BELA BADERNA

TÁTICA: Ocupação

Escola de Ativismo
4 min readNov 1, 2016

Com a contribuição de Joshua Kahn Russell e Arun Gupta

“Perdeu o emprego, encontrou uma ocupação.” Occupy Wall Street

USOS MAIS COMUNS
Para tomar espaços públicos; para pressionar um oponente; para retomar ou ocupar uma propriedade; para defender contra o “desenvolvimento”; para reivindicar a soberania indígena.

A primeira greve trabalhista de que se tem registro foi uma espécie de ocupação: mais de 3000 anos atrás, no Egito antigo, os trabalhadores que construíam as tumbas do vilarejo de Deirel-Medina, no meio do deserto, repetidamente ocuparam templos para protestar contra a recusa do Faraó Ramsés III a fornecer provisões adequadas. Desde então, é possível encontrar exemplos de ocupações públicas ao longo da História.

Na Inglaterra do século XVII, por exemplo, um grupo chamado Diggers formou uma comunidade agrária utópica baseada no uso comum da terra. Trabalhadores, soldados e cidadãos estabeleceram a Comuna de Paris em 1871. Nos Estados Unidos, durante o Grande Levante de 1877, trabalhadores ferroviários em greve e seus apoiadores ocuparam ferrovias em todo o país. Uma onda de ocupações de fábricas em meados dos anos 30 levou às famosas greves de Flint, em 1936, que garantiram o reconhecimento de sindicatos a centenas de milhares de trabalhadores da indústria automobilística.

As ocupações são uma tática popular utilizada pelos movimentos sociais para tomar e defender espaços. Outras táticas de ação direta como sit-ins, bloqueios, ou cartazes, também podem ser usadas para apoiar a ocupação; em algumas ocasiões sabe-se que grandes ocupações nasceram de táticas menores, como grupos de pessoas sentando-se em um local e recusando-se a sair até obter uma solução.

Apesar do termo poder ser usado pra se referir a um opressor que invadiu ou anexou um território ou população (“ocupou a América do Norte / Ilha da Tartaruga”, ou “ocupou a Palestina”), a tática de ocupação é normalmente usada por estes mesmos grupos para reivindicar seu direito àquele território: por exemplo, a ocupação da Ilha de Alcatraz em 1969 pelo grupo Indians of All Tribes, ou quando a comunidade Mendota Mdewakanton Dakota, o Movimento de Índios Americanos e o grupo Earth First! realizaram uma ocupação de 16 meses para proteger o Parque Estadual de Minnehaha da construção de uma estrada que passaria por terras consideradas sagradas.

A lógica de ação de muitas dessas ocupações é a de que as pessoas estão retomando espaços que são seus, o que expõe grandes roubos. Essa mesma lógica de ação pode ser aplicada a estudantes que tomam um prédio que deveria servir a eles (por exemplo, no final dos anos 60, quando estudantes afroamericanos ocuparam prédios de universidades em todo o país levando à criação de muitos departamentos de Estudos Afro-Americanos / Étnicos), ou pode ser aplicada a ambientalistas protegendo áreas que deveriam ser bens públicos, ou trabalhadores ocupando a fábrica em que trabalham.

Apesar das ocupações variarem em estilo e forma, elas geralmente possuem dois componentes: 1) um foco na logística para manter um acampamento, ato público semipermanente, ou sentar-se em um local e recusar-se a sair, o que exige um cuidado com as necessidades de comida, abrigo e proteção contra ações policiais, e que pode normalmente ser uma experiência profundamente politizadora, e 2) uma campanha pública de pressão que coloque seu oponente em um dilema de decisão veja PRINCÍPIO.

O local escolhido para uma ocupação normalmente determina se ela será bem-sucedida. Diversas ponderações podem pesar na decisão, como significado simbólico, habilidade de atrapalhar concretamente seu oponente, a habilidade logística de manter a ocupação, bem como visibilidade pública e informações técnicas sobre a posse legal. Historicamente, as ocupações prestaram-se à espontaneidade, mas as mais duradouras tendem a ser bem planejadas.

Grupos como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Via Campesina apoiam comunidades camponesas na ocupação e retomada de propriedades ociosas para uso comum ou simples subsistência. Nos EUA, grupos como o Take Back the Land usam o mesmo princípio para execuções de hipoteca, defendendo a moradia como direito humano. No movimento ambientalista, tree-sits são um exemplo comum de como essa tática vem sendo usada para proteger florestas do desmatamento. Movimentos sem-teto em toda a Europa tem retomado edifícios abandonados e transformado esses espaços em moradias e centros comunitários na tentativa de passar despercebidos até que possam pedir legalmente sua posse.

As ocupações ameaçam, por sua natureza, a legitimidade de um oponente, porque demonstram a inabilidade de quem detém o poder de manter o status quo. Elas também servem para expor a natureza arbitrária, e muitas vezes injusta, dos regimes de propriedade privada.

PRINCÍPIO-CHAVE

PONTOS DE INTERVENÇÃO: Diferentes pontos de intervenção vão gerar diferentes tipos de ocupação. Uma ocupação de uma fábrica é uma intervenção no ponto de produção que busca interromper fisicamente (ou reiniciar) uma atividade econômica. Outras ocupações, como a do Wisconsin State Capitol, ocorrem no ponto de decisão. O Occupy Wall Street começou como uma intervenção no ponto de suposição: ocupar o Parque Zuccotti não apresentava uma inconveniência física para ninguém em Wall Street – a princípio. Até as barracas começarem a ser armadas, era só um parque perto de alguns bancos. Depois se transformou em um local de atos públicos, onde era possível enfraquecer as suposições do poder econômico que não assume responsabilidades e começar a se organizar contra oponentes específicos (bancos, bolsa de valores, júris etc.) em outros pontos de intervenção. Veja TEORIA: Pontos de intervenção.

POSSÍVEIS PROBLEMAS: É difícil manter ocupações indefinidamente. Tenha um plano — inclusive um plano de retirada.

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A Escola de Ativismo tem a missão de fortalecer o ativismo no Brasil por meio de processos de aprendizagem. Site: http://ativismo.org.br