TÁTICA: Não-violência estratégica

Escola de Ativismo
3 min readDec 21, 2016

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Com a contribuição de Starhawk e da Alliance of Community Trainers (Aliança de Treinadores Comunitários)

USOS MAIS COMUNS
Para criar uma estrutura para ações diretas de base ampla e que contribuam para a construção de movimentos amplos, diversos, inclusivos e eficazes.

Por mais de uma década, questões de violência, destruição de propriedade e táticas de confronto geralmente tenderam a ser debatidas pelo ângulo da diversidade de táticas, mas chegou a hora de buscarmos um novo modelo. A diversidade de táticas se torna uma maneira fácil de evitar discussões sobre as questões de estratégia e responsabilidade. Ela nos livra do trabalho difícil que é debater posições e fazer acordos sobre como queremos atuar conjuntamente. Ela se torna um código para “qualquer coisa serve”, e torna impossível para nossos movimentos responsabilizar alguém por suas ações.

Um estrutura que pode servir melhor a nossos propósitos é a da ação direta não-violenta estratégica. Dentro de uma estrutura de não-violência estratégica, os grupos fazem acordos claros sobre quais táticas serão usadas para uma determinada ação. Esse modelo é estratégico — não há julgamento moral se a violência é apropriada ou não, e não exige nosso comprometimento com o pacifismo de Gandhi por toda a vida, mas o modelo diz “é assim que nós concordamos em agir desta vez”. É uma decisão ativa, não passiva. Ela busca criar um dilema para a oposição veja PRINCÍPIO: Coloque seu oponente em um dilema de decisão, e dramatizar a diferença entre os seus valores e os deles.

A ação direta não-violenta estratégica tem poderosas vantagens:

Nós fazemos acordos sobre quais tipos de ações vamos realizar, e nos responsabilizamos por mantê-los. Fazer acordos é empoderador. Se eu sei o que esperar em uma ação, posso fazer uma escolha sobre participar ou não. Nós não colocamos pessoas relutantes na posição de serem responsabilizadas por atos com os quais elas não se comprometeram e os quais não apoiam.

Ao manterem o acordo de permanecerem com a não-violência, esses manifestantes pacíficos do Occupy foram capazes de dramatizar diferenças entre seus valores e aqueles do tenente John Pike e da administração da UC Davis.

No processo de chegar aos acordos, nós ouvimos os pontos de vista divergentes uns dos outros. Não evitamos os desentendimentos dentro do grupo, mas aprendemos a debatê-los livremente, de maneira apaixonada e respeitosa.

Nos organizamos abertamente, sem medo, porque acreditamos em nossas ações. Pode ser que violemos alguma lei para seguir as leis superiores da consciência. Não buscamos punição, nem aceitamos o direito do sistema de nos punir, mas encaramos as possíveis consequências de nossas ações com coragem e orgulho.

Como nos organizamos abertamente, podemos convidar novas pessoas para nosso movimento e ele pode continuar a crescer. No momento em que instituímos uma cultura de segurança no meio de um movimento de massa, o movimento começa a se fechar em si e encolher.

Apesar da estrutura de ação direta não-violenta não nos deixar “seguros”, ela nos permite tomar decisões claras sobre os tipos de ações pelos quais nos colocamos em risco. Dito isso, nós não podemos controlar o que a polícia faz e eles não precisam de uma provocação direta para nos atacar.

Uma estrutura de ação direta não-violenta estratégica faz com que rejeitar a provocação seja mais fácil. Nós sabemos com o que concordamos — e qualquer um que estimule outras maneiras de agir pode ser lembrado do que foi acordado, ou pode ser rejeitado.

Existe bastante espaço nesta luta para uma diversidade de movimentos e uma variedade de ações e maneiras de se organizar. Alguns optam pela não-violência de Gandhi ao pé da letra, outros podem optar pela resistência enfática. Mas para os movimentos que a escolhem, a ação direta não-violenta estratégica é uma estrutura que permite que movimentos de base ampla cresçam em diversidade e poder.

PRINCÍPIO-CHAVE

SUBA O TOM ESTRATEGICAMENTE: Ativistas tendem a se tornar cada vez mais radicais quando expostos à repressão e injustiça. Ativistas jovens, principalmente, vão buscar maneiras cada vez mais radicais de desafiar as estruturas às quais se opõem. Essas tendências são valiosas e devem ser honradas e apoiadas, mas nem todas as ações radicais são igualmente eficazes. Ao traçar um caminho estratégico para subir o tom das ações, criamos espaço para os mais radicais entre nós, sem deixar de lado os mais cautelosos do nosso meio.

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Escola de Ativismo

A Escola de Ativismo tem a missão de fortalecer o ativismo no Brasil por meio de processos de aprendizagem. Site: http://ativismo.org.br