo tem a missão de fortalecer o ativismo no Brasil por meio de processos de aprendizagem. Site: http://ativismo.org.br